EUA apresentam projetos de caças de 6ª geração F-47 e F/A-XX em corrida contra a China

EUA apresentam projetos de caças de 6ª geração F-47 e F/A-XX em corrida contra a China
F-47 vs J-36, a corrida pela superioridade aérea e os UAPs (Imagens: Wikimedia C.C.2.0)

Os Estados Unidos deram um passo significativo na aviação de combate com a recente apresentação oficial de seus projetos de caças de sexta geração: o F-47 da Força Aérea dos EUA (USAF) e o F/A-XX da Marinha dos EUA. As duas iniciativas, que ocorrem em um cenário global de crescente competição militar, especialmente com a China, destacam a importância estratégica que as forças armadas americanas atribuem à manutenção da superioridade aérea no futuro. Os anúncios públicos quase simultâneos demonstram uma preocupação acentuada em tentar projetar poder aéreo em um ambiente cada vez mais contestado.

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O projeto F-47 está intrinsecamente ligado à iniciativa Next Generation Air Dominance (NGAD), que adota uma abordagem de “família de sistemas” em vez de se limitar a uma única aeronave. O conceito engloba um ecossistema integrado que inclui o F-47 como um caça tripulado (ou não), juntamente com aeronaves de combate colaborativas não tripuladas (CCA), sensores avançados e armamentos de ponta. A iniciativa NGAD nasceu dos estudos da Air Dominance Initiative da DARPA em 2014 e da subsequente Aerospace Innovation Initiative. O objetivo primordial do programa é desenvolver tecnologias cruciais para garantir a superioridade aérea, com foco em propulsão, furtividade, armamento avançado, design digital e gerenciamento térmico.

Enquanto nenhuma dessas aeronaves parece ter sido ainda flagrada em voo, esta é concepção artística do F-47, liberada pela própria Força Aérea dos EUA - Imagem: USAF / Wikipedia
Enquanto nenhuma dessas aeronaves parece ter sido ainda flagrada em voo, esta é concepção artística do F-47, liberada pela própria Força Aérea dos EUA – Imagem: USAF / Wikipedia

Dentro do ecossistema NGAD, o F-47 é a peça central tripulada, frequentemente referida como a plataforma Penetrating Counter-Air (PCA). Esta aeronave é concebida como um “sensor-atirador” rápido, de longo alcance e furtivo. Além de suas próprias capacidades de combate, o F-47 também atuará como um controlador avançado de drones, operando em estreita colaboração com drones CCA. A designação do F-47 como um “sensor-atirador” implica capacidades superiores na detecção, rastreamento e engajamento de alvos.

O programa NGAD evoluiu ao longo do tempo, com testes experimentais em voo ocorrendo desde provavelmente 2019. Em 21 de março de 2025, o Presidente Donald Trump anunciou a retomada do programa, a designação da aeronave como F-47 e a atribuição do contrato de desenvolvimento de engenharia e fabricação, no valor de mais de 20 bilhões de dólares, à Boeing. Durante uma conferência de imprensa na Casa Branca, o Presidente Trump declarou: “Estou emocionado em anunciar que, sob minha direção, a Força Aérea dos Estados Unidos está avançando com o primeiro jato de caça de sexta geração do mundo… Nada no mundo chega perto disso”. O contrato com a Boeing, em detrimento da Lockheed Martin, líder tradicional no desenvolvimento de caças, pode indicar uma decisão estratégica baseada em múltiplos fatores.

O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General David Allvin, admitiu que aeronaves experimentais (X-planes) estão voando desde 2020, estabelecendo as bases para o F-47. O Presidente Trump afirmou que uma versão experimental da aeronave estava voando secretamente “há quase 5 anos”. No entanto, o ex-Secretário da Força Aérea, Frank Kendall, revelou em 2023 que protótipos de X-planes voaram ainda antes de 2020, em meados da década de 2010. A DARPA especificou que o X-plane da Boeing voou pela primeira vez em 2019.

