Pode a Teoria dos Jogos nos ajudar a contatar extraterrestres?

Pode a Teoria dos Jogos nos ajudar a contatar extraterrestres?
Teoria dos jogos aplicada à busca por extraterrestres
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Um astrofísico da Universidade de Manchester, na Inglaterra, sugere usar uma estratégia relacionada ao jogo cooperativo, conhecida como Teoria dos Jogos, para maximizar as chances de fazermos contato com civilizações extraterrestres avançadas.

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Na última década, graças a grandes melhorias na sensibilidade de equipamentos óticos, sensores relacionados à operação de telescópios e radiotelescópios, bem como técnicas de pesquisas astronômicas, avanços significativos vem acontecendo na descoberta de exoplanetas e novos fenômenos celestes. Com isso ampliam-se as perspectivas e as iniciativas que envolvem a busca por sinais de inteligências extraterrestres, ou SETI (de Search for Extraterrestrial Intelligence, em inglês).

Um artigo publicado no The Astronomical Journal pelo Dr. Eamonn Kerins, pesquisador do observatório Jodrell Bank e astrofísico da Universidade de Manchester, propõe uma nova estratégia baseada na teoria dos jogos que pode melhorar as chances da busca SETI em produzir resultados.

A teoria dos jogos é um ramo da matemática que tem aplicações em diversos aspectos do nosso cotidiano, inclusive nas economias das nações. Ela ganhou grande visibilidade graças a uma cena famosa no filme “Uma Mente Brilhante”, de 2001, produção que retrata a vida do matemático John Forbes Nash Jr.

Mas o que SETI tem a ver com a teoria dos jogos?

Ocorre que os programas SETI tendem a usar duas abordagens distintas. Uma é fazer uma pesquisa que varre grandes áreas do céu na esperança de obter um sinal em algum lugar. Essa abordagem de pesquisa pode gerar rapidamente gigantescos volumes de dados, que podem dificultar bastante uma filtragem mais cuidadosa. É como procurar uma agulha num palheiro.

A abordagem alternativa possibilita uma busca muito mais intensa, estritamente focada em sistemas estelares específicos onde a vida extraterrestre poderia estar emitindo sinais. Isso fornece dados muito mais completos sobre esses sistemas, mas há outro problema: sem um critério bem definido, os astrônomos podem simplesmente estar olhado para os lugares errados, onde não há qualquer vida.

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Detectabilidade Mútua: a teoria dos jogos em busca de extraterrestres

Para melhorar as chances de detecção, o Dr. Kerins propõe então recorrer à teoria dos jogos: “na teoria dos jogos existe uma classe de jogos conhecida como jogos de coordenação, que envolvem dois jogadores que têm de cooperar para vencer, mas não podem se comunicar um com o outro. Quando fazemos SETI, nós e uma outra civilização ali tentando se comunicar, estamos jogando exatamente esse tipo de jogo. Portanto, se nós dois quisermos fazer contato, podemos olhar para a teoria dos jogos para desenvolver a melhor estratégia”, defende.

O cientista denomina esse conceito de Detectabilidade Mútua. Para o Dr. Kerins, os melhores lugares para procurar sinais são os planetas a partir dos quais seríamos capazes de determinar se a própria Terra pode ser habitada. A conclusão é lógica: “se tivermos evidências de um planeta potencialmente habitado, e as civilizações lá tiverem evidências semelhantes sobre nosso planeta, ambos os lados devem ser fortemente incentivados a se envolverem em SETI, porque ambos saberão que as evidências são mútuas”.

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Concepção artística do exoplaneta Kepler-452b, encontrado em uma zona habitável (Foto: NASA/JPL-Caltech/T. Pyle)

Essa abordagem sugere o exame de exoplanetas em trânsito – planetas que estão em órbitas que passam diretamente pela frente de sua estrela de origem, fazendo-a parecer mais escura por um breve período. Mas não de forma apenas a confirmar dados de orbita e posição destes planetas, como já fazem os astrônomos. A intenção seria justamente usar esse efeito do trânsito para tentar determinar se são planetas rochosos como a Terra e, se possível, determinar a composição de suas atmosferas, bem como se mostram evidências de vapor d’água, por exemplo.

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Complementarmente, o contrário também precisaria ser determinado: “o que acontecerá se esses planetas estiverem alinhados com o plano da órbita da Terra? Eles poderão ver a Terra passando pelo Sol e poderão acessar o mesmo tipo de informação sobre nós. Nossos planetas serão mutuamente detectáveis”, explica Kerins.

