Da Química à Ufologia
Considerado o todo poderoso da Ufologia brasileira por pesquisadores e interessados no assunto, Ademar José Gevaerd, aos 35 anos, é sem dúvida um dos maiores divulgadores da Ufologia no Brasil e no mundo. A partir de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Gevaerd edita a única revista impressa no país que trata exclusivamente de discos voadores e fenômenos extraterrestres: a “Revista UFO”. Faz o que poderia ser chamado de Ufologia profissional, tendo na publicação seu prazer e seu sustento.
Após 12 anos de batalhas, iniciando com o lançamento da revista “Ufologia Nacional e Internacional”, depois “Parapsicologia Hoje” e “PSI-UFO”, com altos e baixos pelo caminho, ele hoje conta com uma estrutura que faz inveja até a editores estrangeiros. No escritório da Revista UFO, os funcionários –entre os quais três redatoras– são todos registrados e “ganham em dia”, como faz questão de frisar o editor e dono do veículo. O Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), criado junto com suas publicações, tem o mérito de ser um dos únicos grupos no mundo a pagar funcionários.
Apesar de muito conhecido entre os colegas de pesquisa –a maioria das figuras de grande expressão na Ufologia nacional faz parte da ‘Equipe UFO’, assim denominada por ele– pouca gente que lê sua revista ou o conhece da Ufologia imagina que sua fixação por Química chegou a ser tão forte quanto seu interesse por discos voadores.
Durante visita à cidade de São Paulo, empenhado em discutir com alguns ufólogos detalhes da organização do 1º Fórum Mundial de Ufologia, que promete ser um mega-evento sem precedentes no que diz respeito à discussão do fenômeno UFO (veja seção Agenda), Gevaerd conversou demoradamente com a reportagem da Revista Vigília no hotel onde ficou hospedado, no Largo do Arouche.
Descontraído e bem humorado o tempo todo, falou sobre sua vida, a opção pela Ufologia e pontos polêmicos dos bastidores da pesquisa, como os constantes rachas. Como próprio Gevaerd lembra: “existem mais na Ufologia do que nas ruas à noite”. E fala com o conhecimento de causa de que quem é um dos lados em pelo menos alguns desses rachas…
Vigília: Como foi o início de seu interesse pela Ufologia?
Gevaerd: Bom, antes tenho que dizer que esta é a primeira entrevista que eu dou sobre a minha vida, primeiro porque pressupõe que eu tenho que dar a outro órgão de comunicação sobre o assunto, e até então a única era a UFO, e eu não vou dar entrevista para mim mesmo… Mas enfim, eu comecei quando era guri e estudava à tarde num colégio de freiras. Até chamaram meu pai lá e falaram: “Não tem condição não, você vai ter que tirar seu filho daqui porque ele não acredita nas coisas que a gente ensina”. E assim meu pai me tirou e colocou num colégio estadual. E minha mãe tinha umas amigas que iam visitá-la e uma delas falava muito em disco voador, Triângulo das Bermudas e não sei o quê… Eu ficava fascinado, na mesa da cozinha, completamente ligado no que elas estavam conversando. Essa senhora levava para minha mãe umas revistinhas quadradinhas chamadas Planeta. No início elas tinham capas duras, bonitas. Até hoje eu tenho essas Planetas. E eu lia, devorava aquilo. Como muitos ufólogos brasileiros, tive o início prosaico através da leitura da revista Planeta.
Daí comecei a recortar jornais que tinham notícias de discos voadores do norte do Paraná e outros de São Paulo que chegavam lá. Eu recortava tudo de Ufologia, colava numa folha de papel, batia em cima o nome do jornal, o local, a data etc. e tal. Fazia algumas anotações e com o tempo fui conseguindo fontes. Jornais de outros estados, intercambiava correspondências com ufólogos e entusiastas como eu de outros estados. Também trocava xerox de recortes de jornal, enfim, tentava consolidar uma base de informação.
Vigília: Não participava de nenhum grupo ufológico?
