Skywatcher divulga primeiros dados sobre UAPs, mas evidências geram mais ceticismo

O grupo Skywatcher deu um passo público significativo em sua controversa busca por Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs), divulgando seus primeiros dados e imagens no vídeo “Skywatcher Part II: ‘Mapping The Unknown’” (abaixo). Apresentando técnicas como um “apito de cachorro” eletromagnético e supostas interações psíquicas, a iniciativa se propõe a aplicar rigor científico ao campo da Ufologia.
O grupo conta em suas fileiras com o denunciante Jacob (Jake) Barber, autor do notório relato do resgate de um UAP em forma de ovo que atraiu a atenção da mídia em todo o mundo e por si só já havia gerado bastante controvérsia. Barber juntou-se a uma equipe de ex-militares, técnicos e cientistas que se propôs a reproduzir experiências de contatos de forma “cientificamente controlada” com supostos artefatos “não humanos”.
O mecanismo, em tese, seria o mesmo que o próprio Barber teria presenciado algumas vezes a serviço do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em operações de recuperação de artefatos “não humanos”, como contratado privado. E, apesar de toda a expectativa criada, a qualidade das evidências visuais e a natureza das alegações agora apresentadas imediatamente geraram uma onda de ceticismo e questionamentos sobre a metodologia empregada.
Parte dos questionamentos decorre do fato de a iniciativa ter divulgado que estaria empregando milhares de dólares no uso de equipamentos de imagem e sensores de última geração para a captação das evidencias.
Um “framework” que promete acelerar descobertas
No centro dessa iniciativa está o “Skywatcher Discovery Framework, uma metodologia estruturada de seis níveis projetada para investigar sistematicamente o fenômeno UAP com rigor científico e transparência”.
A iniciativa Skywatcher, que inclui pesquisadores como os cientistas Garry Nolan Ph.D. e James Fowler, visa preencher a lacuna de “má qualidade dos dados” que, segundo seu próprio documento, impede a resolução de muitos casos de UAP.
O framework, algo equivalente a um “modelo” ou “manual de pesquisa”, propõe um caminho da “observação preliminar” (Nível 1) até a “divulgação e integração total” (Nível 6), passando por coleta estruturada (Nível 2) de dados, análise (Nível 3), verificação independente (Nível 4) e divulgação pública (Nível 5). O processo enfatiza “Rigor Científico”, “Qualidade de Dados”, “Transparência” e “Flexibilidade”, buscando transformar a busca em uma “jornada disciplinada e transparente do mistério à compreensão”.

“Apito de cachorro” e interação psíquica revelados?
A divulgação dos primeiros resultados, com amostras de vídeos coletados, focou em duas técnicas principais. A primeira, de sinalização eletromecânica, apelidada de “dog whistle” (apito de cachorro), é descrita por James Fowler, líder de tecnologia, como um sucesso: “nós ligamos nosso equipamento que personalizamos e criamos o que acreditamos ser um apito de cachorro e os UAPs aparecem”.

