Audiência no Senado tem novo diretor do AARO mais aberto que antecessor

Nos fóruns de discussão e posts em redes sociais que antecederam a audiência realizada nesta terça-feira, 19 de novembro de 2024, no Senado dos EUA, entusiastas da Ufologia no mundo todo pareciam não depositar muitas esperanças em novas revelações ou transparência verdadeira do novo diretor do All-domain Anomaly Resolution Office (AARO, ou Escritório de Resolução de Anomalias de Todos os Domínios, em português), o experiente oficial de inteligência Jon T. Kosloski. A postura negacionista de seu antecessor, Dr. Sean Kirkpatrick — mesmo quando confrontado com numerosos casos UAP sem solução — e a polêmica atitude de desrespeito aos denunciantes atribuídas a ele, irritaram ufólogos e políticos.
Mas o que os expectadores e senadores puderam acompanhar no encontro convocado pela senadora Kirsten Gillibrand, presidente do Comitê de Serviços Armados do Senado, foi, de certa forma, mais do que a encomenda. Antes da sessão aberta, Kosloski participou de um briefing em sessão fechada (classificada). Quando começou, a audiência pública em si foi sucinta, objetiva e curta: apenas 34 minutos. A intenção anunciada era a apresentação do relatório anual sobre Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAP) para 2024, recém divulgado pelo escritório.
Kosloski, em sua fala inicial, reiterou o compromisso da AARO com a “investigação rigorosa com base científica” de todos os relatos de UAP. O diretor também ressaltou a necessidade de reduzir o estigma associado à denúncia desses eventos, afirmando que “relatos de atividades de UAP, particularmente perto de locais de segurança nacional, devem ser tratados com seriedade”. Sem solicitar mais recursos ou estrutura, ele revelou também que trabalha no desenvolvimento de um mecanismo de denúncia público, com previsão de lançamento em meados de 2025, para que cidadãos comuns possam contribuir com informações e relatos de OVNIs.
AARO quer desclassificação para colaboração das universidades
Kosloski enfatizou a importância de fortalecer relações e parcerias com agências governamentais, além da comunidade científica e acadêmica. “A AARO não pode fazer seu trabalho sozinho”, declarou, acrescentando que “forte cooperação com os serviços militares é particularmente importante”. Ele também mencionou a necessidade de aumentar a transparência, trabalhando para “desclassificar e compartilhar publicamente mais informações sobre UAP, protegendo fontes e métodos confidenciais”.
Os dados do relatório apresentado abrangem o intervalo de maio de 2023 a junho de 2024. No período foram documentados 757 novos relatos de UAP, elevando o total avaliado desde o início dos trabalhos do escritório para 1.652 casos. A maioria destes foram resolvidos, normalmente atribuída a objetos prosaicos como balões, pássaros e drones. Kosloski destacou o aumento de casos relacionados a satélites, especialmente devido ao lançamento de megaconstelações como a Starlink (baixe os slides com o detalhamento das principais explicações e dados).