Capacidades e as implicações para a questão UAP

Dado o histórico de projetos militares avançados dos EUA envoltos em longo segredo e considerando as tecnologias de ponta incorporadas no F-47, não se pode descartar a possibilidade de que projetos ainda mais secretos e anteriores possam ter estado em desenvolvimento e voo, possivelmente contribuindo para alguns relatos de avistamentos de Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs) nos últimos cinco anos. Contudo, as fontes fornecidas não confirmam explicitamente tal ligação. O caso dos caças furtivos F-117A Nighthawk é um exemplo típico, já que sua existência só foi tornada pública praticamente durante sua estreia em batalha, em dezembro de 1989, durante a Operação Just Cause, com a invasão do Panamá pelos Estados Unidos para derrubar o ditador Manuel Noriega.

O F-47 incorporará uma série de tecnologias avançadas, sendo a furtividade avançada uma característica fundamental, com o objetivo de alcançar um “nível totalmente diferente de baixa observabilidade” em comparação com caças de quinta geração. Espera-se que ele utilize tecnologias como materiais avançados de absorção de radar e camuflagem adaptativa. O F-47 atuará como o nó central na “família de sistemas” NGAD, com forte conectividade de rede com satélites e outras aeronaves, e será estreitamente integrado com aeronaves de combate colaborativas (CCA) para diversas missões. O conceito de trabalho em equipe tripulado/não tripulado (MUM-T) será fundamental. Espera-se também que o F-47 utilize sistemas de armas avançados e tenha o potencial de operar com enxames de drones, com especulações sobre a possível integração de armas de energia direcionada.

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Em termos de desempenho, prevê-se que o F-47 tenha uma velocidade máxima em torno de Mach 2. A USAF afirmou que ele será “mais sustentável e terá maior disponibilidade” do que os caças de quinta geração e que “custe menos” que o F-22, sendo adquirido em maior número. A missão principal do F-47 é a superioridade aérea, projetada para “ultrapassar, manobrar e superar qualquer adversário” e neutralizar ameaças avançadas como a China. O F-47 se destina a ser o sucessor do F-22 Raptor, com planos de ter mais unidades na frota. Segundo o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General David Allvin, o F-47 terá “alcance significativamente maior, furtividade mais avançada, será mais sustentável, terá maior capacidade de suporte e maior disponibilidade do que nossos caças de quinta geração”.

Quanto ao F/A-XX da Marinha dos EUA, este programa representa a iniciativa para um futuro caça de superioridade aérea de sexta geração baseado em porta-aviões. O objetivo principal é substituir o F/A-18E/F Super Hornet e o EA-18G Growler da Marinha, complementando o F-35C a partir da década de 2030. Espera-se que o F/A-XX apresente “sensores avançados” e “conectividade máxima de sensores”, incluindo a capacidade de se conectar com satélites e outras aeronaves para obter informações do campo de batalha em tempo real. Também são esperadas capacidades aprimoradas de guerra eletrônica, potencialmente superando as do F-35C. A Marinha deseja maior alcance operacional para o F/A-XX, potencialmente excedendo 1.000 milhas náuticas. A capacidade de sobrevivência aprimorada, incluindo furtividade avançada, é essencial para penetrar em densas redes de negação de acesso/área (A2/AD). O F/A-XX também deverá ser integrado com sistemas não tripulados, incluindo aeronaves de combate colaborativas (CCA), formando uma asa aérea tripulada/não tripulada.

O caça F-35A, estado da arte em tecnologia, foi desenvolvido pela Lockheed Martin. Foto da Força Aérea dos EUA pelo Sargento Mestre Donald R. Allen (Domínio Público)
O caça F-35A, estado da arte em tecnologia, foi desenvolvido pela Lockheed Martin. Foto da Força Aérea dos EUA pelo Sargento Mestre Donald R. Allen (Domínio Público)

Embora ambos os projetos façam parte da iniciativa NGAD, eles têm objetivos e requisitos distintos. O F-47 é primariamente um caça de superioridade aérea para operações terrestres, enquanto o F/A-XX é uma plataforma baseada em porta-aviões com capacidades multifuncionais. O F/A-XX coloca uma ênfase maior na fusão de sensores e na guerra eletrônica, impulsionada pelas complexidades do ambiente eletromagnético das operações navais.

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A China também está desenvolvendo tecnologias de caças de sexta geração.

