Invasão de drones: mistério se espalha pelos EUA e expõe falhas do governo

O mistério dos drones em Nova Jersey se intensificou, transbordando para outros estados e alimentando um crescente clamor público por respostas. Relatos de drones não identificados surgiram em vários locais, incluindo Virgínia, Maryland, Washington, D.C. e Califórnia, transformando o que antes era um fenômeno localizado em uma preocupação nacional. A proliferação desses relatos levanta questões sobre a escala e a natureza coordenada dessas atividades, aumentando a urgência por uma investigação transparente e abrangente.
Na tentativa de acalmar os ânimos, o FBI e o Departamento de Segurança Interna (DHS) acabaram agravando a situação ao negarem a ameaça e a origem dos drones. Em uma declaração conjunta emitida em 12 de dezembro de 2024, as agências federais afirmam que “não temos evidências neste momento de que os avistamentos de drones relatados representem uma ameaça à segurança nacional ou à segurança pública ou tenham um nexo estrangeiro“.

O comunicado prossegue minimizando os relatos, alegando que muitos dos avistamentos são, na verdade, aeronaves tripuladas operando legalmente, e que “não corroboramos nenhum dos avistamentos visuais relatados com detecção eletrônica“. Essa postura evasiva acabou provocando ainda mais críticas à ação federal, com acusações de que o governo estaria mentindo ou agindo com incompetência.
“Não corroboramos nenhum dos avistamentos visuais relatados com detecção eletrônica”, disseram FBI e DHS em nota conjunta.
A postura das agências foi recebida com indignação e revolta vista por grande parte da população e gerou forte reação de políticos e cidadãos afetados. Ganhou até mesmo críticas do ex-oficial de inteligência e atual denunciante UAP Lue Elizondo, que questionou a administração por negar a ameaça sem ter conhecimento sobre a natureza, origem, modus operandi e propósito dos objetos voadores: “Como esta administração pode alegar que não há ameaça à segurança nacional quando eles não sabem o quê, quem, como e por que é tão flagrante!“.
Com uma infinidade de novos vídeos duvidosos surgindo nas redes a todo momento, o senador eleito por Nova Jersey, Andy Kim, deu sua contribuição relatando sua experiência em primeira mão com os “drones misteriosos”. Ele postou o vídeo que registrou de seu avistamento de luzes supostamente anômalas em sua conta no X.com.
Last night I went out with local police to spot drone flying over New Jersey, here’s what I saw. We drove to Round Valley Reservoir and the officer pointed to lights moving low over the tree line. Sometimes they were solid white light, others flashed of red and green.THREAD pic.twitter.com/ly7kUUDWDn
— Andy Kim (@AndyKimNJ) December 13, 2024
Segundo Kim, ele dirigiu até o Round Valley Reservoir e o policial apontou para luzes se movendo baixo sobre a linha das árvores. Às vezes, elas eram luzes brancas sólidas, outras vezes piscavam em vermelho e verde. O político afirmou ter visto alguns objetos movendo-se em pequenos grupos de 2 a 4, realizando manobras horizontais e mudanças bruscas de direção que um avião não conseguiria executar.
No entanto, Mick West, um cético proeminente em relação a Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs), refuta a alegação de Kim, argumentando que as luzes observadas são consistentes com o tráfego aéreo convencional. West elaborou uma recriação em 3D do tráfego aéreo visto da localização de Kim, demonstrando que as posições e velocidades dos aviões correspondem às luzes no vídeo.
Here’s a 3D recreation of a minute of air traffic viewed from Senator-elect @AndyKimNJ‘s location, looking in the direction he was looking. Note the speed of the planes is consistent with his lights.
If he gives an exact start time of the video, we can identify his lights. https://t.co/ABcEGxJQzb pic.twitter.com/eOOPA6kXP8— Mick West (@MickWest) December 13, 2024
Testemunhas desafiam explicações simplistas
A frustração e a ansiedade da população são amplificadas pela falta de informações concretas e pela sensação de que as autoridades estão ocultando algo. A comunidade de Nova Jersey chegou a organizar um grupo online, o “New Jersey Mystery Drones – let’s solve it.”, no Facebook, que já conta com mais de 43.500 membros. O local tornou-se um fórum para compartilhar vídeos, relatos e teorias, evidenciando o crescente medo e a busca por respostas.
Karissa Facciponte, moradora de Nova Jersey, expressa a perturbação que sente: “Não consigo descrever o sentimento perturbador que tenho cada vez que me sento no meu alpendre […] e localizo no mínimo 4-7 drones de cada vez”.

