Saída de Kirkpatrick do AARO alimenta polêmicas e controvérsias sobre UAPs

Saída de Kirkpatrick do AARO alimenta polêmicas e controvérsias sobre UAPs
Dr. Sean Kirkpatrick, ex-diretor do Escritório de Pesquisas de Anomalias de Todos os Domínios - AARO (Foto: Wikipedia/NASA/Joel Kowsky)
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Depois de 18 meses no cargo, o chefe do Escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios (AARO) do Pentágono, Dr. Sean Kirkpatrick, anunciou que deixará o posto em dezembro.

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Kirkpatrick foi o primeiro diretor do órgão criado em 2022 para investigar o que o governo dos EUA agora denomina de “fenômenos aéreos anômalos não identificados” (sigla em inglês: UAP), que pilotos militares vêm relatando avistar com frequência crescente nos céus. Uma espécie de definição “gourmet” para OVNIs, que teria a vantagem de se livrar do estigma do termo original e sua resistência junto à comunidade militar e científica.

Em recente entrevista ao site Político, Kirkpatrick afirmou que sua anunciada saída completa um ciclo pouco maior do que um ano, prazo que ele havia se comprometido a de fato a ficar no AARO. E, na avaliação dele, durante esse período cumpriu as metas que havia estabelecido ao assumir o cargo, como estruturar o sistema de coleta de dados, analisar centenas de casos e rebater alegações de acobertamento de programa para engenharia reversa de naves alienígenas.

O diretor também destacou avanços como a padronização da análise dos relatos, a institucionalização da resposta a esses incidentes e melhorias na retenção dos dados coletados. Além disso, enfatizou os esforços para calibrar sensores e entender padrões de fenômenos comuns que possam gerar falsos alarmes.

Contudo, sua passagem pelo AARO não foi isenta de controvérsias. Em depoimento no Congresso americano em junho, Kirkpatrick refutou as acusações do denunciante David Grusch, ex-oficial de inteligência que alega existir provas de recuperação de aeronaves extraterrestres pelo governo há décadas.

Kirkpatrick classificou tais alegações como “extremamente antiéticas e imorais” e criticou a recusa de Grusch em se reunir com o AARO para prestar maiores informações.

É melhor serem alienígenas, mas…

O diretor do escritório continua mantendo uma postura cautelosa sobre a possibilidade dos fenômenos aéreos não identificados terem origem alienígena.

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Ao Político, voltou a afirmar que “o melhor que poderia resultar deste trabalho é provar que existem extraterrestres. Porque se não provarmos que são alienígenas, então o que estamos encontrando é evidência de outras nações fazendo coisas no nosso espaço aéreo. E isso não é bom.”

Por outro lado, pelo ponto de vista científico, ele garante que “é estatisticamente inválido acreditar que não existe vida no universo, considerando o quão vasto ele é”. Porém, pondera que as chances de essa vida inteligente estar visitando especificamente a Terra e os Estados Unidos de forma recorrente são muito pequenas.

Kirkpatrick ressaltou que parte de seu trabalho é “elevar o nível da conversa”. Explicou que quando se discute a busca por vida no universo com agências espaciais, é uma conversa objetiva e cientificamente sólida. “Mas quando chega perto da Terra, vira teoria da conspiração.”

Enquanto defende que sua intenção é ser trazer mais fatos, provas e método científico para o debate, combatendo especulações infundadas, Kirkpatrick reclama a necessidade de elevar o nível da discussão pública sobre OVNIs com uma abordagem séria.

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Repercussão e avaliações controversas

A saída de Kirkpatrick do comando do AARO gerou reações diversas. O ufólogo John Greenewald questionou no Twitter as reiteradas afirmações de Kirkpatrick de que Grusch se negou a depor, algo que o denunciante já havia anteriormente classificado como “mentira”.

 

Já Christopher Mellon, ex-funcionário da Defesa, apesar de elogiar o “progresso sério” de Kirkpatrick, também apontou no Twitter declarações contraditórias de Kirkpatrick sobre Grusch.

 

Em 10 de novembro, Mellon reproduziu em sua rede social que o chefe do AARO havia dito recentemente: “Há algumas informações [de Grusch] que estão se revelando como coisas e eventos que realmente aconteceram.”

Isso parece entrar em conflito com as repetidas afirmações públicas de Kirkpatrick de que Grusch se recusou a cooperar.

Em entrevista ao site Político, Kirkpatrick opinou que o melhor cenário seria provar que os OVNIs são alienígenas, pois caso contrário significaria que alguma potência estrangeira estaria operando aeronaves desconhecidas no espaço aéreo americano.

Porém, ele ponderou que a probabilidade de os inúmeros avistamentos corresponderem a naves extraterrestres visitando especificamente os EUA de forma recorrente é bastante improvável, sob uma perspectiva científica.

Em suma, a passagem de Kirkpatrick deixa alguns avanços, mas também grandes questionamentos sobre sua postura, coerência e transparência à frente de um órgão sensível que lida com um fenômeno bastante controverso. Resta saber se seu substituto conseguirá progredir na elucidação do enigma dos óvnis de forma mais aberta e crível.

Dois volumes de relatórios sobre UAPs

Até o meio próximo ano, o AARO é obrigado a fornecer ao Congresso dos EUA um relatório final de suas atividades em 2023. Mas Sean Kirkpatrick revelou que pretende dividir o documento em duas partes, para apresentar uma espécie de Volume 1 ainda antes de deixar a pasta em dezembro.

Ele revelou que o “Volume 1” desse relatório abrangerá todas as entrevistas já realizadas com pessoas que prestaram depoimentos ao AARO até outubro desse ano. O documento apresentará o que pôde ser comprovado como verdadeiro ou falso com base nesses depoimentos.

O prazo legal para a entrega do relatório histórico completo ao Congresso é apenas em junho de 2024. Porém, Kirkpatrick afirmou que, por desejar mais transparência de forma mais rápida, está finalizando o Volume 1 ainda este ano para publicação antecipada.

O “Volume 2”, a cargo de seu sucessor, tratará de qualquer novidade que surja a partir de agora, utilizando os mecanismos de recebimento de relatos que o AARO passou a disponibilizar em seu site recentemente.

Quem será o próximo líder do AARO?

Com a renúncia de Sean Kirkpatrick, o All-Domain Anomaly Resolution Office (AARO) do Pentágono está em busca de um novo líder. Quatro principais candidatos foram entrevistados para substituir Kirkpatrick1. No entanto, o Pentágono parece já ter “tomado a decisão” sobre o sucessor não nomeado de Kirkpatrick.

Timothy A. Phillips, que foi oficialmente selecionado para servir como vice-diretor do AARO, é quem deve assumir a liderança interina após a saída de Kirkpatrick. Phillips é membro do Senior National Intelligence Service desde 2006 e traz para o AARO sua vasta experiência em coleta de inteligência geoespacial e gerenciamento de missões.

Tim Phillips, como é conhecido, deverá conduzir o escritório após a saída de Kirkpatrick até que o Pentágono nomeie um substituto permanente. Sua experiência e conhecimento serão inestimáveis para o AARO enquanto eles continuam a investigar Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs).

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é empresário de comunicação, dono de agência de marketing digital e assessoria de imprensa, publisher de um portal de notícias regionais na Grande São Paulo, fundador e editor do Portal Vigília.

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