O Memorando “Round Robin”: novamente o FBI e os UFOs

Como devem imaginar, todos os dias chegam à redação do Portal Vigília inúmeras histórias, fotos, vídeos, artigos sobre o fenômeno dos UFOs; e com eles montanhas de perguntas. Mas materiais como o Memorando Round Robin, do FBI (Federal Bureau of Investigation ou Departamento Federal de Investigação, dos EUA), representam raras oportunidades de buscar a verdade em documentos comprovadamente oficiais. Provas de acobertamento talvez?
Tentamos sempre obter toda a informação, provida de vários ângulos e vistas sobre prismas diferentes para podermos escrever e publicar a notícia ou o artigo de forma consistente, para ter uma visão séria sobre o assunto e não correr o risco de, quando nos lerem, não surgir na mente do leitor a imagem daquele apresentador dos “Alienígenas do Passado”, que grita “ET!” para qualquer coisa que lhe apareça à frente.
Quando o assunto toca a entidades oficiais ou governamentais, o sonho de qualquer um de nós é a confirmação de que “algo existe”. Foi com esse espirito que, quando nos chegou às mãos a página 22 dos documentos liberados pelo FBI no famoso “Vault”, fomos à procura da fonte, de como aquilo tinha surgido e qual era o contexto. Seria mais uma chance de provar que o FBI sabia sobre a natureza alienígena do fenômeno UFO, como estava circulando na Internet?

O documento traz um relato fantástico, menciona de avistamentos de naves, sugere como proceder, o que são de fato, o que pretendem e de onde vêm os OVNIs. Tirando o fato de ser mais um relatório do FBI, o que por si só é super interessante, quando olhamos para o título ficamos ainda mais curiosos: “The Round Robin”.
Uma busca mais apurada mostra que o termo não é genérico: é a denominação de um algoritmo específico utilizado em ciência de computação para escalonar processos multitarefa.
De pronto vem-nos a pergunta: “Será que…?”… Isto porque, afinal, o documento original é de 1947!
Mas a despeito da expectativa causada aos amantes de uma boa conspiração, embora seja um termo utilizado no campo da informática, não era a isso o que o documento liberado se referia naquela altura.
“The Round Robin” deve ter sido um dos primeiros jornais, senão o primeiro, a abordar o fenômeno OVNI, ainda antes do famoso avistamento de Kenneth Arnold, em 24 de junho de 1947, quanto teve início o que chamamos de Era Moderna da Ufologia.
Quem escrevia o jornal Round Robin e sobre o que?
Estamos falando de Meade Layne, nascido em 1882. Foi um parapsicólogo americano que se formou na Universidade Americana no Sul da Califórnia e que adotou a profissão de professor ao longo da sua vida. Foi Layne também um dos primeiros estudiosos a defender a hipótese de que os OVNIs seriam pilotados por seres interdimensionais.

Quando começou a interessar-se pelo esoterismo, Layne tornou-se estudante de uma variedade de ciências ocultas, incluindo a cabala. Até que, em 1945, estreou a publicação do seu próprio jornal: “The Round Robin”.
Foram 14 anos nos quais Layne foi editor e onde foram publicados centenas de artigos esotéricos. O fenômeno OVNI esteve sempre presente nas edições. As publicações tiveram tal sucesso que deram origem a vários livros.
Layne acumulou um arquivo extenso de material ligado ao oculto e se dedicou para mantê-lo em circulação. Todos estes esforços deram origem à Borderland Sciences Research Associates, uma associação onde os investigadores podiam estudar todo tipo de material ou fenômeno incomum usando ocultismo, e assim poderiam supostamente acessar informações por meios não convencionais ou alternativos.
Ao chegarmos às publicações do The Round Robin, deparamo-nos com centenas de artigos sobre tudo o que se possa imaginar relativo ao insólito. Estes são alguns exemplos de artigos publicados ainda em 1945:
“Prospice – 1945 (and shapes of passing things), an editorial on the atomic bombing of Japan and the future it heralds • The Razor of Occam (Objection to the abuse of a principle of logic) • Fire over Almeria (Fortesque and grotesque happenings in Spain) • Mysteries of the Altitudes (What goes up may not come down)”
Em tradução livre:
“Prospice – 1945 (e formas das coisas que passam), um editorial sobre o bombardeio atômico do Japão e o futuro que ele anuncia • A Navalha de Occam (objeção ao abuso de um princípio de lógica) • Incêndio sobre Almeria (acontecimentos fortuitos e grotescos) na Espanha) • Mistérios das Altitudes (o que sobe pode não cair) • “
Mas foi precisamente no início de julho de 1957, logo após tomar conhecimento do amplamente divulgado avistamento de Kenneth Arnold, que Layne publicou um extenso artigo intitulado “FLY, LOKAS, FLY! (The incursion of the ‘flying saucers’)“, ou, em tradução livre: Voem, Lokas, voem! (A incursão dos discos voadores), no volume 3, edição 6 do “RR”.
Neste artigo, o pesquisador faz uma apaixonada defesa da natureza insólita do fenômeno OVNI observado por Arnold e o associa ao conceito de Lokas. O termo é bastante complexo. Vamos emprestar a definição deste link, pertencente ao Banco de Dados UFO-Alien: “Lokas ou Talas é um conceito na mitologia hindu que se refere a mundos ou realidades alternativos e no contexto mais simples (mas altamente impreciso) múltiplas dimensões. Esses mundos são explicados em Prajapati e depois expandidos na Teosofia”.
Era um conceito bastante conhecido na Sociedade Forteana, da qual Layne fazia parte. “Forteana” vem de Charles Fort, seu inspirador. (Fort colecionava fatos insólitos que não poderiam ser explicados pela ciência de seu tempo. Foi o primeiro a escrever sobre o sobrenatural e precursor do realismo fantástico. Era um crítico ferrenho da ciência e dos cientistas).
“Sim, acho que pode ser certo dizer que eles vêm dos Lokas.” [*] “Não, eles não são astrais e nem de nenhum dos planetas que você conhece. Eles vêm de um planeta etérico que seus sentidos não percebem. Alguns dos discos carregam uma equipe, mas outros são gerenciados por controle remoto”
(Trecho do artigo original).
Foi exatamente essa enorme quantidade de alegações (sem provas!) do jornal de Layne que levantou a curiosidade do FBI, ao ponto de agentes do bureau produzirem o tal memorando da página 22. O documento chega a copiar literalmente trechos do artigo no Round Robin, como vai perceber o leitor mais atento que se der ao trabalho de consultar o original, neste link.
Portanto, esta é mais uma daquelas histórias sobre boatos, informações de amigo do amigo, que foram parar num improvável memorando do FBI. Já tínhamos visto isso antes, no caso do Memorando Guy Hottel.
Mas, no final, se o relatório em si não traz de fato nenhuma informação bombástica com a comprovação de que o FBI tinha informações confidenciais sobre UFOs ou OVNIs, fica uma pergunta: se tudo era tão notoriamente “sensacionalista” no Round Robin, porque razão no final dos anos 40, pós-guerra, a agência de informação norte americana fazia tantos relatórios sobre o fenômeno OVNI? Esta é uma pergunta que deixamos à imaginação dos leitores!
Para os que se interessaram, segue o volume completo desse arquivo do FBI para leitura e download.