Sistema Echelon: uma ameaça à pesquisa Ufológica?
Imagine se você descobre um grampo telefônico na sua casa? Ou suspeita que tem alguém vigiando cada fax ou e–mail que envia todos dias? Você pára e pensa: “sou inocente, não fiz nada de errado”. Ledo engano. Acontece que, mesmo na segurança do lar, navegando tranqüilamente pela Internet ou trocando fofocas com um amigo pelo telefone, nós somos rastreados, monitorados e vigiados cada vez que utilizamos algum meio de comunicação. Será mesmo que é verdade?
Parece paranóia no melhor estilo Arquivo X (o seriado de ficção sobre fenômenos paranormais)? Conspiração mundial? Não. É a mais pura verdade. Ou quase, pois as provas disso ainda não são levadas a sério. Esse “supergrampo” existe e é chamado de Projeto ECHELON. Com ele é possível vigiar, interceptar, analisar, filtrar e armazenar todas as transmissões eletromagnéticas do planeta, ou seja, através de aparelhos de rádio, telefone, fax, pagers, bips, e–mails, teleconferências, satélites e qualquer outro meio que utilize essas ondas.
Mas como funciona esse sistema? Por quê? E, talvez a mais importante questão, quem está por trás disso?
Para entender o Echelon é preciso voltar na História e pararmos no ano de 1945, “coincidentemente” no fim da 2o Guerra Mundial. Os Estados Unidos e a NSA (National Security Agency – Agência de Segurança Nacional) obtinham informações via cabo (rudimentar, claro) das principais agências de comunicação do mundo. Dessa forma, era possível vigiar apenas uma pequena parte das atividades globais, mas que mesmo assim, já constituía uma espécie de espionagem tecnológica com a desculpa de que era para “controlar o inimigo”.
Curiosamente, uma outra “desculpa” alegada pelos EUA, era de que o Echelon foi projetado inicialmente para visar alvos não–militares, principalmente no que tange aos governos, empresas e organizações, isto é, “alvos” civis.
De acordo com as pesquisas realizadas pelo jornalista especializado em tecnologia, Carlos Alberto Teixeira, o Echelon vem sendo desenvolvido por 5 países que controlam as comunicações globais: os Estados Unidos (que detêm a maior parte do rastreamento), Canadá, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia.
“Ele coleta dados de várias maneiras. Possui inúmeras antenas de rádio baseadas em terra e responsáveis por interceptar transmissões via satélite. Existem também diversas estações de vigilância de tráfego de informações ao redor do mundo”, garante. Segundo Teixeira, o Echelon lança mão de mais de 120 satélites espiões capazes de captar dados que transitam entre outros satélites e informações que se espalham para os céus pela transmissão de microondas entre cidades.
Já pela Internet, o monitoramento passa por inúmeros processos que filtram as mensagens mais importantes. Teixeira afirma que o Echelon dispõe de numerosos dispositivos chamados de “sniffers” (“cheiradores”), que coletam informações de IP (identificação pessoal de cada computador) enquanto estes navegam pela rede. Os sniffers são colocados em intersecções–chaves dentro da web de modo a coletar e–mails, transferências de arquivos etc. “Mas, seja como forem capturadas as informações, o sistema seleciona as palavras importantes usando um outro sistema, chamado “Dictionary” (dicionário), e guarda as mensagens que lhe interessa”, diz o jornalista.
Porém, antes que lancemos mão dos meios de comunicação para evitar esse tipo de invasão de privacidade, tem gente que acredita que tudo não passa de sensacionalismo da mídia. É o caso de Marcos Machado, formado em Tecnologia em Processamento de Dados e dono do site “Anti–Hackers”. Ele acredita que exista a espionagem industrial, mas não da forma e abrangência desse projeto, ainda mais na cooperação de tantas agências de diferentes países.