Gevaerd: Não. Eu era guri, tinha 12, 13 ou 14 anos, sei lá. Nem sabia que existiam grupos de Ufologia. Fui descobrir uns 2 ou 3 anos mais tarde, quando mandei uma carta a um grupo que me respondeu. Fiquei maravilhado. Alguém mandou uma carta timbrada e me deu o endereço de vários grupos. E antes disso comecei a conversar com um monte de pessoas que já tinham tido experiências. Meu pai –ele era da Ordem Rosa Cruz e me incentivou muito nisso– tinha um amigo que era alfaiate, um português que tinha tido várias experiências. Uma delas era marcante: um objeto no formato de um pneu, oco por dentro, e podia ver –como ele viu– as estrelas por dentro. Eu comparo muito com uma foto feita no centro de Paris. Aliás, porque eu ia passando de série no colégio, comecei a aprender um pouco mais de matemática e já sabia fazer gráficos, estatística etc. Nesta ocasião eu já tinha vários recortes e meus próprios relatórios de entrevistas que eu fazia com as pessoas, fazendo comparações.
Vigília: Fale um pouco mais sobre como sua família encarava seu interesse, desde muito jovem, por um assunto assim incomum.
Gevaerd: Sou o caçula. Tenho três irmãs das quais me dou melhor com uma, e tenho um irmão mais velho, que sempre me deu muita força. Ele era piloto. Nessa época era a pessoa que mais sabia, e me deu instruções básicas. Minha irmã mais velha, Roseana, também me deu muitas informações sobre coisas científicas. Meu pai, até então, levava numa boa. Uma certa época, no entanto, ele foi extremamente contrário à minha pesquisa ufológica porque via que não tinha futuro. Hoje eu mostro o contrário. Tem futuro! Mas naquela ocasião, como os pais de muitos ufólogos, imagino, ele tinha uma certa preocupação conforme eu me dedicava cada vez mais. Sempre fui um guri meio irrequieto. Tinha um laboratório de química no quarto aos 12 anos. Tinha tudo: balão, tubo de ensaio, substâncias. Com todo dinheiro que conseguia, eu ia numa farmácia e comprava substâncias químicas para ver as reações. Sabia a tabela periódica ao 12 ou 13 anos. Com 13 para 14 comecei a me dedicar à química orgânica. Lia livros de grandes químicos, com mais de mil páginas, em inglês.
Vigília: Mas você chegou a se formar depois, em química?
Gevaerd: Não, não me formei. Meu estudo foi seguindo. Eu ganhava feiras de ciências com trabalhos enormes. Quando eu estava no 2º Científico, com 16 ou 17 anos, não queria mais saber de nada: era química e Ufologia, um exemplo que não quero dar a ninguém, pelo amor de Deus, tá?
Mas só passei de ano no primeiro científico –o 1.º ano do 2.º grau– porque meu pai era diretor do colégio. Senão eu teria reprovado; fui mal em tudo. Só sabia química e Ufologia, não sabia nada de história, por exemplo. No segundo científico eu passei porque já estava estudando num outro colégio, onde era monitor e já lecionava química como matéria de assistência. No terceiro científico fui bolsista no Colégio Positivo, no Paraná. Naquela ocasião, quando fazia cursinho, fui à Universidade Federal do Paraná, no departamento de pós-graduação, pedir uma instrução ao professor da área de química, Fábio da Silva Pedrosa. Ele se entusiasmou tanto com a minha capacidade de conhecer química orgânica que me convidou a fazer parte do laboratório da primeira turma de pós-graduação.
Fiquei seis meses naquele laboratório. Ficava desenvolvendo trabalhos sobre a fixação do nitrogênio na raiz da soja, fiz um pouco de experiências e tal. Só que tive uma decepção lá dentro e me senti, naquela ocasião, um pouco usado. Então resolvi sair.
Vigília: E abandonou a química naquela época?
Gevaerd: Bom, fiz vestibular na Universidade Federal do Paraná e estava meio candidato por vaga. Mesmo assim não passei porque eu não sabia nada de História, só de Ufologia e de Química. Tirei 100 em Química, 100 em Inglês, mas Ufologia não caiu!!!. Daí fiz outro vestibular na Universidade Católica; passei e cursei um semestre. Fiz outro vestibular na Federal e passei, mas aí já não tinha mais interesse. Larguei tudo e voltei para Maringá, para morar com meus pais. Lá fiz outro vestibular, na Universidade Estadual de Maringá, e passei; novamente em Química. Nesta ocasião eu já estava melhor, havia quatro candidatos por vaga.
