EUA apresentam projetos de caças de 6ª geração F-47 e F/A-XX em corrida contra a China

Os Estados Unidos deram um passo significativo na aviação de combate com a recente apresentação oficial de seus projetos de caças de sexta geração: o F-47 da Força Aérea dos EUA (USAF) e o F/A-XX da Marinha dos EUA. As duas iniciativas, que ocorrem em um cenário global de crescente competição militar, especialmente com a China, destacam a importância estratégica que as forças armadas americanas atribuem à manutenção da superioridade aérea no futuro. Os anúncios públicos quase simultâneos demonstram uma preocupação acentuada em tentar projetar poder aéreo em um ambiente cada vez mais contestado.
O projeto F-47 está intrinsecamente ligado à iniciativa Next Generation Air Dominance (NGAD), que adota uma abordagem de “família de sistemas” em vez de se limitar a uma única aeronave. O conceito engloba um ecossistema integrado que inclui o F-47 como um caça tripulado (ou não), juntamente com aeronaves de combate colaborativas não tripuladas (CCA), sensores avançados e armamentos de ponta. A iniciativa NGAD nasceu dos estudos da Air Dominance Initiative da DARPA em 2014 e da subsequente Aerospace Innovation Initiative. O objetivo primordial do programa é desenvolver tecnologias cruciais para garantir a superioridade aérea, com foco em propulsão, furtividade, armamento avançado, design digital e gerenciamento térmico.

Dentro do ecossistema NGAD, o F-47 é a peça central tripulada, frequentemente referida como a plataforma Penetrating Counter-Air (PCA). Esta aeronave é concebida como um “sensor-atirador” rápido, de longo alcance e furtivo. Além de suas próprias capacidades de combate, o F-47 também atuará como um controlador avançado de drones, operando em estreita colaboração com drones CCA. A designação do F-47 como um “sensor-atirador” implica capacidades superiores na detecção, rastreamento e engajamento de alvos.
O programa NGAD evoluiu ao longo do tempo, com testes experimentais em voo ocorrendo desde provavelmente 2019. Em 21 de março de 2025, o Presidente Donald Trump anunciou a retomada do programa, a designação da aeronave como F-47 e a atribuição do contrato de desenvolvimento de engenharia e fabricação, no valor de mais de 20 bilhões de dólares, à Boeing. Durante uma conferência de imprensa na Casa Branca, o Presidente Trump declarou: “Estou emocionado em anunciar que, sob minha direção, a Força Aérea dos Estados Unidos está avançando com o primeiro jato de caça de sexta geração do mundo… Nada no mundo chega perto disso”. O contrato com a Boeing, em detrimento da Lockheed Martin, líder tradicional no desenvolvimento de caças, pode indicar uma decisão estratégica baseada em múltiplos fatores.
O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General David Allvin, admitiu que aeronaves experimentais (X-planes) estão voando desde 2020, estabelecendo as bases para o F-47. O Presidente Trump afirmou que uma versão experimental da aeronave estava voando secretamente “há quase 5 anos”. No entanto, o ex-Secretário da Força Aérea, Frank Kendall, revelou em 2023 que protótipos de X-planes voaram ainda antes de 2020, em meados da década de 2010. A DARPA especificou que o X-plane da Boeing voou pela primeira vez em 2019.
Capacidades e as implicações para a questão UAP
Dado o histórico de projetos militares avançados dos EUA envoltos em longo segredo e considerando as tecnologias de ponta incorporadas no F-47, não se pode descartar a possibilidade de que projetos ainda mais secretos e anteriores possam ter estado em desenvolvimento e voo, possivelmente contribuindo para alguns relatos de avistamentos de Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs) nos últimos cinco anos. Contudo, as fontes fornecidas não confirmam explicitamente tal ligação. O caso dos caças furtivos F-117A Nighthawk é um exemplo típico, já que sua existência só foi tornada pública praticamente durante sua estreia em batalha, em dezembro de 1989, durante a Operação Just Cause, com a invasão do Panamá pelos Estados Unidos para derrubar o ditador Manuel Noriega.
O F-47 incorporará uma série de tecnologias avançadas, sendo a furtividade avançada uma característica fundamental, com o objetivo de alcançar um “nível totalmente diferente de baixa observabilidade” em comparação com caças de quinta geração. Espera-se que ele utilize tecnologias como materiais avançados de absorção de radar e camuflagem adaptativa. O F-47 atuará como o nó central na “família de sistemas” NGAD, com forte conectividade de rede com satélites e outras aeronaves, e será estreitamente integrado com aeronaves de combate colaborativas (CCA) para diversas missões. O conceito de trabalho em equipe tripulado/não tripulado (MUM-T) será fundamental. Espera-se também que o F-47 utilize sistemas de armas avançados e tenha o potencial de operar com enxames de drones, com especulações sobre a possível integração de armas de energia direcionada.
Em termos de desempenho, prevê-se que o F-47 tenha uma velocidade máxima em torno de Mach 2. A USAF afirmou que ele será “mais sustentável e terá maior disponibilidade” do que os caças de quinta geração e que “custe menos” que o F-22, sendo adquirido em maior número. A missão principal do F-47 é a superioridade aérea, projetada para “ultrapassar, manobrar e superar qualquer adversário” e neutralizar ameaças avançadas como a China. O F-47 se destina a ser o sucessor do F-22 Raptor, com planos de ter mais unidades na frota. Segundo o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General David Allvin, o F-47 terá “alcance significativamente maior, furtividade mais avançada, será mais sustentável, terá maior capacidade de suporte e maior disponibilidade do que nossos caças de quinta geração”.
Quanto ao F/A-XX da Marinha dos EUA, este programa representa a iniciativa para um futuro caça de superioridade aérea de sexta geração baseado em porta-aviões. O objetivo principal é substituir o F/A-18E/F Super Hornet e o EA-18G Growler da Marinha, complementando o F-35C a partir da década de 2030. Espera-se que o F/A-XX apresente “sensores avançados” e “conectividade máxima de sensores”, incluindo a capacidade de se conectar com satélites e outras aeronaves para obter informações do campo de batalha em tempo real. Também são esperadas capacidades aprimoradas de guerra eletrônica, potencialmente superando as do F-35C. A Marinha deseja maior alcance operacional para o F/A-XX, potencialmente excedendo 1.000 milhas náuticas. A capacidade de sobrevivência aprimorada, incluindo furtividade avançada, é essencial para penetrar em densas redes de negação de acesso/área (A2/AD). O F/A-XX também deverá ser integrado com sistemas não tripulados, incluindo aeronaves de combate colaborativas (CCA), formando uma asa aérea tripulada/não tripulada.