O desenvolvimento dos F-47 e F/A-XX pelos EUA é uma resposta direta ao crescente poderio militar de concorrentes como a China. A busca pela superioridade aérea tem profundas implicações geopolíticas, impactando as capacidades de dissuasão e projeção de poder e com o potencial de desencadear uma nova corrida armamentista em tecnologias avançadas de aviação militar. Como Hegseth declarou, “[O F-47] envia uma mensagem muito direta e clara aos nossos aliados de que não vamos a lugar nenhum e aos nossos inimigos de que podemos, e vamos, ser capazes de projetar poder ao redor do globo, sem impedimentos, por gerações”. Esta corrida armamentista tem um impacto significativo na base industrial de defesa, representando um investimento substancial. O sucesso desses programas é fundamental para garantir a capacidade dos Estados Unidos de proteger seus interesses no século XXI.

 

 

Em 26 de dezembro de 2024, a China surpreendeu a comunidade internacional com os voos inaugurais observados de dois protótipos que analistas associam à sexta geração de caças: um atribuído à Chengdu (especulativamente chamado J-36) e outro à Shenyang (especulativamente denominado de J-50). Esses eventos destacam o rápido avanço da China em tecnologias aeroespaciais e sua intenção de rivalizar com outras potências militares no domínio da aviação de combate.

J-36: capacidades emergentes do novo caça chinês

O protótipo Chengdu J-36, em particular, chamou a atenção por seu design inovador e características avançadas. Imagens de satélite já haviam revelado novos hangares na instalação de testes da Chengdu Aircraft Corporation (CAC), aparentemente projetados para abrigar uma fuselagem de grandes dimensões e formato incomum, possivelmente sem cauda ou com asas em delta. Confirmando um programa de testes ativo, em 25 de março de 2025, o J-36 teria realizado seu terceiro voo de teste conhecido, conforme evidenciado por imagens da aeronave em operação próxima às instalações da CAC.

Caça de 6a. geração chinês J-36, registrado em voos de teste (Wikimedia - autor desconhecido)
Caça de 6a. geração chinês J-36, registrado em voos de teste (Wikimedia/autor desconhecido)

Para além das observações dos protótipos, infográficos e análises que circulam online detalham as capacidades táticas e técnicas esperadas para o J-36. Ele é retratado como um caça otimizado para missões de Defesa Contra Aérea (DCA), dotado de características furtivas avançadas (“all aspect broadband stealth”) e sensores sofisticados, como arrays de varredura lateral (“side-looking arrays”) para ampla consciência situacional. Em termos de desempenho, espera-se alta velocidade, incluindo capacidade de supercruise (voo supersônico sustentado sem pós-combustor) e picos de Mach 2.8 a 70.000 pés com pós-combustão total. Sua grande capacidade de combustível permitiria operar em órbitas de patrulha avançadas (CAP). O armamento principal seria transportado internamente, com baias principais para mísseis de longo alcance como o PL-17 (descrito como hipersônico e letal contra grandes alvos aéreos de alto valor — HVAA) e baias laterais para mísseis como o PL-15E. Crucialmente, o J-36 é concebido para operar em rede com drones de alto desempenho (como os conceituais QJ-1 e QJ-2), que atuariam como multiplicadores de força engajando caças inimigos e aumentando a capacidade de sobrevivência e letalidade do conjunto, focando na destruição de ativos inimigos essenciais (HVAA) para desorganizar ataques adversários.

Indo além do desenvolvimento de caças atmosféricos, a China parece explorar conceitos de aeronaves com capacidades aeroespaciais. Um exemplo especulativo seria o projeto “Baidi”, frequentemente associado ao “Projeto Nantianmen” na internet, que visa explorar tecnologias aeroespaciais futuras. O Baidi é imaginado como um caça capaz de operar transatmosfericamente, potencialmente engajando alvos a partir do espaço, embora isso permaneça no campo conceitual e futurista [​Airway​]. De forma mais concreta, durante o Zhuhai Air Show de 2024, foi apresentado um modelo do primeiro spaceplane comercial não tripulado da China, desenvolvido pela AVIC, projetado para missões logísticas à estação espacial chinesa, demonstrando o investimento do país na expansão de suas capacidades no domínio aeroespacial mais amplo.

Redação Vigília

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