Fiz dois semestres até que conheci minha ex-mulher, a Dayse, e a gente se apaixonou. Naquele ano, 82, tinha acontecido um caso extraordinário na terra dela, em Campo Grande, num estádio municipal com 23 mil pessoas. Daí ela falou: “Ah, Geva, vamos lá. A gente faz uma pesquisa e você conhece meus pais”. Nós fomos e eu gostei da terra. Nos voltamos para Maringá e fizemos mais um semestre lá, até resolvermos nos casar e morar em Campo Grande.
Vigília:Como foi, a partir daí, lançar uma revista de Ufologia?
Gevaerd: Houve uma época, pouco antes de me casar, em que eu fui fazer uma Conferência no Rio Grande do Sul. Lá a Dr.ª Neythe Rodrigues de Abreu tinha uma revista chamada “Disco Voador”, que praticamente ninguém conhecia porque não tinha circulado muito. Ela me convidou para fazer um número da revista. Fui e tentei, mas não deu certo. Fiquei dois ou três meses morando em Porto Alegre. E os meus finais de semana dedicava exclusivamente a passar com o José Vítor Soares, que tem uma chácara em Gravataí. Aprendi muito com ele, porque o Vítor é uma instituição de pesquisa. Pouco mais tarde fui ter meus primeiros contatos como amigo do General Uchôa, por quem sempre tive uma grande admiração –e a recíproca era verdadeira. Com ele eu aprendi outro segmento da Ufologia, que é dar valor às coisas não materiais.
Aí, em Campo Grande, fiquei dois anos lecionando quando, numa ocasião, fiz uma sociedade informal com um amigo professor: Teodomiro Araújo Júnior. Nós chegamos à conclusão que deveríamos fazer uma revista de Ufologia. Então lançamos uma mala direta vendendo assinaturas de uma suposta revista que a gente ia lançar, chamada “Ufologia Nacional e Internacional”, e vendemos muitas assinaturas.
Vigília: Mas ainda sem ter a revista?
Gevaerd: Sim, não tínhamos a revista. Mas com o dinheiro que entrou das assinaturas a gente fez a primeira, fez a segunda, até que ele saiu da sociedade porque estava fazendo medicina. Quando eu fiz a segunda edição de “Ufologia Nacional e Internacional” eu pensei: “meu Deus do céu, eu sou louco!”. A revista custava algo como 25 vezes o meu salário como professor. Pensei até em parar, com receio de não conseguir dar conta do recado, de alimentar direito a minha família, manter todas as despesas, porque ganhava uma mixaria como professor. Fiquei uns dois ou três meses sem fazer a revista, mas um dia me deu um estalo e mandei bala! Fiz a número três, a quatro, a cinco, a seis até a número dez. Nesse meio tempo a gente começou a Parapsicologia Hoje, que foi a única revista no Brasil sobre parapsicologia.
Vigília: Por que este assunto, parapsicologia?
Gevaerd: Foi uma decisão mais comercial, e não tenho nenhum problema em confessar isso. A revista de Ufologia não dava o retorno que a gente precisava. Embora eu também fosse interessado em parapsicologia, nunca tinha passado de uma leitura e coisa e tal. Daí lancei a revista, que foi até o número cinco. Naquela época, em 86, 87, era legal. Para você ter uma idéia, a gente fazia dez mil revistas e vendia sete mil. Hoje não consigo fazer isso. Você faz dez mil, vende três, quatro mil.
Vigília: Quais pessoas e ufólogos influenciaram ou colaboraram com você nesta época?
Gevaerd: Tive muitos colaboradores extraordinários nesse período do meu trabalho. É evidente que não preciso nem dizer que ao lançar a revista Ufologia Nacional e Internacional eu fui inspirado totalmente pela dona Irene Granchi, que eu considero uma ‘mãezona’, não só minha mas de muitos ufólogos, embora muitos pensem diferente. Acho que ela tem um valor absolutamente inquestionável para a Ufologia brasileira. E naquela ocasião também tinha uma relação muito próxima com o General Uchôa.
