Ufologia e cautela: um ‘colírio para os olhos sãos’

Cautela: precaução para evitar dano, transtorno ou perigo; cuidado, prudência. Esse é o primeiro resultado no Google para descrever o significado da palavra.
Qualquer pessoa minimamente sensata aplica essa definição em suas ações diárias. Contudo, não somos máquinas programadas e, ocasionalmente, caímos em inesperadas armadilhas.
Com o passar do tempo, o aprendizado nos proporciona sensatez para lidar com essas situações.
O que define um crente, senão suas verdades absolutas e convicções inabaláveis? Sejam essas convicções intrínsecas ou impostas, muitas vezes geram uma sucessão de incertezas.
Agarrar-se ao que consideramos fatos concretos é uma escolha comum, especialmente quando esses fatos estão alinhados com nossas crenças. Isso é um problema? Em princípio, não. Mas, quando falamos de fatos, nem sempre nossa perspectiva pessoal será suficiente para legitimá-los.
Portanto, a cautela, enquanto escudo da razão, deve sempre estar presente.
O ceticismo consiste em seguir os dados onde quer que eles nos levem, mantendo dúvidas e questionamentos como guias ao longo do caminho, independentemente das respostas que encontrarmos.
Na ufologia, o ceticismo é essencial, como um óculos para um míope. Mas um ceticismo saudável, útil e baseado em evidências.
Se ceticismo significa alcançar resultados com base em dados coletados, sem ser corrompido por expectativas, qual seria sua relação com a ufologia?
Minha breve análise é a seguinte:
Ao discutir ceticismo, é comum focar nos “ufólotras” – aqueles que acreditam cegamente em OVNIs e extraterrestres – mas esquecemos dos “céticos glaucomados”. Esses também são crentes, embora o termo possa soar contraditório. São crentes porque aplicam seletividade em suas convicções, distorcendo ou ignorando fatos conforme lhes convém.
Como devemos chamar alguém que, diante de fatos, os distorce ou os ignora deliberadamente? Vaidoso intelectual? Presunçoso? Precipitado? Qualquer uma dessas características pode descrevê-lo.
Na ufologia, a cautela é a principal ferramenta de pesquisa. Quem a utiliza de forma constante jamais será enganado.
Ao observar algo no céu, ao analisar uma imagem ou assistir a um vídeo, é indispensável manter a lucidez. Na lucidez reside a razão, e, com ela, a cautela. A ufologia é um campo nebuloso que frequentemente prega peças em seus investigadores. Sem uma visão clara, estamos suscetíveis ao erro.
Não é saudável, em nossa busca por confirmações ou refutações, ignorar indícios ou evidências que possam nos levar a resultados indesejados. Às vezes, a verdade não é agradável, mas ela deve ser buscada.
Com frequência, inflamos nossos egos ao induzir estados mentais que reforçam nossas convicções, ignorando o impacto disso na qualidade de nossa análise.
No campo da investigação ufológica, a imparcialidade é fundamental. Ela dá significado ao que chamamos de ufologia. Criticar crenças alheias enquanto alimentamos as nossas próprias, ainda que inversas, é improdutivo. Um negacionista é tão irracional quanto alguém que sustenta crenças sem evidências. Ambos compartilham o mesmo “estado de visão.”
Afirmar em excesso sem cautela é insensatez. Negar sem examinar é igualmente tolo.
O seletivismo na análise é o que define o estado de “glaucoma” intelectual.
Para ser claro: é preciso responsabilidade em todos os âmbitos. A chacota só é válida para quem pode garantir total imparcialidade em suas pesquisas.
De que adianta buscar falhas nos outros se não corrigimos as nossas próprias?
“Matar a cobra e mostrar o pau” – essa é a postura ideal.
Ufologia, ceticismo e cautela: essas três palavras devem andar juntas, na ordem correta. Pois apenas a cautela tem o poder de evitar mal-entendidos.
Em quem confiar? Naqueles que, em busca de confirmação, afirmam indiscriminadamente, ou naqueles que, tentando negar, o fazem sem examinar?
A doença do seletivismo está aí: contagiosa e prejudicial. Os olhos que enxergam apenas o que desejam tornam-se instrumentos de desinformação, ainda que preguem a razão.
“Céticos glaucomados”, assim os defino; enxergam apenas o que desejam e quando lhes convém. Ignoram evidências, negligenciam fatos, abrem mão da cautela, alimentam seus egos e se fortalecem em suas convicções aprisionadas.
“Corte o ridículo e busque informações factuais na maioria dos comentários céticos, e geralmente não sobra nada. Isso não é surpreendente. Afinal, como alguém pode se opor racionalmente a um chamado para exame científico de evidências? Seja cético em relação aos ‘céticos’.” – Bernard Haisch, físico.