Atalhos ou rodovias celestiais podem impulsionar exploração espacial
Um artigo científico sobre o que os pesquisadores chamaram de super-rodovias ou atalhos celestiais causou euforia nesta semana no Brasil. Muita gente está achando que a descoberta se refere a algum tipo de propulsão exótica de foguetes ou, quem sabe, que virou realidade alguma tecnologia saída da ficção científica, como a velocidade de dobra ou a navegação por buracos de minhoca. Mas não é bem assim.
A euforia é em parte justificável, porque sim: a descoberta pode realmente impulsionar a navegação e a exploração espacial, principalmente para além de Júpiter. Embora pareça novidade, o artigo denominado “The Arches of Chaos in the Solar System” (Os Arcos do Caos no Sistema Solar, em tradução livre) foi publicado em novembro do ano passado na revista ScienceMag, da Associação Americana para o Avanço da Ciência (American Association for the Advancement of Science). E, na verdade, é uma espécie de amplificação do conceito de assistência gravitacional (ou efeito estilingue), já bem conhecido dos projetistas espaciais, que usam isso para dar impulso ou alterar a trajetória das sondas terrestres.
Muito mais abrangente, o artigo sobre os “arcos do caos” é resultado da pesquisa liderada por Natasa Todorovic, da Universidade de Belgrado, em coautoria com Di Wu, da Universidade da Califórnia (San Diego) e Aaron J. Rosengren, da Universidade do Arizona. Usando computação pesada e complicados algoritmos baseados na chamada “Teoria do Caos” (um ramo da matemática que trata de sistemas grandes, complexos e dinâmicos), os astrônomos conseguiram identificar padrões de influência e deslocamentos na forma de arcos espalhados por corredores imaginários em quase todo o sistema solar.
As forças gravitacionais resultantes das interações entre todos os planetas nestes corredores imaginários são capazes de acelerar rapidamente os objetos que entram nessas regiões e, por isso, permitiriam deslocamentos muito mais rápidos de um extremo a outro do sistema solar. Eles encontraram nesses corredores o que denominaram de estruturas em arcos invisíveis, apelidando-os de super estradas, super rodovias ou atalhos celestiais. As estruturas de arco mais notáveis e significativas parecem estar ligadas a Júpiter, obviamente pelas enormes forças gravitacionais que o planeta exerce.
Viagem transnetuniana em apenas 10 anos
Segundo os cálculos da equipe, as rotas gravitacionais resultantes desses arcos e corredores podem conduzir cometas e asteroides próximos de Júpiter à distância de Netuno em menos de dez anos. Ou deslocar objetos por 100 unidades astronômicas em menos de um século. Para se ter uma ideia, uma unidade astronômica é a distância entre a Terra e o Sol, ou 149.597.870,7 km. São números impressionantes comparados com as centenas de milhares de anos geralmente necessários para os deslocamentos de corpos sem propulsão no Sistema Solar.
“As órbitas dessas variedades [de arcos] encontram Júpiter em escalas de tempo rápidas, onde podem ser transformadas em trajetórias colisionais ou de escape, alcançando a distância de Netuno em apenas uma década. Todos os planetas geram variedades semelhantes que permeiam o Sistema Solar, permitindo o transporte rápido por toda parte, uma verdadeira autoestrada celestial” escreveu a equipe no artigo original.
Os autores ainda querem entender melhor as aplicações práticas dessa rede de rodovias celestiais, principalmente aquelas mais próximas da Terra, e acreditam que elas podem ser a chave para a criação de rotas rápidas para viagens espaciais que podem levar a humanidade mais longe, mais rápido e usando menos combustível. Elas podem representar um grande impulso à expansão da exploração espacial. Além disso, o conhecimento dos “arcos do caos” também deverá ser útil para entender e monitorar as rotas de objetos espaciais como cometas e asteroides potencialmente perigosos para a Terra.
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