Embora ambos os projetos façam parte da iniciativa NGAD, eles têm objetivos e requisitos distintos. O F-47 é primariamente um caça de superioridade aérea para operações terrestres, enquanto o F/A-XX é uma plataforma baseada em porta-aviões com capacidades multifuncionais. O F/A-XX coloca uma ênfase maior na fusão de sensores e na guerra eletrônica, impulsionada pelas complexidades do ambiente eletromagnético das operações navais.
A China também está desenvolvendo tecnologias de caças de sexta geração.
O desenvolvimento dos F-47 e F/A-XX pelos EUA é uma resposta direta ao crescente poderio militar de concorrentes como a China. A busca pela superioridade aérea tem profundas implicações geopolíticas, impactando as capacidades de dissuasão e projeção de poder e com o potencial de desencadear uma nova corrida armamentista em tecnologias avançadas de aviação militar. Como Hegseth declarou, “[O F-47] envia uma mensagem muito direta e clara aos nossos aliados de que não vamos a lugar nenhum e aos nossos inimigos de que podemos, e vamos, ser capazes de projetar poder ao redor do globo, sem impedimentos, por gerações”. Esta corrida armamentista tem um impacto significativo na base industrial de defesa, representando um investimento substancial. O sucesso desses programas é fundamental para garantir a capacidade dos Estados Unidos de proteger seus interesses no século XXI.
Em 26 de dezembro de 2024, a China surpreendeu a comunidade internacional com os voos inaugurais observados de dois protótipos que analistas associam à sexta geração de caças: um atribuído à Chengdu (especulativamente chamado J-36) e outro à Shenyang (especulativamente denominado de J-50). Esses eventos destacam o rápido avanço da China em tecnologias aeroespaciais e sua intenção de rivalizar com outras potências militares no domínio da aviação de combate.
J-36: capacidades emergentes do novo caça chinês
O protótipo Chengdu J-36, em particular, chamou a atenção por seu design inovador e características avançadas. Imagens de satélite já haviam revelado novos hangares na instalação de testes da Chengdu Aircraft Corporation (CAC), aparentemente projetados para abrigar uma fuselagem de grandes dimensões e formato incomum, possivelmente sem cauda ou com asas em delta. Confirmando um programa de testes ativo, em 25 de março de 2025, o J-36 teria realizado seu terceiro voo de teste conhecido, conforme evidenciado por imagens da aeronave em operação próxima às instalações da CAC.

Para além das observações dos protótipos, infográficos e análises que circulam online detalham as capacidades táticas e técnicas esperadas para o J-36. Ele é retratado como um caça otimizado para missões de Defesa Contra Aérea (DCA), dotado de características furtivas avançadas (“all aspect broadband stealth”) e sensores sofisticados, como arrays de varredura lateral (“side-looking arrays”) para ampla consciência situacional. Em termos de desempenho, espera-se alta velocidade, incluindo capacidade de supercruise (voo supersônico sustentado sem pós-combustor) e picos de Mach 2.8 a 70.000 pés com pós-combustão total. Sua grande capacidade de combustível permitiria operar em órbitas de patrulha avançadas (CAP). O armamento principal seria transportado internamente, com baias principais para mísseis de longo alcance como o PL-17 (descrito como hipersônico e letal contra grandes alvos aéreos de alto valor — HVAA) e baias laterais para mísseis como o PL-15E. Crucialmente, o J-36 é concebido para operar em rede com drones de alto desempenho (como os conceituais QJ-1 e QJ-2), que atuariam como multiplicadores de força engajando caças inimigos e aumentando a capacidade de sobrevivência e letalidade do conjunto, focando na destruição de ativos inimigos essenciais (HVAA) para desorganizar ataques adversários.
Indo além do desenvolvimento de caças atmosféricos, a China parece explorar conceitos de aeronaves com capacidades aeroespaciais. Um exemplo especulativo seria o projeto “Baidi”, frequentemente associado ao “Projeto Nantianmen” na internet, que visa explorar tecnologias aeroespaciais futuras. O Baidi é imaginado como um caça capaz de operar transatmosfericamente, potencialmente engajando alvos a partir do espaço, embora isso permaneça no campo conceitual e futurista [Airway]. De forma mais concreta, durante o Zhuhai Air Show de 2024, foi apresentado um modelo do primeiro spaceplane comercial não tripulado da China, desenvolvido pela AVIC, projetado para missões logísticas à estação espacial chinesa, demonstrando o investimento do país na expansão de suas capacidades no domínio aeroespacial mais amplo.