Estudo explora conexão entre testes nucleares e movimentação de UAPs na órbita da Terra

Estudo explora conexão entre testes nucleares e movimentação de UAPs na órbita da Terra
A sugestiva imagem com um disco voador (UAP), uma estrela e um cogumelo atômico publicada pela cientista Beatriz Villarroel ao divulgar o lançamento em pre-print de estudo de sua coautoria (Crédito: Facebook/Villarroel)

Um novo estudo, assinado pelos pesquisadores Stephen Bruehl e Beatriz Villarroel, foi publicado como pré-impressão (preprint) no repositório Research Square em 25 de julho de 2025, investigando possíveis associações entre os chamados “transitórios” (objetos semelhantes a estrelas de origem desconhecida observados no primeiro Palomar Observatory Sky Survey – POSS-I antes do lançamento do Sputnik), testes nucleares e relatos de Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs).

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Beatriz Villarroel recentemente viu-se no centro de uma polêmica declaração do colega mergulhador Dennis Åsberg, que afirmou ter tido acesso a dados preliminares da cientista capazes da mudar completamente nosso entendimento do universo e que estavam “dando dor de estômago aos cientistas”. A propósito: o mergulhador apagou seu post original. O único rastro que resta é sua declaração publicada na matéria anterior do Portal Vigília.

Important Announcement: I’ve just received some data that is so incredible, I’m at a loss for words. I wish I could share everything right now, but it has to come from the right source. Stay tuned!@DrBeaVillarroel #uaptwitter #ufotwitter #uapX #UFO pic.twitter.com/v1BdhCUuea

— Dennis Asberg (@dennis_asberg) July 20, 2025

Anúncio importante: Acabei de receber dados tão incríveis que estou sem palavras. Gostaria de poder compartilhar tudo agora, mas precisa vir da fonte certa. Fiquem ligados!

É crucial destacar que o recém liberado documento, por ser uma pré-impressão, é um relatório preliminar que não passou por revisão por pares e suas descobertas não devem ser consideradas conclusivas, nem referenciadas pela mídia como informação validada, segundo os próprios autores.

A pesquisa de Villarroel explorou a relação estatística entre os transitórios pré-Sputnik (primeiro satélite a ser colocado em órbita da Terra, da extinta União Soviética), os testes de bomba atômica e avistamentos históricos de OVNIs. Foram pesquisados cerca de 100.000 objetos semelhantes a estrelas que foram identificados em imagens digitalizadas publicamente disponíveis do levantamento POSS-I, definidos como pontos brilhantes presentes em uma imagem, mas ausentes em imagens anteriores ou posteriores, e durando menos de 50 minutos (o tempo de exposição).

Os resultados revelaram, segundo os pesquisadores, associações estatisticamente significativas. Por exemplo, os transitórios foram “45% mais propensos a serem observados” em datas que coincidiam com uma janela de teste nuclear (o dia do teste mais ou menos um dia). O estudo também encontrou uma correlação positiva e significativa entre o número total de transitórios e o número total de relatos independentes de UAP por data, indicando que para cada UAP adicional relatado em uma dada data, havia um aumento de 8,5% no número de transitórios identificados.

Investigamos se os transientes pré-Sputnik se correlacionam estatisticamente com testes de bombas atômicas e avistamentos históricos de OVNIs. A resposta? Sim — para ambos.


Estrela 2MASS 19281982 2640123. Imagem PanSTARRS DR1

A mecânica do estudo e a relação com testes nucleares

A abordagem metodológica do estudo recém liberado foi, em resumo a seguinte:
Foi criado um conjunto de dados diários abrangendo de 19 de novembro de 1949 a 28 de abril de 1957 (totalizando 2.718 dias).
Os dados incluíram informações sobre:
    ◦ Transitórios identificados: Mais de 100.000 transitórios foram identificados em imagens digitalizadas publicamente disponíveis do levantamento POSS-I. São definidos como pontos brilhantes, semelhantes a estrelas, presentes em uma imagem, mas ausentes em imagens anteriores ou posteriores, e durando menos de 50 minutos (o tempo de exposição).
    ◦ Testes nucleares aéreos: Datas de 124 testes conduzidos pelos EUA, União Soviética e Grã-Bretanha foram coletadas de fontes públicas. Uma “janela de teste nuclear” foi definida como a data do teste mais ou menos um dia.
    ◦ Relatos de UAP: Dados foram obtidos do banco de dados UFOCAT, que é considerado o mais abrangente para o período de estudo. Registros duplicados foram removidos para garantir a contagem de relatos independentes.
As análises estatísticas incluíram testes de qui-quadrado para associações dicotômicas, testes U de Mann-Whitney para diferenças em medidas contínuas não paramétricas e correlações de Spearman, além de Modelos Lineares Generalizados (GLM) para lidar com a distribuição altamente assimétrica dos dados de transitórios.