Tinha muita ajuda do nosso querido Carlos Reis, que se afastou da Ufologia. Do Jaime Lauda, que também se afastou. Nesta época eu já conhecia o Claudeir Covo, mas não tínhamos muita ligação. Fomos ficar amigos mais tarde. Também já conhecia o Rafael Cury, que certa ocasião foi trabalhar na revista. Ele é um amigo de uns quinze anos, uma pessoa por quem eu tenho um carinho muito especial. Enfim, muitas pessoas de norte a sul.
Aí surgiu a base do que é a Revista UFO hoje. Você vai ver que 99% dos ufólogos de expressão estão ali, e não só com o nome, não. São pessoas que se você precisar de alguma coisa deles a qualquer instante eles estão lá.
Vigília:Você tinha um trabalho de pesquisa direta, com as pessoas que tinham passado por alguma experiência ufológica?
Gevaerd: Sim, fiz muito disso. Hoje já não faço mais, há bons anos. Exceto quando o caso é muito quente. Mas hoje não tenho mais tempo para pesquisas. Até discuto com alguns ufólogos que acham que a única coisa que tem valor é a investigação de campo. Acho isso completamente errado. O trabalho de análise e manuseio da informação é tão importante quanto o da investigação de campo. E por fim o trabalho de divulgação dessa informação através da revista também é imprescindível. Mas eu fiz muitas pesquisas. Me arrisco a dizer que fiz umas 400 ou 500 pesquisas quentes.
E eu tive outro privilégio durante a minha ascensão ufológica, cujo início, na realidade, foi quando ainda morava em Curitiba, antes de voltar para Maringá, desapontado com química. Naquela ocasião eu tinha fundado uma organização, a Opetovni (Organização de Pesquisas e Estudos Teóricos sobre Objetos Voadores não Identificados).
Vigília: Era o Gevaerd sozinho?
Gevaerd: Não. Tínhamos um grupo de pessoas muito interessantes. Esse grupo, orientado por mim, pesquisou o caso Juscelino de Matos, que tinha sido seqüestrado para bordo de um disco voador, onde tinha tido experiências sexuais com uma extraterrestre. Então você imagina o volume desse trabalho logo no início de carreira. Vamos dizer assim: foi coisa pesada. Foi um caso estudado extensivamente e houve até um racha no grupo, coisa absolutamente comum, que acontece em todo e qualquer lugar. Aliás, a Ufologia brasileira virou um palco de rachas. Tem mais rachas na Ufologia do que nas ruas à noite.
Vigília:Quantas edições já publicou? Você tem idéia?
Gevaerd: Foram 106 edições, 2,2 milhões de exemplares. É coisa pra chuchu. Nesses dias fiz um editorial na Revista UFO em que coloquei esses números e depois parei para pensar. Quantas milhares de páginas? Cerca de mil e quinhentos artigos, três vezes mais fotos. Não existe ninguém no mundo que tenha feito o que a gente fez até hoje, Jeferson, ninguém!
Vigília: E como é que você lida com a crítica quando alguns pesquisadores dizem que você vende revista, não faz pesquisa?
Gevaerd: Eu trato isso com um pouco de mágoa por saber que esses pesquisadores, que eu sei quem são, dizem que são meus amigos e no entanto falam isso nas minhas costas. Eu digo uma coisa: as pessoas falam que eu ganho a vida da Ufologia. Pô! Espera aí! Vai fazer uma revista de sessenta páginas como eu faço, todos os meses, além da UFO Especial! Tem que ter dedicação exclusiva. Se não como vou comer, vestir, dar de comer a minha família, pagar meus funcionários? Eu tenho que cobrar pelo que faço. A revista custa R$ 4,90, tem gente que reclama, imagina uma coisa dessas! Ela é feita sem nenhuma publicidade, sem um apoio empresarial ou de qualquer tipo.
As pessoas me falam: “Gevaerd, leva com naturalidade porque isso é inveja”. Não sei se é inveja ou não, só sei que fico um pouco magoado porque essas críticas são infundadas. Eu vivo sim da Ufologia, mas para a Ufologia. Se eu estivesse fazendo um trabalho no qual não acredito, um trabalho que fosse mal feito, primeiro você não estaria me entrevistando, e eu não teria a projeção nacional e internacional que tenho. Daí as pessoas poderiam me criticar por achar que meu trabalho está ruim, por exemplo, mas não por dizer que eu vivo da Ufologia, porque isso é balela. E olha que eu trabalho 14 horas por dia, todos os santos dias; e viajo pra caramba!
