Grandes drones misteriosos (“drovnis”) paralisam aeroportos na Dinamarca e Noruega

Avistamentos de múltiplos drones de grande porte forçaram a paralisação imediata do tráfego aéreo nos dois mais importantes centros de aviação da Escandinávia – o Aeroporto de Copenhague (Dinamarca) e o Aeroporto de Oslo (Noruega) – na noite de segunda-feira, 22 de setembro de 2025, estendendo-se pela madrugada de terça-feira.
Em Copenhague, o aeroporto mais movimentado da região nórdica, as operações foram suspensas por quase quatro horas a partir das 20h26 de segunda-feira (horário local), resultando em desvios e cancelamentos que afetaram cerca de 20.000 passageiros. Tais incursões, cuja origem e motivação permanecem desconhecidas, foram classificadas pelas autoridades como um ato de alto calibre, apontando para um “ator capaz” que demonstra a intenção de exibir capacidades sobre infraestruturas críticas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
A resposta das autoridades foi imediata e coordenada, mas não conseguiu capturar os aparelhos. Dependendo da fonte, teriam sido avistados dois a quatro grandes drones voando nas proximidades das pistas em Copenhague. O Aeroporto de Oslo também fechou seu espaço aéreo desde a meia-noite (horário local) devido a uma observação de drone, paralisando o tráfego por aproximadamente três horas e desviando 14 aviões.
O tráfego aéreo foi retomado na madrugada de terça-feira em ambos os terminais, mas com a persistência de atrasos e cancelamentos. Cerca de 50 voos foram desviados para aeroportos alternativos durante o fechamento em Copenhague, de acordo com o serviço de rastreamento de voos FlightRadar.
UFO that just closed Copenaghen airport looks very big
byu/lndigo_Sky inUFOs
Vídeo de suposto “drovni” circula no Reddit mostrando luzes aparentemente similares a aeronaves convencionais
A ocorrência imediatamente gerou reações na comunidade dos entusiastas da Ufologia, dada a inevitável comparação com os episódios de drones misteriosos registrados em bases militares na Inglaterra e sobre Nova Jersey (EUA). A grande onda dos chamados “drovnis” tornou-se publicamente uma preocupação central das autoridades entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025, mesmo que incursões de tais objetos já estivessem sendo registradas em instalações militares bem antes disso.
“Drones desapareceram e não pegamos nenhum”
A gravidade do incidente foi rapidamente reconhecida e amplificada por autoridades políticas. A Primeira-Ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, afirmou em comunicado que o sobrevoo de drones constituiu “o ataque mais grave contra uma infraestrutura crítica dinamarquesa até o momento”. Em uma escalada retórica, Frederiksen, em declarações ao canal de televisão DR, disse que “não podemos descartar a Rússia” como responsável. No entanto, a Rússia negou imediatamente qualquer envolvimento, com o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, rebatendo que “Ouvimos acusações infundadas do lado de lá todas as vezes”.
O vice-comissário assistente da polícia de Copenhague, Jakob Hansen, disse a repórteres que a polícia iniciou “uma investigação intensiva para determinar que tipo de drones são esses”. Hansen também confirmou o desaparecimento dos dispositivos: “Os drones desapareceram e não pegamos nenhum deles”. A investigação está sendo conduzida em colaboração entre a polícia, o Exército, os serviços de inteligência militar e parceiros internacionais, com a cooperação de autoridades da Dinamarca e Noruega para determinar se há uma ligação entre os dois incidentes.
A análise do comportamento dos objetos voadores sugere um alto nível de competência por parte do operador. O inspetor sênior da polícia de Copenhague, Jes Jespersen, descreveu o responsável como “um ator capaz”, notando que o dispositivo vinha de uma distância considerável, descrita como “muitos quilômetros”. Os drones apareceram de diferentes direções, ligando e desligando suas luzes e movendo-se em padrões de voo variados por mais de três horas. O inspetor Jespersen ponderou que o comportamento indicava que o responsável estava com a intenção de “se exibir e talvez praticar” suas técnicas, e não de causar danos imediatos.