Mas não passou despercebido na audiência quando o diretor mencionou explicitamente a dificuldade em desclassificar dados e vídeos para poder contar com a participação das universidades e da comunidade científica nas análises das ocorrências, em busca de soluções ou novas teorias. Mencionando que o AARO não tem poderes para mudar unilateralmente as regras do segredo oficial, ele revelou que a desclassificação de alguns dos principais casos ainda sem explicação é uma meta prioritária do escritório, para conseguir contribuições técnicas e científicas especializadas fora do governo.
Sobre a colaboração das demais agências com informações, conforme previsto em lei na constituição do AARO, ficou implícita a resistência da maioria das “agências de três letras”, as principais representantes da comunidade de inteligência dos EUA. Mas Kosloski ressaltou, no entanto, a boa relação com o Estado-Maior Conjunto do DoD, os Serviços Militares, Laboratórios Nacionais, o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional (ODNI), a NASA, o FBI e o Departamento de Segurança Interna (DHS).
Ainda sem explicação, casos famosos ficaram menos impressionantes
O novo chefe do AARO também tentou dissipar teorias da conspiração, explicando por que muitos casos prosaicos ainda continuam classificados. A preocupação, muitas vezes, é com o fato de a liberação fornecer às nações rivais informações sobre equipamentos e capacidades de detecção dos Estados Unidos, acrescentando vulnerabilidade à defesa do território.
“Em alguns casos, pode não estar claro para o público por que o DoD classificou uma informação em primeiro lugar. Por que fotos de objetos aparentemente benignos, como balões, são classificadas? Muitas vezes, o objeto ou fenômeno em si não é uma preocupação de segurança, mas a localização, a fonte ou o método usado para capturá-lo ainda são confidenciais”, explicou.
No entanto, para ilustrar as metodologias da AARO, Kosloski apresentou alguns estudos de caso: o caso de Porto Rico, conhecido como Aguadilla, até hoje considerado um dos melhores registros oficiais de um UAP, o “Go Fast” (um dos vazamentos de vídeos da Marinha) e uma filmagem menos conhecida envolvendo um objeto aparentemente próximo do vulcão Etna.
No caso de Aguadilla, inicialmente classificado como um evento transmeio (já que o OVNI parece entrar e sair da água), a análise teria revelado que o objeto, “provavelmente um par de balões ou lanternas chinesas”, estava flutuando a cerca de sete nós sobre o aeroporto e o efeito de paralaxe teria feito com que parecesse muito mais rápido do que realmente estava.

O AARO propõe avaliação similar para o “Go Fast”, vídeo que ganhou atenção pública em 2017. Em outro episódio, de um objeto filmado próximo ao Monte Etna em erupção, a análise teria determinado que as distâncias calculadas estavam erradas e o objeto estava mais próximo da câmera e muito distante do vulcão.
Para os três casos ainda não há conclusões acerca do que eram os objetos, efetivamente, mas as condições de voo e velocidade a partir da análise deixaram tudo “menos impressionante”, e portanto muito mais perto de explicações prosaicas, ou seja, sem comportamentos realmente incompatíveis com artefatos comuns terrestres.
Três casos “muito anômalos”
Durante a audiência no Senado americano, Kosloski reconheceu a existência de “objetos muito anômalos” que desafiam até o momento quaisquer explicações convencionais. Ele descreveu três casos específicos, ainda sob investigação, que ilustram a natureza enigmática desses fenômenos.
No primeiro caso, um policial relatou ter avistado uma esfera laranja que, ao se aproximar, revelou-se um objeto “mais preto que preto” do tamanho de um carro. O objeto inclinou-se 45 graus e disparou verticalmente em alta velocidade, emitindo luzes vermelhas e azuis brilhantes antes de desaparecer. A ausência de marcas no solo onde o objeto supostamente pairou intriga os investigadores.
No segundo caso, funcionários de uma instalação governamental relataram a observação de um cilindro metálico, com as dimensões de um avião comercial, pairando no ar. Envolto em uma luz branca brilhante, o objeto permaneceu imóvel por 15 a 20 segundos antes de desaparecer sem deixar vestígios.
O terceiro caso envolve duas aeronaves que, voando em paralelo, capturaram imagens de um objeto menor cruzando o espaço entre elas em alta velocidade. A análise preliminar sugere que o objeto pode estar mais distante do que a estimativa inicial, mas a falta de metadados impede uma conclusão definitiva.

A postura de Kosloski na audiência do Senado não acionou a mesma metralhadora de críticas na comunidade ufológica que as aparições de seu antecessor, Sean Kirkpatrick. O AARO fez uma exposição com ênfase na transparência e na colaboração científica, além de ter admitido algumas de suas limitações quanto à desclassificação de evidências e documentos. Só por isso, talvez o escritório, liderado pelo novo chefe, se posicione como um ator relevante na cena UAP, como apostam alguns insiders da ufologia militar dos EUA. O futuro dirá.