Vigília: Sim, você já deve ter viajado muito…
Gevaerd: Trinta países, contando com o Vaticano.
Vigília: E já visitou muitos lugares do Brasil em busca de informação ufológica…
Gevaerd: Todos os estados do Brasil
Vigília: Nesta caminhada toda, você já viu alguma coisa relacionada ao fenômeno UFO que o deixasse boquiaberto?
Gevaerd: Eu nunca vi, nunca tive qualquer experiência ufológica, jamais. Eu tive alguns sonhos… Mas nunca vi sequer uma luzinha, nem da mais safada, nem da mais sem vergonha. Absolutamente nada.
Vigília: Isso o decepciona, de alguma forma?
Gevaerd: Não. Já foi decepcionante, porque eu tenho 35 anos, 23 dedicados à Ufologia. Doze anos eu vivo exclusivamente para a Revista UFO e há dezesseis eu comecei a fazer conferências para o Brasil inteiro e há seis no exterior. Mas não me frustro hoje e inclusive vou dizer uma coisa para você: o dia em que eu ver tem que ser coisa séria. Se for ‘luzinha’ no céu eu não vou nem falar.
Vigília: Hoje a gente acompanha uma Ufologia brasileira com constantes brigas. Você tem uma teoria para explicar o porquê disso?
Gevaerd: É uma coisa muito simples. A gente conversa muito, principalmente eu, o Claudeir [Covo] e o Ubirajara [Franco Rodrigues]. Você pode notar que os rachas surgiram principalmente após o caso Varginha e exclusivamente por causa de ciúmes e inveja. Porque “fulano apareceu na televisão e eu não, sicrano apareceu no rádio e eu não, porque beltrano deu entrevista no jornal e eu não”. Tem muitos grupos que ainda não conseguiram conviver com a notoriedade.
Imagina que absurdo dizer que existe muito disso: ciumeira. Eu tinha um colaborador da revista cuja mãe ligava dizendo: “olha, você tem que manter o nome do meu filho no editorial”. Cara, uma vez eu falei que não ia mais manter o nome dele porque afinal de contas ele não colaborava. Aí ela ligava para mim: “puxa, meu filho não come, não dorme, você tirou o nome dele do editorial…”. Essas coisinhas pessoais acontecem, até porque a Ufologia é formada do quê? De seres humanos!
Vigília: E quanto a separar Ufologia mística de Ufologia científica?
Gevaerd: Eu acho isto uma besteira, até porque qualquer ufólogo mais ou menos sério nesse país sabe que não existe essa divisão. Por mais que pudesse haver, ninguém teria condição ou competência para dizer até onde vai a mística e até onde vai a científica. Isso é balela. Existe Ufologia séria! Se ela é mística ou científica não importa. Aqueles que pensam de forma científica não podem prescindir dos que pensam de forma mística, e vice-versa.
Vigília: E já que estamos falando de rachas, evidenciaram-se recentemente as discordâncias entre você e o pesquisador Philippe Piet Van Putten, da Associação Brasileira de Paraciências. O que houve?
Gevaerd: É um problema pessoal dele e meu. Acho que é alguma coisa kármica. Eu desejo a ele que trabalhe, seja feliz, etc. e tal. Só não gosto de ser atacado pelas costas. Era comum algum colega ligar e dizer “olha, ouvi fulano” –e muitas vezes fulano era o Philippe–”falando isso, isso e isso de você”. Isso em 1988. Aí eu liguei para ele e falei: “olha, se você tem alguma coisa para me falar, fala de frente, na minha cara, ou então não fala nada, esquece que eu existo”. E assim passaram-se muitos anos até que ele começou a publicar no boletim dele [nota do webmaster: Fenômenos Aeroespaciais] algumas críticas à Revista UFO. Ele quer comparar o boletim à Revista UFO, o que é outra história. O boletim dele é muito bem feito, mas é um projeto diferente da revista. Assim como eu respeito o boletim dele, exijo que ele respeite a Revista UFO. Desejo que ele conquiste seu espaço, como está conquistando, mas esqueça que a Revista UFO existe e não comente nada sobre ela no boletim dele, que a revista não vai comentar nada sobre ele e o boletim dele.