“Espionagem existe. A esposa espiona o marido, uma empresa espiona seus funcionários, o governo espiona seus governados. Em maior ou menor grau, isso sempre aconteceu e sempre vai acontecer. É óbvio que, se a tecnologia permitir, a espionagem será mais eficiente. Aí é que está meu primeiro ponto: a tecnologia ainda não permite fazer o que alegam. Meu segundo ponto é: se a tecnologia realmente estiver conseguindo capturar estas informações, seriam necessárias centenas de milhares de pessoas para analisá–las (mesmo depois de passarem pelo tal “filtro de escopo”). Se existissem tantas pessoas em um projeto deste tamanho, ele já tinha ruído completamente”, argumenta.
Carlos Alberto Teixeira também tem suas conclusões a respeito: “é muito difícil que alguém venha a provar que o Echelon esteja sendo usado para fins malignos ou ilegais, no uso de fabulosos recursos de espionagem ao seu dispor. Trata–se de uma operação altamente secreta, que é levada a termo com pouca ou quase nenhuma vigilância superior, seja por parte de parlamentos ou por cortes nacionais. Afinal, quem detém o controle sobre essa gigantesca máquina não vai sair por aí falando a respeito”, avalia.
O pouco que se sabe sobre o Echelon teria vazado de funcionários insatisfeitos, informantes incógnitos e documentos que não foram desclassificados com o devido cuidado. “Há quem acredite que o Echelon é um mal necessário, pois se a humanidade tivesse sido deixada ao léu, sem uma vigilância atenta, o mundo já teria ido pelos ares umas trinta vezes”, pondera o jornalista.
Segundo esses extremistas, o povo é inculto mesmo e ponto final. O problema é decidir quem tem o direito de ficar bisbilhotando as informações alheias, brincando de ser juiz do mundo. Uma vez de posse dessa descomunal e valiosíssima tecnologia, quem garante que haverá justiça na utilização da mesma?
Porém, o Echelon talvez não seja tão eficiente quando parece. Pelo menos não como ferramenta pacificadora, através das valiosas informações que poderia fornecer. Neste caso, já teria ajudado a evitar – ou acabado – com muitas guerras e as injustiças do mundo.
Arquivo X, Ufologia e Echelon
Não por coincidência, a primeira pessoa no Brasil a alertar sobre os riscos de invasão da privacidade alheia pelo Echelon foi o jornalista Aldo Novak, que dirige o fã clube Arquivo X Brasil, para aficcionados pelo seriado de ficção homônimo, que trata justamente de conspirações governamentais no acobertamento de fenômenos paranormais e extraterrestres. E o alerta não foi feito a partir de suspeitas fictícias. O jornalista, que hoje dá palestras sobre o tema em congressos e eventos de Ufologia, foi buscar numa investigação aberta pelo Parlamento Europeu os argumentos para divulgar a notícia. Os parlamentares estavam preocupados com evidências de que poderiam estar sendo alvos de escutas por parte do sistema.
Nesta investigação, até o Brasil apareceu como um provável alvo: chegou a circular um boato, não confirmado, de que a empresa norte–americana Raytheon poderia ter sido beneficiada por informações privilegiadas conseguidas através do Echelon, garantindo–lhe a vitória na mega–licitação internacional realizada pelo governo brasileiro para a montagem dos radares do Projeto SIVAM, o Sistema de Vigilância da Amazônia.
Diante do poderio de monitoramento do Echelon, Novak ressalta em suas palestras que o tema interessa diretamente os pesquisadores de UFOs, que constantemente se deparam com documentos e relatórios confidenciais, e não raro têm de estar atentos para resguardar o anonimato de fontes de informações sigilosas.
Apesar dos alertas, o fato é que o governo norte–americano não admite a existência do Echelon. No entanto, já admite uma versão mais branda – mas não menos preocupante – do sistema de escuta: o Carnivore, uma espécie de grampo de e–mail utilizado pelo FBI. Para este, segundo informações veiculadas por jornais no mundo todo, já estaria sendo preparada inclusive uma versão mais moderna e poderosa.
Pelo sim e pelo não, é bom tomarmos cuidado quando falarmos ao telefone ou mandarmos um e–mail. Quando se trata de manter a privacidade, uma boa ferramenta de criptografia (codificação) nunca é demais. Como já dizia Fox Mulder, agente do FBI do seriado Arquivo X: “não confie em ninguém”.
Luciane Bodaczny é fotógrafa, estudante de jornalismo e colaboradora da Revista Vigília.