A equipe alega “sucesso repetível”, observando “três a cinco classes diferentes de UAP por dia” após acionar o dispositivo. Entre as classes descritas estão um “blob Pepto-Bismol no céu” (classe 3) e algo semelhante a uma “grande água-viva” brilhante e pulsante (classe 7). Esta técnica está atualmente no Nível 3 do framework, segundo ele, aguardando verificação independente. Fowler prometeu: “estamos preparando para liberar uma entrevista aprofundada… juntamente com lançamentos controlados de dados” para análise por “físicos, cientistas, academia não ufólogos de terceiros”.
No vídeo divulgado, a equipe não esclarece que tipo de sinal a “sinalização eletromecânica” produziu para obter os alegados resultados.
A segunda técnica, da interação neuromeditativa, envolve indivíduos com “uma alegada capacidade de interagir com UAPs através de formas de práticas de meditação”, chamados de “neuromeditadores (ou psíquicos)”. Sem explicar que qualidades psíquicas diferenciam tais indivíduos, os chamados “psiônicos”, ou como foi feito seu recrutamento, alega-se que eles podem atrair UAPs, inicialmente vistos como “luzes ou orbes piscando”, e até exercer “comando e controle” sobre eles. Esta abordagem está no Nível 2, com planos de “refinar metodologias” e testar hipóteses com experimentos controlados para alcançar o Nível 3.
Críticas a imagens e métodos apareceram imediatamente
Apesar das alegações de sucesso, a reação à divulgação foi imediata e majoritariamente cética. A qualidade das imagens e vídeos apresentados foi um dos principais alvos. Com a divulgação geral se antecipando a uma eventual publicação científica — conforme originalmente prometido — ao invés dos corredores acadêmicos foi a rede social Reddit que se transformou no principal fórum de debates sobre o tema. No subreddit r/UFOs, o usuário “mattriver” observou: “temos fotos e vídeos muito nítidos de aviões… e fotos e vídeos muito pouco nítidos (até agora) de UAPs”. “Abrodolf_Lincler_” foi mais direto: “Gaste menos em produção e mais em equipamentos. Não estamos procurando entretenimento, estamos procurando ciência rigorosa”.

A falta de detalhes sobre o equipamento “dog whistle” também levantou suspeitas. “Nós sabemos o que é essa suposta máquina…?” perguntou “Beneficial_Garage_97”, questionando a ausência de informações sobre seu funcionamento e a possibilidade de replicação. As alegações de “convocar” UAPs e o uso de psíquicos também foram recebidas com escárnio: “Barber afirma que ele tem ativos psíquicos… De que forma isso não é uma ‘alegação fantástica’?!!”, comentou “Wild_Button7273”.
Uma das críticas mais ferrenhas ao conteúdo divulgado pelo Skywatcher veio do canal “TheSneezingMonkey”, que classificou a investigação como “o maior absurdo de ‘confia em mim, irmão’ que eu já vi”, comparando-a a programas de caça-fantasmas e ridicularizando as imagens: “que diabos é isso, irmão?… Você não tem nada melhor do que isso? Isso é chocante!”. A ausência dos “cinco observáveis” (como aceleração instantânea, etc.) também foi notada, embora “Much_5224” no Reddit tenha relativizado sua importância, chamando-os de “apenas palavras da moda”. A frustração geral foi expressa por “MfmadVillaiNz”: “Decepcionante como sempre… cansado de ser provocado e ficar na mão”.
Análise do vento levanta mais dúvidas
Dada a possibilidade de algumas imagens serem interpretadas como balões, um ponto específico de crítica metodológica surgiu em relação à análise do vento. No vídeo “Skywatcher Part II”, a questão parece ser tratada superficialmente. James Fowler admitiu inicialmente: “sim, nós olhamos o vento, mas não olhamos com muita atenção”, justificando que os objetos se moviam mais rápido ou manobravam de forma inconsistente com a deriva pelo vento. Foi mencionado que a Classe 5 (Manta Ray) se movia “perpendicular ao vento e mais rápido que o vento”.

