Futuro da “nova” Ufologia dos EUA está morrendo no UAP Disclosure ACT?

Futuro da “nova” Ufologia dos EUA está morrendo no UAP Disclosure ACT?
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O UAP Disclosure Act (Ato de Divulgação de Fenômenos Anômalos Não Identificados) tem sido objeto de intensa discussão e controvérsia. Pelo menos no âmbito dos EUA, de certa forma, o futuro da “nova” Ufologia — baseada em relatos de militares e oficiais da inteligência e da Defesa — depende dessa lei. E as últimas notícias não são boas para uma parte dos entusiastas do “desacobertamento total”.

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Proposto como uma emenda ao National Defense Authorization Act (NDAA), em seu texto original, o ato exigia que todas as organizações governamentais e empresas privadas contratadas pelo governo entregassem ao Congresso dos EUA seus documentos sobre Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs), eventuais objetos, corpos ou entidades vivas e tecnologias de inteligência não humana.

A emenda foi apresentada e aprovada no Senado em julho deste ano. A autoria é do senador Chuck Schumer. De lá para cá, houve bastante discussão e tentativas de alteração da proposta, enquanto o National Defense Authorization Act (NDAA) aguarda tramitação definitiva na Câmara e no Senado dos EUA — o que deve acontecer nos próximos dias — para seguir à sanção do presidente Biden.

Recentemente, ganhou notoriedade a ação de vários parlamentares, os “5 grandes republicanos”, mas em especial os representantes Mike Turner (R-OH) e Mike Rogers (R-AL), que intensificaram os esforços para eliminar ou alterar significativamente a redação do UAP Disclosure Act durante as negociações na conferência NDAA. E, essa semana, aparentemente eles venceram, conseguindo remover do texto final temas de crucial importância para que a proposta original funcionasse como deveria.

Texto final do UAP Disclosure Act traz poucos avanços

O texto final do documento foi divulgado nesta semana e manteve poucos aspectos chave da luta daqueles que buscam maior transparência nas tratativas governamentais e de inteligência com os fenômenos anômalos não identificados.

De acordo com a Seção 1841 do ato, uma coleção de documentos sobre OVNIs será criada nos Arquivos Nacionais dentro de 60 dias após a entrada em vigor da lei. Esta coleção incluirá todos os documentos relacionados a fenômenos anômalos não identificados, tecnologias de origem desconhecida e inteligência “não humana”. Sim, pelo menos aqui o termo ainda é usado no texto final.

Outra parte do documento estabelece um prazo para a divulgação total de documentos com mais de 25 anos, a menos que o Presidente entenda que a divulgação pode causar danos à defesa, inteligência ou relações com outros países. Todos os documentos devem ser enviados para o AARO e nenhum documento pode ser destruído, alterado ou mutilado. Mas há brechas: o texto permite que o escritório do Pentágono para UAP adie o prazo para divulgação, se entender que pode haver danos à defesa, inteligência ou relações com outros países.

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As Seções 1687 e 7343 vêm sendo ressaltadas como provavelmente aquelas que tratam do único avanço mais significativo. Elas limitam o financiamento de certos programas não relatados e relacionados a UAPs. Nenhum programa de OVNIs sem o conhecimento da liderança e dos comitês do Congresso pode usar fundos governamentais para treinamento, equipamento e missões de emergência para recuperação de OVNIs, análise de OVNIs, guarda de segredos de OVNIs, engenharia reversa de tecnologias de OVNIs, desenvolvimento de propulsão de OVNIs e aeronaves que não usam propulsão química, solar ou iônica.

A Seção 917 modifica a equipe multifuncional para responder a ameaças, identificando indivíduos, entidades, capacidades ou fenômenos aos quais esses incidentes podem ser atribuídos e pesquisando capacidades não cinéticas que poderiam resultar nesses incidentes, como emissão de energia direta.

Modificações atingem questões mais sensíveis do UAP Disclosure ACT

As modificações, no entanto, atingiram os pontos mais sensíveis da proposta. Trata-se de um golpe duro para a transparência em torno dos Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs). A linguagem chave do UAP contida no National Defense Authorization Act (NDAA) para o ano fiscal de 2024 foi brutalmente modificada, removendo qualquer semelhança com a ideia original.

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A proposta de uma campanha de divulgação controlada foi eliminada. O Conselho de Revisão Independente dedicado à divulgação de informações e materiais UAP, com participação de cientistas e civis, também foi eliminado. A autoridade do domínio eminente exercida pelo governo federal dos EUA sobre quaisquer materiais ou evidências biológicas de origem desconhecida ou não humana foi eliminada.

As novas proteções para denunciantes e testemunhas também foram eliminadas. A possibilidade de intimação de empreiteiros e responsáveis por programas governamentais relacionados ao tema também foi limada do texto final. A previsão de anistia para empreiteiros de defesa e outras entidades em posse de material relacionado ao UAP e envolvidos em ilegalidades, para que pudessem vir a público, deixou de existir no texto final.