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Os principais resultados que a equipe científica apurou foram:
Associação entre testes nucleares e transitórios:
    ◦ Houve uma associação significativa (p = 0,008) entre testes nucleares e a ocorrência de transitórios.
    ◦ Os transitórios foram 45% mais propensos a serem observados em datas dentro de uma janela de teste nuclear (testes +/- 1 dia) em comparação com datas fora dessa janela.
    ◦ Significativamente mais transitórios foram observados em datas de janela de teste nuclear (média aparada em 5% = 23,40) do que fora (média aparada em 5% = 8,55).
Associação entre relatos de UAP e transitórios:
    ◦ Uma correlação pequena, mas muito significativa (p < 0,001), foi encontrada entre o número de UAP relatados e o número de transitórios observados.
    ◦ Essa associação foi mais forte (Spearman’s rho = 0,14, p = 0,015) quando analisadas apenas as datas em que pelo menos um transitório foi identificado, minimizando o viés de muitos valores zero.
    ◦ Para cada UAP adicional relatado em uma determinada data, houve um aumento de 8,5% no número de transitórios identificados.
Associação entre testes nucleares e relatos de UAP:
    ◦ Foi observada uma associação pequena, mas estatisticamente significativa (p = 0,008), entre testes de armas nucleares e um aumento nos avistamentos de UAP. Mais avistamentos de UAP foram relatados dentro das janelas de teste nuclear.
[*Nota do editor: p (p-value) é uma medida estatística que indica a probabilidade de observar um resultado tão extremo ou mais extremo do que o obtido. Um p-value baixo (geralmente abaixo de 0,05) sugere que o resultado observado é improvável de ter acontecido por mero acaso]
Efeito combinado:
    ◦ Os resultados sugerem que as associações de relatos de UAP e testes nucleares com o número de transitórios observados podem ser aditivas. As datas com mais UAP relatados E que estavam dentro de uma janela de teste nuclear apresentaram o maior número total de transitórios.
Diante desses achados, os pesquisadores definiram algumas pontos chaves:
Os achados do estudo revelam associações estatísticas intrigantes que vão além do acaso.
As associações encontradas não indicam definitivamente o que são os transitórios nem implicam necessariamente relações causais.
No entanto, os resultados argumentam contra várias explicações prosaicas para os transitórios, como contaminação ou defeitos em placas fotográficas, ou confusões locais no observatório, pois isso não explicaria a associação com relatos de UAP de múltiplos locais distantes.

Não estão dizendo que são aliens, mas…

Os autores admitem que, embora os achados não indiquem definitivamente a natureza dos transitórios nem impliquem relações causais, eles apoiam a hipótese especulativa de que alguns transitórios podem ser “objetos artificiais tanto em órbitas de alta altitude ao redor da Terra quanto em altas altitudes dentro da atmosfera”, atraídos por armas nucleares, uma vertente conhecida do folclore UAP.

Além dessa hipótese, os cientistas também debatem uma mais prosaica, embora igualmente especulativa: a possibilidade de um fenômeno atmosférico inesperado, desencadeado por detonações nucleares ou relacionado a precipitações radioativas, que serve como estímulo para alguns relatos de UAP e aparece como transitórios nas imagens astronômicas. Contudo, isso seria mais provável de causar “rastros” e não “fontes pontuais” como os transitórios são observados.

Em sua conclusão, os dados revelam associações pequenas, mas estatisticamente significativas, entre transitórios e testes nucleares aéreos, bem como avistamentos de UAP. E os autores acreditam que os achados fornecem apoio empírico adicional para a validade do fenômeno UAP e sua potencial conexão com a atividade nuclear, indo além dos relatos de testemunhas.

“Esquenta” de uma revelação UAP ou prenúncio de uma decepção?

A publicação deste estudo, de coautoria da renomada astrônoma Beatriz Villarroel, surge em um momento de intensa especulação na comunidade ufológica, impulsionada por um enigmático anúncio feito dias antes pelo mergulhador sueco Dennis Åsberg, cofundador do grupo Ocean X.

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Åsberg, conhecido por ter participado da descoberta da Anomalia do Mar Báltico, declarou que Beatriz Villarroel teria feito uma descoberta “absolutamente avassaladora” que “talvez não devesse ser revelada à humanidade”. O frenesi nas redes sociais, que culminou em diversas interpretações apontando para uma conexão direta com a célebre Anomalia do Mar Báltico, foi alimentado pela falta de evidências concretas ou detalhes técnicos por parte de Åsberg.

Única imagem conhecida da Anomalia do Mar Báltico (credito_ Reprodução X.com/SUAPS)
Única imagem conhecida da Anomalia do Mar Báltico (credito_ Reprodução X.com/SUAPS)

No entanto, a ligação entre o estudo de Villarroel e as grandiosas declarações de Åsberg parece ser tênue, possivelmente gerando uma decepção para aqueles que esperavam uma revelação bombástica.

A própria Beatriz Villarroel, em uma postagem em sua rede social datada de 25 de julho de 2025, pareceu antecipar essa desilusão ao afirmar:

“Não, este NÃO é o estudo sobre o qual todos estão a pensar”.

Como já informava matéria anterior do Portal Vigília, a prometida revelação bombástica de Villarroel provavelmente não terá relação com a anomalia, mas ainda assim, como nota-se por suas próprias manifestações nas redes sociais, parece estar associada ao fenômeno dos UAPS/OVNIs.

Apesar disso, a divulgação de seu novo artigo, com sua natureza preliminar e cautelosa deve levar alguns observadores a especularem que a divulgação deste trabalho de pesquisa serve, na verdade, como uma estratégia de “esquenta” para manter o interesse em alta, preparando o terreno para a eventual revelação de um paper mais impactante, este sim, alinhado com as sugestões dramáticas de Dennis Åsberg.

Enquanto isso, surfando o buzz que ele mesmo gerou, Åsberg prometeu que o “mistério da Anomalia do Mar Báltico será finalmente desvendado” até o final de 2025, com o apoio da Society for UAP Studies (SUAPS), que promete consultoria científica e supervisão ética.

Resta saber alguma destas prometidas “descobertas que não deveriam ser reveladas à humanidade”, como classificou Åsberg, trarão algo de concreto, seja no fundo do Báltico ou no vácuo do espaço.

Redação Vigília

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