Nave robô pode ter encontrado indícios de vida extraterreste em cometa


Na última semana, uma notícia ecoou bombástica nos meios leigo e especializado em astrobiologia. De acordo com pesquisadores europeus envolvidos na missão do robô Philae, que pousou no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko em novembro do ano passado, as características do objeto encontradas até agora sugerem a existência de micro-organismos vivendo abaixo da superfície. O explorador Philae foi lançado ao cometa pela nave mãe Rosetta, uma empreitada da Agência Espacial Europeia, a ESA. A sonda Rosetta continua orbitando o astro.
A ousada afirmação foi feita pelos astrobiólogos Max Wallis e Chandra Wickramasinghe, da Universidade de Cardiff, no Encontro Nacional de Astronomia em Llandudno, no País de Gales. Segundo eles, a crosta negra, rica em material orgânico e lagos gelados encontrados pelo robô Philae, só seria possível devido à presença de micróbios. Além disso, a partir da sua órbita, a nave espacial Rosetta teria encontrado aglomerados estranhos de material orgânico que se assemelham a partículas virais. Os dados indicam ainda que organismos que contêm sais anti-congelamento poderiam estar ativos em temperaturas abaixo de -40 ºC, como as que foram detectadas no cometa, que poderia possuir áreas congeladas cobertas de material orgânico, e micro-organismos envolvidos na formação dessas estruturas de gelo.

“Cinco séculos atrás era uma luta para que as pessoas aceitassem que a Terra não era o centro do universo. Depois dessa revolução, nosso pensamento manteve a Terra no centro em relação à vida e à biologia. Isso está profundamente enraizado na nossa cultura científica, e precisaremos de muitas provas para nos livrarmos disso”, afirmou o cientista Chandra Wickramasinghe, astrônomo da Universidade de Cardiff e professor honorário na Universidade de Birmingham, criticando a resistência das pessoas em aceitar a existência de vida extraterrestre.
Segundo ele, as condições encontradas nos cometas podem oferecer o ambiente necessário para o transporte de micróbios similares aos chamados extremófilos, organismos que sobrevivem em condições geoquímicas bastante adversas na Terra.
Essa teoria é a conhecida há algum tempo como o nome de Panspermia, e envolve a difusão de “sementes de vida” pela Terra e até mesmo em outros planetas a partir de cometas e asteroides capazes de passearem entre os sistemas planetários ao longo de milhões de anos. Seriam esses os verdadeiros ancestrais de terráqueos e alienígenas.
De qualquer forma, as modificações detectadas pela missão Rosetta na crosta do cometa ainda continuam no campo da especulação. “Isso não é facilmente explicado nos termos da química prebiótica [que estuda a formação das moléculas orgânicas necessárias à origem da vida na Terra]. O material negro é constantemente reabastecido como se fosse fervido pelo calor do sol. Algo deve estar fazendo isso em um ritmo bastante produtivo”, afirma o cientista.
As missões de Philae e Rosetta continuam. Lançada em março de 2004, a sonda viajou por dez anos acompanhada até se encontrar com o cometa 67P. Em 12 de novembro o robô pousou no cometa, em uma façanha histórica e trabalhou por 60 horas antes de entrar em standby por causa da iluminação insuficiente nos painéis solares. Acordou em junho, graças ao aumento da temperatura e da luz solar. Em breve deveremos ter mais novidades. Quem sabe a busca por ETs, pelo menos os microscópicos, esteja bem perto de encontrar seu primeiro resultado positivo…