Mesmo o senador Chuck Schumer, influente líder do Senado, juntamente com muitos outros no Congresso, não conseguiu romper as barreiras de sigilo que envolvem o UAP. A luta pela transparência e divulgação completa de informações sobre UAPs continua, mas o futuro permanece incerto.

Repercussão na comunidade ufológica

A divulgação do texto final do UAP Disclosure ACT caiu como uma bomba na comunidade ufológica norte-americana nessa semana.

John Greenewald, um dos principais divulgadores de documentos sigilosos da Defesa — sobre UAPs e outros temas —, fundador do site The Black Vault, tem sido uma voz ativa (e apreensiva) nesta discussão.

Em um tweet recente, ele tornou a expressar suas preocupações sobre a aprovação do ato, que ele já considerava cheio de ameaças à transparência mesmo em sua redação original. Ele afirmou que “a camada de sigilo sobre as informações do UAP se fortaleceu e engrossou desde 2017” e que “o projeto de lei, como originalmente escrito, não teria superado essa camada de sigilo”. Ele também mencionou que “é ainda mais óbvio que o governo dos EUA está jogando um jogo, e eles simplesmente não querem que você saiba o que está acontecendo”.

Um seguidor, que assina como “The Nature Boy Dick Hammer”, concordou com Greenewald e ironizou a questão: “EXATAMENTE, John. Se não há ‘nada para ver aqui’, por que toda a resistência, ofuscação e esforço ‘deles’ para esconder tudo? Obviamente há algo aí, sim.”

Esforço evidente para esconder a verdade sobre os UAPs

Esse tipo de opinião ou dúvida — “o que estão tentando esconder?” — no passado já serviu de gancho para muitas especulações e teorias conspiratórias na Ufologia. Mas agora ganha novos contornos quando desperta a indignação e o ativismo ufológico de cientistas da expressão do geneticista Garry Nolan, que também questiona o esforço pelo sigilo que parte da classe política e do governo vêm empreendendo no caso do UAP Disclosure ACT.

Nolan, que também tem defendido uma maior transparência em torno dos OVNIs há mais de uma década, pronunciou-se sobre o assunto. Ele vê o UAP Disclosure Act como um passo significativo nessa direção. Em um comentário nas redes sociais, o cientista destacou o papel bipartidário dos senadores Chuck Schumer e Mike Rounds na promoção de um projeto de lei sem precedentes “que trará tudo à luz”. No entanto, também criticou o esforço da Inteligência da Câmara e das forças armadas em bloquear o ato.

Ele expressou apoio à emenda UAP, que criaria um comitê de supervisão composto por cientistas públicos, economistas, cientistas sociais, líderes religiosos e especialistas em ética para analisar a questão dos OVNIs. No entanto, questionou por que as empresas aeroespaciais e o Departamento de Defesa estão tentando acabar com a lei, “se não há nada a esconder”.

A enigmática fala de Luis Elizondo

Quem parece menos preocupado com a conjuntura política em torno do tema é o polêmico Luis “Lue” Elizondo. Figura proeminente no campo da pesquisa de Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs), ele atuou por nove anos no Pentágono como chefe do Programa de Identificação de Ameaças Aeroespaciais Avançadas e serviu o Exército por duas décadas, executando operações de inteligência militar em locais como Afeganistão, América do Sul e o Acampamento Sete da Baía de Guantánamo.

Recentemente, depois de um comentário de um seguidor sobre os esforços de governo e alguns políticos dos EUA para barrar o desacobertamento, Elizondo fez uma declaração enigmática:

“Não tenha medo. Já temos um plano B, plano C e assim por diante. Agora sabemos onde estão as vulnerabilidades da cabeça de praia e de onde vem o fogo inimigo. Isso é extremamente importante e valioso para a divulgação”, disse em sua conta no X.

Sua afirmação sugere que, apesar dos obstáculos enfrentados na busca pela transparência em relação aos UAPs, existem planos alternativos em andamento que independem da aprovação ou não da legislação. Elizondo enfatizou a importância de entender as vulnerabilidades e ameaças ao esforço de divulgação.

Apesar do cenário desolador, o debate em torno da divulgação de informações sobre UAPs continua e o futuro da pesquisa de UAPs/UFOs permanece em aberto. Por um lado, parece improvável que a pressão pela transparência diminua por parte dos políticos das duas casas do Legislativo dos EUA —Congresso e Senado. E, considerando tudo o que já foi denunciado e dito por testemunhas qualificadas, vazamentos e teorias em discussão, a comunidade ufológica continua aguardando provas conclusivas para todas as afirmações contundentes já veiculadas.

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é empresário de comunicação, dono de agência de marketing digital e assessoria de imprensa, publisher de um portal de notícias regionais na Grande São Paulo, fundador e editor do Portal Vigília.

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