As conversas entre os participantes tentam identificar céticos e trolls que apenas tentam desqualificar os relatos, e reconhecem que muitos dos vídeos podem ser aeronaves convencionais, mas fazem distinção entre esses casos e os registros que realmente têm incomodado os moradores.
Outro membro do grupo, Mike Meyers, resumiu a frustração e o temor da população:
“Fatos. Ver um fluxo repentino de drones ou seja lá o que for, flutuando no céu sem nenhuma explicação, é preocupante. Parece mais um precursor de que algo mau está no horizonte”.
Cresce o contingente de políticos cobrando o governo
A crescente apreensão transcendeu as fronteiras de Nova Jersey, com o ex-governador de Maryland, Larry Hogan, postando um vídeo de “grandes drones” sobrevoando sua casa nos arredores de Washington, D.C.. Hogan também critica a resposta do governo como “inteiramente inaceitável” e exige uma ação imediata.
Em Staten Island, Nova Iorque, a apreensão pública levou a uma coletiva de imprensa em 13 de dezembro de 2024, liderada pelo presidente do distrito, Vito Fossella, e outros oficiais eleitos. A conferência destacou a crescente frustração e o medo, com oficiais eleitos expressando indignação com a falta de transparência e ação por parte das autoridades federais.
Fossella expressou a frustração da comunidade, enfatizando a disparidade na resposta em comparação com outros incidentes de segurança. Para ele, se avistamentos semelhantes estivessem acontecendo perto da sede do governo estadual, em Albany, a resposta seria mais rápida e decisiva.
“Em Albany, haveria uma resposta imediata e intensa para descobrir o que eles eram e resolver o problema, e, no entanto, milhões de pessoas por aqui, em Nova Jersey, aqui em Staten Island e além, não estão recebendo nada além de ‘não acreditem no que veem'”.
A congressista Nicole Malliotakis ecoou a frustração de Fossella, argumentando que o governo americano tem os recursos para identificar os objetos, mas escolhe não ser transparente.
“Não acredito que os Estados Unidos da América, com suas capacidades militares, não saibam o que são esses objetos”. Ela acrescenta: “O que estou pedindo, e o que todos nós estamos pedindo, é que sejam francos conosco e nos digam o que está acontecendo”.
Jessica Scarcella, senadora estadual, também destacou a ansiedade pública causada pela falta de informações.
“Uma das melhores frases é que a luz do sol é sempre o melhor desinfetante, e deixar as pessoas e nossa comunidade à mercê de seus próprios recursos para decidir o que esses drones podem ser, poderiam ser, e não dar às pessoas respostas das autoridades, dos funcionários do governo que estão muito acima de qualquer um de nós aqui localmente, não é justo para nós”.
As críticas em relação ao comportamento pouco transparente do Governo Federal e do Departamento de Inteligência continuaram com o deputado estadual Michael Cusick, que condenou a falta de respostas do governo, às quais classificou de “completamente inexcusável”.
“Eles devem isso aos contribuintes, nós devemos isso aos contribuintes, nós, como representantes dos contribuintes, precisamos poder informar nossos constituintes sobre o que a investigação produziu, e não temos nada disso, não temos nada disso”.
O vereador David Carr argumentou que a comunicação do governo é fundamental para construir confiança, mas “o silêncio gera insegurança. […] Quando coisas dessa natureza acontecem, dessa magnitude, e acima de locais sensíveis, acima das casas das pessoas, elas têm o direito de querer saber o que está acontecendo”.
Documento falso da Divisão de Segurança contra Incêndios de Nova Jersey
A crescente pressão de políticos pedindo ou incentivando a derrubada de aeronaves tem potencial para escalar para riscos à segurança da aviação civil e da população em solo. Um dia antes, o deputado Jeff Van Drew (R-NJ) chegou a sugerir que os drones seriam provenientes de uma “nave-mãe iraniana” posicionada na costa leste dos EUA, alimentando ainda mais a paranoia. A informação foi refutada em declaração da Casa Branca durante coletiva de imprensa, considerada vaga e pouco convincente.
Agora, para complicar ainda mais o cenário, começou a circular um boletim de inteligência atribuído à Divisão de Segurança Contra Incêndios de Nova Jersey. Com instruções detalhadas sobre como lidar com drones caídos. O documento é potencialmente falso. Não há registro dele no canal oficial de boletins de inteligência da Divisão de Segurança Contra Incêndios de Nova Jersey e o cabeçalho é diferente das comunicações anteriores. Mesmo assim, o texto recomenda que os drones caídos não sejam abordados e que sejam mantidas distâncias de isolamento de 100 metros.

As informações de contato no falso boletim supostamente estariam ao menos corretas, segundo um usuário do X.com que garante ter confirmado o procedimento com um bombeiro. Mas embora a abordagem recomendável provavelmente seria a mesma expressa na comunicação adulterada, o episódio aumenta a confusão e pode levar a ações precipitadas por parte da população.
Com a resposta inconsistente do governo e a proliferação de informações não verificadas, aprofunda-se cada vez mais o clima de incerteza e especulação. Relatos de possíveis quedas de drones, vídeos de baixa qualidade e até mesmo imagens de jogos já estão sendo compartilhados como evidência de drones abatidos, demonstrando a desinformação galopante.
Gameplay de Titanfall III de um ano atrás esta circulando como sendo vídeo de drone abatido nos EUAUm vídeo de um avião de pequeno porte que caiu em Nova York, tendo decolado de Nova Jersey, foi amplamente compartilhado nas redes sociais como uma possível evidência de um drone abatido. No entanto, uma reportagem com imagens de alta resolução esclareceu o ocorrido, mostrando que se tratava de um acidente aéreo convencional.
Enquanto o mistério persiste, a necessidade de uma investigação completa e transparente torna-se cada vez mais crítica. A falta de comunicação clara e a recusa em reconhecer a legitimidade das preocupações públicas continuam a alimentar teorias da conspiração e a desconfiança nas autoridades. A inação do governo e a disseminação de informações falsas criam um ambiente volátil, com potencial para consequências imprevistas e perigosas.