A área a partir da qual a Terra é vista em trânsito pelo Sol é conhecida como Zona de Trânsito da Terra. Em seu artigo ele já estima que deve haver milhares de planetas potencialmente habitáveis ​​localizados nesta área.

Nova abordagem, ideia antiga

O emprego da teoria dos jogos na busca por sinais de extraterrestres não é exatamente uma novidade. A abordagem sugerida por Kerins é baseada no que é conhecido como “dilema do prisioneiro”, que foi anteriormente usado pelo pesquisador Harold de Vladar, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria em Klosterneuburg. Em 2012, em artigo publicado no International Journal of Astrobiology (IJA), Vladar conceituou que a busca por alienígenas é uma espécie de dilema do prisioneiro ao contrário.

O dilema exemplifica uma situação onde dois prisioneiros escolhem entre admitir um crime que ambos cometeram juntos ou ficar calados, com sentenças diferentes dependendo do que disserem. Um prisioneiro fica em liberdade se delatar o parceiro que permanece em silêncio. Neste caso o parceiro silencioso recebe uma pena máxima. Se ambos delatarem um ao outro, cada um receberá uma sentença média. Por outro lado, se ambos ficarem em silêncio, receberão sentenças apenas simbólicas, o que seria o melhor resultado geral para ambos. O problema é que eles estão isolados e um não sabe o que o outro disse ou deixou de dizer.

No caso da pesquisa SETI, o silêncio mútuo para os prisioneiros da Teoria dos Jogos é equivalente à transmissão mútua para terráqueos e extraterrestres, dando os melhores resultados para ambas as civilizações. E enquanto um prisioneiro egoísta é um dedo-duro, uma civilização egoísta fica em silêncio, esperando que outra se arrisque para gritar “é por aqui!” para resto do universo. Com isso em mente, Vladar idealizou uma série de estratégias de transmissão ideais. “Não se trata de transmitir ou não, mas com que frequência”, defendeu Vladar.

A detectabilidade mútua e o egoísmo da Terra

De um ponto de vista da segurança dos terráqueos, a abordagem de Vladar não está livre de críticas. Alguns cientistas, com base na própria história da humanidade, chegaram a propor que o egoísmo seria uma estratégia mais prudente.

Um destes cientistas foi o falecido professor e célebre físico Stephen Hawking. Notório divulgador da ciência, patrono de iniciativas de busca por alienígenas, Hawking chegou a alertar sobre os perigos potenciais de enviar sinais a civilizações que poderiam ter vasta superioridade tecnológica sobre nós. Mas se todas as civilizações tiverem o mesmo receio, ficarão todas em silêncio e não haverá nenhum sinal para detectar. Isso é conhecido como Paradoxo SETI.

Yuri Milner e Stephen Hawking na conferência de imprensa que apresentou a iniciativa Breakthrough
Yuri Milner e Stephen Hawking na conferência de imprensa que apresentou a iniciativa Breakthrough

No entanto, o Dr. Kerins defende que seu trabalho mostra como resolver esse paradoxo. “As civilizações em um planeta localizado na Zona de Trânsito da Terra podem dizer se a evidência básica de seu planeta em trânsito é mais clara para nós ou se nosso sinal é mais claro para eles. Nós também saberemos. Saberemos disso também. Faz sentido que a civilização que tem a visão mais clara do planeta do outro ficará mais tentada a enviar um sinal. A outra parte saberá e, portanto, deve observar e ouvir o sinal”, explica o pesquisador.

No artigo sobre sua pesquisa, o Dr. Kerins mostra que a grande maioria dos planetas habitáveis ​​na Zona de Trânsito da Terra devem estar em órbitas em torno de estrelas de baixa massa, que são mais fracas que o Sol. Ele mostra ainda que eventuais civilizações nestes planetas teriam uma visão mais clara de nós. Usar a teoria da detectabilidade mútua sugere que programas SETI específicos devem, portanto, focar na procura de sinais de planetas potencialmente habitáveis ​​em torno de estrelas fracas.

“Em breve teremos o primeiro catálogo de planetas que podem ser habitados por civilizações que já sabem algo sobre nosso mundo. Eles podem saber o suficiente para serem tentados a enviar uma mensagem. Esses são os mundos nos quais realmente precisamos nos concentrar. Sim, eles sabem sobre a teoria dos jogos e eles esperam que os escutemos”, defende Kerins.

Com informações de Clarin e Newscientist

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Redação Vigília

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