Contudo, críticos apontam a ausência de dados detalhados sobre as condições de vento em diferentes altitudes e como esses dados foram registrados sistematicamente. Sem essa informação, torna-se difícil validar as afirmações de movimento anômalo e descartar explicações prosaicas, como balões. O canal “TheSneezingMonkey” levanta explicitamente a hipótese de balões, criticando a aparente falta de esforço para eliminar explicações simples.
Essa lacuna na análise do vento parece colidir com a ênfase do próprio Skywatcher Discovery Framework no rigor científico e na eliminação de explicações convencionais, especialmente nos níveis iniciais da investigação. A falta de detalhes sobre como o vento foi considerado sugere uma potencial falha no rigor aplicado, pelo menos na comunicação pública dos resultados.
Terminologia para aproveitar o “buzz”?
O Portal Vigília procurou o analista de imagens Jorge Uesu Jr., conhecido por suas detalhadas avaliações técnicas de registros de OVNIs/UAPs em diversas casos bastante conhecidos, para opinar sobre as imagens e o vídeo em geral. Uesu Jr. expressou uma impressão inicial mista sobre a abordagem da Skywatcher, percebendo uma aparente contradição entre a promessa de ciência e os métodos alegados.
“A princípio me pareceu uma tentativa séria de registrar o fenômeno. O apresentador diz que vão usar dados e o método científico, mas logo em seguida diz que atraem os óvnis com equipamentos e também com métodos psiônicos”, avaliou.
Reforçando as críticas sobre a qualidade visual, ele comentou sobre a variabilidade do material: “Algumas imagens me pareceram interessantes, mas outras são muito parecidas com balões de festa”.
Mais contundente foi sua análise sobre a taxonomia adotada pela Skywatcher. Uesu Jr. sugere que a criação de categorias pode ser uma tentativa de surfar na onda de termos populares no meio ufológico, em vez de uma classificação estritamente científica.

“Eles também criaram categorias para os objetos, ao meu ver, por influência do palavreado da moda: egg shape, tic-tac, jellyfish”, avalia o analista. Ele acredita que o grupo pode estar “tentando encaixar os avistamentos nelas, forçando um pouco a barra”, pondera Uesu.
O analista exemplifica essa crítica mencionando um caso específico: “um objeto que se parece com um balão de festa metalizado com um barbante, eles categorizaram como Jellyfish”.
Skywatcher defende abordagem e pede paciência
Em meio às críticas, a equipe Skywatcher defende sua abordagem. Assim como seus defensores no Reddit, que argumentam sobre a dificuldade inerente em filmar tais objetos:
“Esses objetos são pequenos e muito altos e estão se movendo tão rápido que não são fáceis de rastrear e capturar”. Um piloto no vídeo corrobora uma observação visual com dados de sensor, apesar da dificuldade de imagem: “eu soube que não estava vendo coisas, ali estava, é a mesma coisa que eu tenho visto no sensor…”, disse um usuário usando o apelido Dvori92.
No vídeo de apresentação preliminar dos resultados obtidos, James Fowler reiterou a importância do processo científico: “Em ciência, apenas ter dados não significa nada… ao fazer e usar esses tipos de abordagens aqui na Skywatcher, seremos capazes de coletar os dados, obter a revisão por pares… Isso ainda não foi feito em lugar nenhum”.

Ele destacou a participação do cientista de Stanford, Garry Nolan, como um sinal de seriedade e reafirmou o plano de liberar dados para “análises independentes de terceiros”, um passo crucial para alcançar o Nível 4 (verificação independente).
Meta 2025: validação ou invalidação à vista?
A Skywatcher estabeleceu um “objetivo ambicioso, mas alcançável: resolver se a sinalização eletromecânica ou a interação neuromeditativa são credíveis e repetíveis até o final de 2025”. O sucesso em validar qualquer uma das técnicas através dos seis níveis do framework representaria um “avanço histórico”. Mesmo a invalidação seria considerada valiosa para “eliminar pistas falsas”.
No momento, o projeto se encontra numa encruzilhada. Apresenta um framework metodológico promissor para um campo caótico, mas as evidências iniciais divulgadas publicamente não convenceram os céticos e tão pouco comprovaram, até agora, seguirem os passos científicos propostos pelo próprio framework.
A transição para a verificação independente e revisão por pares (Nível 4) será determinante para a credibilidade futura da Skywatcher. Sem validação externa robusta, especialmente considerando as lacunas metodológicas apontadas como a análise do vento, dados de funcionamento do “apito de cachorros” e detalhadas informações dos sensores utilizados, o projeto corre o risco de permanecer no domínio das alegações extraordinárias, sem provas extraordinárias, algo cada vez mais comum na atual fase da Ufologia.
A busca continua, mas a Skywatcher precisa entregar um artigo científico e provavelmente dados mais sólidos para transformar o mistério em compreensão verificável.