Nova divisão UAP vai prejudicar investigação de óvnis, dizem Elizondo e Mellon

O novo departamento de investigação UAP criado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos já está sendo alvo de duras críticas do ex-oficial de contra inteligência Luis Elizondo, e de Chistopher Mellon, ex-secretário adjunto de Defesa para Inteligência dos Estados Unidos. Ambos duvidam da capacidade da nova divisão do Pentágono de lidar com os casos de óvnis e acreditam que ela tem potencial de prejudicar qualquer esforço de investigação.
Chamada de Grupo de Identificação e Sincronização de Gerenciamento de Objetos Aerotransportados, a nova unidade para investigar fenômenos aéreos não identificados foi anunciada no dia 23 de novembro. Tratou-se de uma resposta aos 140 relatos de encontros com UAP (ou óvnis) em quase duas décadas documentados no relatório preliminar sobre UFOs apresentado pelo Pentágono em junho deste ano. A formação do grupo foi comandada por Kathleen Hicks, vice-Secretária de Defesa do presidente Joe Biden.
Já no momento do anúncio, conforme adiantou o Portal Vigília, diversos ufólogos e políticos criticaram a medida mostrando preocupações quanto à transparência da ação. Eles denunciam que pode se tratar de uma manobra para esvaziar a força de uma nova empreitada que busca ampliar a investigação dos óvnis: a Emenda Gillibrand.
Apresentada pela senadora Kirsten Gillibrand, uma proposta de emenda ao orçamento militar deste ano prevê a criação de um amplo e transparente ecossistema oficial de investigação sobre fenômenos aéreos anômalos, os UAPs. E a proposta vem ganhando apoio bipartidário rapidamente, caminhando para a aprovação em breve.
Investigação UAP no lugar errado
Em entrevista a Marik Von Rennenkampff, colunista do The Hill, Elizondo revelou que tem “profundas reservas” sobre o Gabinete do Subsecretário de Defesa para Inteligência e Segurança liderando um esforço do governo para investigar o fenômeno OVNI. Rennenkampff já foi analista contratado do Departamento de Defesa dos EUA durante o governo Obama.
“Se quisermos mais 70 anos de sigilo sobre esse assunto, então [o escritório do Subsecretário de Inteligência] é o lugar perfeito para colocá-lo. Eles tiveram quatro anos até agora, e nós temos poucos esforços para servir ao interesse público”, disse Luis Elizondo.
Segundo ele, nova divisão já nasceria “terrivelmente mal equipada” e “com pessoal inadequado” para enfrentar sua nova missão. Além disso, a iniciativa corre o risco de descarrilar no Congresso a proposta que obriga a transparência governamental sem precedentes sobre UFOs.
Na mesma linha, também ouvido pelo The Hill, Christopher Mellon expressou estar “chocado” com o anúncio de que a nova divisão vinculada ao Escritório Subsecretário de Inteligência estaria assumindo a missão permanente de analisar encontros de óvnis.
Mellon observou que, na sua época, o escritório fazia apenas supervisão, sem nenhum “financiamento, autoridade de linha, contratação, comando ou capacidades técnicas” relevantes para executar o tipo de investigação UAP robusta que a legislação bipartidária de Gillibrand propõe.
“A incapacidade [do escritório do subsecretário de inteligência] de se engajar efetivamente na questão [óvni] é a razão pela qual tão pouco mudou ou foi realizado desde 2004”, disse Mellon.
A referência de Mellon a 2004 não é acidental. Naquele ano, quatro aviadores navais observaram de perto um misterioso objeto voador que parecia demonstrar tecnologias extraordinárias. O relato desse encontro, relacionado aos porta-aviões USS Princeton e USS Nimitz, deu origem ao famoso UFO Tic Tac.
De acordo com a tripulação, a nave desconhecida acelerou instantaneamente a velocidades hipersônicas sem motores, asas ou outras superfícies de controle discerníveis. O relato do incidente de 2004, os aviadores é corroborada por operadores de radar a bordo de um próximo navio e um comando e controle aerotransportado aeronave.
Inépcia e objeção moral
Na entrevista ao The Hill, embora Elizondo elogie a atenção da vice-secretária de Defesa Kathleen Hicks para a questão dos OVNIs, ele expressa a preocupação de que Hicks “está sendo enganada por certos elementos e membros de sua própria equipe”. Ainda mais duro, Elizondo acusa o Escritório do Subsecretário de Inteligência de “uma combinação de inépcia, objeção moral ao tópico [e] estigma e tabu clássicos”.
“Existe documentação que, se tornada pública, ilustraria o senso de urgência e a necessidade de um escritório neutro, imparcial [e] objetivo” [para investigar o fenômeno OVNI], declarou Elizondo.
Ele provavelmente sabe do que está falando. Quando deixou o Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais da Agência de Inteligência de Defesa (Advanced Aviation Threat Identification Program – AATIP), Elizondo já reclamava do do desinteresse e da falta de empenho do Departamento de Defesa em verdadeiramente investigar a fundo os encontros de militares com óvnis que seria o objetivo primário do programa que chefiou.
Apesar dos novos desdobramentos, o ex-militar se mostrou cautelosamente otimista de que a legislação bipartidária proposta pela senadora Gillibrand avance. “Acho que estamos em uma boa situação. Acho que percorremos um longo caminho. Parece que há muitas pessoas tentando realmente apoiar isso de uma forma produtiva – não sensacionalista”, disse.
Com informações de The Hill e USNews
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