Marinha dos EUA divulga nova série de documentos sobre UAPs com extensas censuras

Às vésperas de uma nova audiência no Congresso dos EUA — marcada para 13 de novembro de 2024 — a Marinha dos Estados Unidos liberou recentemente uma nova série de documentos sobre Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs) através do Freedom of Information Act (FOIA). Os arquivos, embora extensamente censurados, revelam detalhes importantes sobre como o governo americano tem lidado com o fenômeno e geraram intenso debate na comunidade, principalmente no fórum Reddit.
Os documentos incluem cinco briefings principais e uma série de “Relatórios Range Fouler”. Um aspecto que chamou a atenção foi o nível sem precedentes de censura, com até mesmo os níveis de classificação dos próprios documentos sendo ocultados. Todos os materiais estão publicamente disponíveis neste link (talvez seja preciso clicar em buscar e organizar por “modified” para colocar em ordem decrescente).

Entre as revelações mais significativas está a confirmação de que 55% dos já conhecidos 144 relatórios do governo emitidos desde a UAPTF (Força Tarefa UAP, órgão que foi substituído pelo AARO, o Escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios do Pentágono), cobrindo os últimos 16 anos, envolvem detecções por múltiplos sensores.
Além disso, os briefings demonstram que as tripulações aéreas dos EUA encontram UAPs diariamente, especialmente na costa leste, e os objetos apresentam múltiplas formas, tamanhos, velocidades e altitudes.
Outra informação relevante comprovada pelos novos documentos é extensa participação de diferentes agências governamentais no processo de apuração e classificação de UAPs, incluindo DoD, Marinha, Força Aérea, USMC, NASA, FAA, FBI e DARPA, com algumas tendo suas identidades censuradas. Isso sugere o grau de seriedade com que o assunto é tratado internamente.
Apesar disso, a maioria das imagens e informações relevantes estão censuradas com a indicação “(b)(1)”. Segundo o código de classificação de documentos secretos dos EUA, essas alíneas indicam que podem “revelar a identidade de uma fonte humana confidencial, uma fonte de inteligência humana, uma relação com um serviço de inteligência ou segurança de um governo estrangeiro ou organização internacional, ou uma fonte de inteligência não humana [nota do editor: neste caso, significa equipamento ou sensor]; ou prejudicar a eficácia de um método de inteligência atualmente em uso, disponível para uso ou em desenvolvimento”.
Reclamações sobre a censura e questionamentos
Um post com uma extensa análise dos documentos foi publicado no subforum r/UFOs, do Reddit, apenas 3 dias após a liberação, e tem gerado acalorado debate. Um usuário comentou: “Se não há nada para ver aqui, por que censurar até mesmo as formas básicas dos objetos? Parece excessivo para algo supostamente trivial”, disse, referindo-se à página 6 do documento “UAPTF HPSCI Brief Redacted” que aparentemente deveria relacionar as formas dos objetos registrados. São 15 formas totalmente censuradas por grandes tarjas pretas com a indicação “(b)(1)”.
Outro aspecto que gerou debate foi a revelação de um incidente envolvendo um objeto submergindo na água. Segundo o documento “DDNI Brief Redacted”, “[censurado] observou um possível UAS, de forma esférica movendo-se em direção à superfície da água e depois desaparecendo. [censurado] avaliou que o objeto afundou. As tentativas de procurar destroços na água foram ineficazes”. Esse é, inclusive, um dos primeiros relatos que se tem notícia de tentativa de busca por um objeto que submergiu na água.
Outro usuário observou que: “Para um assunto que eles alegam não se importar, certamente desperdiçam muitos recursos tentando descobrir o que são. E para algo que supostamente não têm ideia do que é, são extremamente cautelosos em mostrar imagens ao público sob alegação de segurança nacional”.
A discussão online também destacou a aparente contradição entre a minimização pública do fenômeno e o alto nível de classificação dos documentos. Como apontou um moderador do fórum r/UFOs:
“O Pentágono gasta bilhões de dólares dos contribuintes anualmente. Recebemos fotos de balões espiões chineses, jatos russos, navios no Mar do Sul da China, mas nenhuma única foto das supostas 600 incursões de ‘drones’ sobre espaço aéreo restrito dos EUA. Por quê?”
Os documentos revelam ainda que existe subnotificação devido ao estigma e à percepção de indiferença das autoridades. Em um dos relatórios, a Marinha dos EUA critica a CIA por contribuir para o estigma dos denunciantes de UAP, ressaltando que a manutenção da confidencialidade para quem relata o fenômeno, ao menos nas fileiras militares, é o “mais profundo desafio para entender os UAPs”.
Embora essa divulgação não represente um novo e expressivo marco na transparência governamental sobre o tema, principalmente pela significativa quantidade de informações classificadas, a exposição do envolvimento de múltiplas agências governamentais e o estabelecimento de grupos de trabalho específicos indicam que, apesar das declarações públicas minimizando o fenômeno, internamente o assunto UAP vem sendo tratado com considerável seriedade e cautela.