Missão Hera da ESA faz imagens inéditas de Deimos, lua de Marte

A missão Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA), realizou um feito histórico ao sobrevoar Marte e sua misteriosa lua Deimos, capturando imagens inéditas e utilizando a gravidade do planeta vermelho para ajustar sua trajetória rumo ao asteroide Dimorphos. O evento, ocorrido em 12 de março, é um marco na exploração espacial e na defesa planetária, além de oferecer novos dados relevantes sobre a origem das luas marcianas.
A nave Hera, do tamanho de um carro, aproximou-se de Marte a 9 km/s, registrando imagens a 5.000 km do planeta e a apenas 1.000 km de Deimos, uma das menores luas do Sistema Solar, com 15 km de comprimento. Os instrumentos a bordo — incluindo a Câmera de Enquadramento de Asteroides, o gerador de imagens hiperespectrais Hyperscout H e a Câmera Térmica Infravermelha da JAXA — revelaram detalhes nunca antes vistos da superfície de Deimos, incluindo seu lado oculto, raramente observado. “Estas imagens são um tesouro para entender a composição mineral e a história térmica desta lua enigmática”, destacou Michael Kueppers, cientista da missão, em comunicado.
A manobra de assistência gravitacional não apenas economizou combustível, mas também reduziu o tempo de viagem da Hera em meses, otimizando a jornada rumo a Dimorphos, o asteroide alvo da missão. “A espaçonave se comportou impecavelmente”, celebrou Sylvain Lodiot, gerente de operações da ESA.
Deimos: um enigma cósmico
As imagens reforçam debates sobre a origem de Deimos e Fobos, as luas de Marte. Hipóteses sugerem que elas podem ser fragmentos de asteroides capturados pela gravidade marciana ou detritos de um impacto colossal no planeta. “Capturar o lado oculto de Deimos é uma oportunidade única para testar essas teorias”, explicou Stephan Ulamec, membro da equipe científica. A análise hiperespectral e térmica das imagens ajudará a determinar se Deimos compartilha características com asteroides do Cinturão Principal ou se é produto de uma colisão antiga em Marte.

A Hera é parte crucial da colaboração internacional AIDA (Avaliação de Impacto e Deflexão de Asteroides), que inclui a missão DART da NASA. Em 2022, a DART colidiu com Dimorphos, alterando sua órbita em 32 minutos — um teste pioneiro de defesa planetária. Agora, a Hera investigará a cratera resultante e medirá a massa e composição do asteroide, dados essenciais para refinarem técnicas de desvio de ameaças cósmicas.
A nave carrega ainda dois CubeSats, o Juventas e o Milani, que serão liberados próximos a Dimorphos em 2026. O Juventas, equipado com o gravímetro GRASS, medirá a gravidade superficial do asteroide — um milionésimo da terrestre — para calcular sua massa com precisão. “Essas medições são vitais para entender como asteroides respondem a impactos”, explicou Hannah Goldberg, engenheira de sistemas da Hera.
Tecnologia de ponta e cooperação global
A construção da Hera envolveu módulos separados (Propulsão e Central), unidos com precisão de décimas de milímetro na Alemanha. “Ver os módulos integrados foi um momento emocionante. Agora, a espaçonave está pronta para enfrentar o espaço profundo”, disse Paolo Martino, engenheiro da ESA. A missão também conta com contribuições da JAXA e de mais de 100 instituições europeias, destacando a cooperação internacional na exploração espacial.
Após testes ambientais no centro ESTEC, na Holanda, a Hera seguirá para Dimorphos, com chegada prevista para outubro de 2026. Lá, mapeará a cratera da DART e estudará a estrutura interna do asteroide, dados que podem revolucionar nossa compreensão de corpos celestes potencialmente perigosos. “Estamos ansiosos para ver como Dimorphos se parece após o impacto. Cada imagem nos trará respostas”, afirmou Patrick Michel, investigador principal da missão.
Enquanto isso, as imagens de Deimos já estão inspirando novas pesquisas. “Esses dados não só nos ajudam a entender Marte, mas também a preparar futuras missões a asteroides”, concluiu Kueppers.