Apesar da intrusão, as autoridades dinamarquesas optaram por não tentar abater os drones, devido aos riscos de segurança associados. O inspetor Jespersen explicou a decisão, observando que “Se tivessem caído, há aviões com pessoas, combustível e também residências do lado do aeroporto”. Investigações preliminares incluem a hipótese de que os drones possam ter sido lançados a partir de navios, considerando que o aeroporto está próximo ao Mar Báltico, uma rota marítima de intenso tráfego.
Contexto geopolítico e a vulnerabilidade da OTAN
O incidente nos aeroportos nórdicos não é isolado, inserindo-se em um crescente “padrão de contestação permanente” nas fronteiras europeias. A primeira-ministra Frederiksen contextualizou o ataque, dizendo que ele “se enquadra na tendência que observamos recentemente com outros ataques de drones, violações do espaço aéreo e ciberataques contra aeroportos europeus”. Estes ataques seguem uma série de interrupções, incluindo um ataque cibernético na sexta-feira anterior que paralisou os sistemas de check-in e embarque em aeroportos como Heathrow, Berlim e Bruxelas, cujas consequências se prolongaram até o início da semana.
As tensões geopolíticas foram exacerbadas pelas repetidas incursões de drones e aviões supostamente russos no espaço aéreo de membros da OTAN. Na semana anterior, por exemplo, a Estônia denunciou a incursão de três caças russos em seu espaço aéreo. Além disso, Polônia e Romênia relataram violações com drones, sendo que na Polônia, as defesas da OTAN tiveram que mobilizar esforços para abater vários aparelhos. Tais eventos mostram o que é caracterizado como um “cenário híbrido” que mistura espionagem, sabotagem e demonstração de força, tornando a delimitação das intenções cada vez mais difícil.

Em meio a essa escalada, a OTAN se reuniu e exigiu que a Rússia interrompa o que chamou de “escalada” de violações do espaço aéreo, alertando que os incidentes “implicam um risco de erro de cálculo e coloca vidas em perigo”. O Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, embora cauteloso ao dizer que era “cedo demais para dizer” se a Rússia estava envolvida no incidente dinamarquês, afirmou que a aliança estava pronta para defender “cada centímetro de nosso território”. A Lituânia, outro membro da OTAN com fronteira com a Rússia, chegou a simplificar suas regras para agilizar a derrubada de drones que violem seu espaço aéreo.
A rápida evolução e a dificuldade de detecção dos drones, que podem ser pequenos, rápidos (chegando a 80 km/h para modelos de “corrida”) e difíceis de identificar individualmente, os tornam uma ferramenta útil para testar a prontidão de resposta militar e a segurança estratégica. O serviço de inteligência dinamarquês já havia alertado o país sobre uma “ameaça elevada de sabotagem”, e o diretor de operações do serviço, Flemming Drejer, sugeriu que a intenção poderia ser “nos pressionar e ver como reagimos”.
Desafios de detecção e resposta
Enquanto a Ufologia cogita a possibilidade de operações “não humanas” envolvidas nas incursões de “drovnis”, para as autoridades a crescente ocorrência de incidentes dos UAPs perto de aeroportos civis representa um risco significativo para a segurança de passageiros, tripulação e pessoas em terra. A Agência da União Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) nota um aumento constante no número de incidentes na Europa e globalmente. Tais eventos causam custos econômicos severos, como evidenciado pelo incidente de 2018 no Aeroporto de Gatwick, estimado em 64 milhões de euros para a indústria.
A complexidade dos incidentes reside na dificuldade de identificar e neutralizar os objetos voadores não tripulados (UAS). A EASA, em seu manual de “Gerenciamento de Incidentes com Drones em Aeródromos”, reconhece que a identificação de um UAS pequeno é “demonstravelmente muito mais difícil” do que uma aeronave tripulada. Além disso, os operadores remotos não podem ser facilmente identificados ou rastreados.
O desafio tecnológico da detecção é substancial, dado o tamanho reduzido dos drones e a grande área que os aeroportos precisam proteger. Embora existam métodos como a detecção por radiofrequência (RF), radar e câmeras (visual e infravermelho), radares convencionais de vigilância de aeronaves são geralmente ineficazes contra drones pequenos, exigindo sistemas específicos. Especialistas sugerem que a solução de detecção definitiva envolve a utilização combinada de sensores de RF, ópticos e/ou radar para fornecer o panorama mais preciso.
A mitigação da ameaça de drones é ainda mais desafiadora. Técnicas como o bloqueio de sinal (jamming), embora potencialmente eficazes, são ilegais em muitas jurisdições ocidentais (UE, Canadá, EUA, Austrália), especialmente porque o bloqueio de GPS perto de aeroportos é perigoso para aeronaves que dependem da navegação por satélite. Por esta razão, a única abordagem “realista” no momento é o desenvolvimento de procedimentos que visam separar o tráfego aéreo de pouso e decolagem dos drones invasores.
Diante da natureza “híbrida” dos incidentes e da incerteza sobre a intenção dos invasores, o foco recai sobre a prontidão. A EASA preconiza a elaboração de arranjos e procedimentos que apoiem uma resposta rápida, eficaz e proporcional para evitar ou minimizar as suspensões de tráfego aéreo, garantindo que o fechamento do aeroporto permaneça como um último recurso. O evento de Copenhague e Oslo demonstrou que, mesmo em países com alta prontidão de segurança, a incerteza sobre a origem dessas misteriosas aeronaves e a impossibilidade de neutralização dos aparelhos garantiram que o objetivo do invasor — causar interrupção grave e mostrar capacidade — fosse atingido.