Vigília: Outra figura polêmica na Ufologia: Carlos Paz Wells, fundador do Projeto Amar [Nota do webmaster: nosso entrevistado na edição n.º 6 de Vigília] . Você está sendo processado por ele…
Gevaerd: Bom, o Carlos Paz Wells é uma pessoa que te olha na cara e te fala o que tem que falar. É outra história. O que eu discordo dele são as coisas que afirma. Falei para ele diretamente. Não acredito mesmo nas experiências que alega ter. Ele pode querer usar o que estou falando agora para mover outro processo contra mim, mas veja bem, como falei na tentativa de conciliação que eu tive com ele no fórum: “eu me retrato no sentido em que eu não pretendi ofender você. Eu imaginei que as palavras que eu estivesse usando não iam ofender. Mas se você se sentiu ofendido, eu retiro da correspondência que enviei a você as palavras ‘mentiu’, ‘mentira’ e etc. e tal”.
Mudo, mas mantenho 100% das minhas críticas. Eu acho que as experiências que ele alega ter não existem. Até porque ele tem a chance de provar que eu estou errado, apresentando, como foi convidado pela Revista UFO, as evidências que comprovam as experiências.
Vigília: Com as divergências da Ufologia, os rachas pessoais e outros obstáculos, você consegue visualizar uma convivência harmônica entre todos os diferentes pontos de vista?
Gevaerd: Vai chegar uma hora em que isto vai acontecer. Não podemos ficar cada um empurrando em uma direção diferente. Honestamente vejo assim: quando começou esse problema com o Carlos Paz, por exemplo, a gente até então convivia em congressos; almoçamos várias vezes
juntos. Eu respeito demais o Projeto Amar. Conheço muitas pessoas lá dentro. Nutro um respeito pessoal pela figura do Carlos Paz Wells, que considero uma pessoa extremamente informada, inteligente e culta. Mas sinto muito, não acredito nas coisas que ele fala. Porém estou aberto. Se eu ver alguma coisa que me convença, mudo minha opinião e reconhecerei publicamente.
Vigília: Com esses desentendimentos a Ufologia brasileira assume uma postura mais amadora, progredindo menos do que poderia?
Gevaerd: Ela progride menos e às vezes anda para traz. A gente chegou a ter uma certa maturidade quando do Caso Varginha, mas exclusivamente por causa de ciúmes de um e outro, muito do que se tinha se perdeu. Isso é lamentável e talvez as forças contrárias à Ufologia estejam dando gargalhadas, porque nós não estamos nos preocupando em trabalhar o todo. Cada um quer ter a sua fatia e se preocupar exclusivamente com ela. E quando vêm pessoas pensando num todo, são criticadas por aqueles que pensam tão pouco. Nós temos que deixar as barreiras de lado e começar a trabalhar, até porque não temos muito tempo. Nós temos conhecimento que de meio a um por cento da população mundial já foi abduzida por extraterrestres nos últimos cinqüenta anos.
Vigília: Isso é verdade? Está comprovado?
Gevaerd: É fato, comprovado por amostragem, ou seja, ninguém chegou a perguntar no mundo inteiro. Eu tenho contato com alguns dos maiores nomes da Ufologia mundial, como Budd Hopkins, David Jacob, John Mack, Whitley Strieber etc. E pergunto isso para todos eles, que são unânimes: pelo menos um por cento. O David Jacob, com quem estive recentemente, falou-me que não acredita que menos de 2% da população mundial tenha sido abduzida.
Vigília: Mas nenhum instituto de pesquisa atesta isso…
Gevaerd: Não, nenhum. Mas que sejamos mais conservadores, vai: um milhão de seqüestros já seriam um absurdo. E sabemos que existem pelo menos 20 mil casos conhecidos. Essa é a importância das viagens internacionais que eu faço. O que eu consigo de informações é uma loucura…
Vigília: Por que, mesmo com tantos abduzidos nos últimos cinqüenta anos, só agora começam a aparecer trabalhos como o de Derrel Sims, com o estudo dos supostos implantes?
Gevaerd: Aqui no Brasil só agora ele está sendo conhecido. Mas nos Estados Unidos eu conheci o Derrel Sims em 92. Ele tem um trabalho notável lá, e não é só ele que trabalha na área de implantes. Há muitos ufólogos trabalhando nisso. Agora, como aqui, lá também existem os rachas. Inclusive os são bem piores. Por exemplo –e não seria anti-ético dizer isso– mas o Derrel Sims lá não tem tanta credibilidade quanto a gente acha que ele tem. O ufólogo norte-americano com maior credibilidade na área de abduções é sem dúvida o David Jacobs, seguido do Budd Hopkins e John Carpenter. Nem John Mack tem tamanha credibilidade. Porque no próprio livro dele, “Abduccion”, ele flutua bastante. O Whitley Strieber então nem se fala. Ele como contatado está com sua credibilidade extremamente arranhada. Veja, não estou emitindo nenhuma opinião, estou apenas reportando e o que eu ouço.
Vigília: Pois é, já ouvi opiniões do tipo: ‘bom, 50% do que esse autor fala tem credibilidade e o restante não’. Você não acha que em havendo uma parcela sem credibilidade isso invalida todo o conteúdo?
Gevaerd: Não, porque como em tudo a gente tem sempre que tentar separar o joio do trigo. Existe por exemplo muita pesquisa científica que primeiro não tem sentido e segundo que não tem o menos valor prático. Na Ufologia, infelizmente, nem todos os ufólogos são absolutamente gabaritados a fazerem um trabalho de nível. Perguntas que deveriam estar sendo feitas para muitas testemunhas não estão sendo, amostras que deveriam estar sendo colhidas não estão sendo etc. Até porque os ufólogos, com raras exceções não vivem para isso. No Brasil, além do Gevaerd, apenas o Marco Antônio Petit e o Rafael Cury vivem exclusivamente da Ufologia. Acho que é só. Todos os demais vivem de seus trabalhos e sobra muito pouco tempo. Mesmo assim conseguem achar uma brecha no seu trabalho ou no seu tempo de lazer com sua família para irem a campo pesquisar.
Vigília: Em nível de pesquisa, a Ufologia brasileira chega a ser melhor que a estrangeira?
Gevaerd: No trabalho até a questão ‘pouso’, sim. Mas vamos diferenciar isso: o melhor da pesquisa ufológica nacional é melhor do que a pesquisa internacional em média no que diz respeito das observações até pousos. Até porque a nossa casuística é muito mais intensa, variada e profunda que a casuística norte-americana, por exemplo. Sem contar que não são ocorrências poluídas como nos EUA. Agora, em se tratando de pesquisa de abdução, então nós perdemos de lavada para os EUA. Mas ainda assim temos um trabalho mais completo do que trabalhos feitos na Europa. E no conjunto a Ufologia brasileira hoje é muito bem vista no exterior.
Vigília: E o que você acha da Internet despontando como um meio de comunicação e intercâmbio para a pesquisa Ufológica?
Gevaerd: Eu acho excelente. Mas há também um problema de se atingir maturidade. Ainda não a utilizamos 100% e utilizamos às vezes para coisas que não deveríamos. Joga-se muita mensagem de besteira na Internet, inclusive acusação contra um e contra outro. Isso é perda de tempo. Nós temos que utilizar esse veículo –até porque o acesso não é barato e não é fácil– para trocar mais informações. Mas sem dúvida é um caminho excelente.
Eu tenho só medo que isso vá extinguir a Revista UFO! Não, esperei aí, isso é uma brincadeira, acho que não chega lá. Particularmente acho extraordinária a iniciativa da Revista Vigília e de outras páginas do Brasil, porque através delas qualquer pessoa – inclusive aquela que não é tão ligada em Ufologia a ponto de chegar numa banca e comprar uma revista– pode acessar e ter informação sobre o que está acontecendo no momento. Isso é extraordinário. A Internet chegou para revolucionar todas as áreas de conhecimento, principalmente porque para nós, que carecíamos de um contato mais estreito, essa é a hora. E eu sugiro, àqueles que não têm um computador ainda, que façam uma forcinha, comprem, acessem a Internet e fiquem ligados.