Você pode ajudar os cientistas a encontrarem inteligências extraterrestres
A idéia é simples e –como em geral são as simples e boas idéias– brilhante. No dia 14 de maio foi disponibilizado aos usuários da Internet o software do projeto SETI@home [lê-se “SETI at home]. Um protetor de tela que protagoniza aquela que provavelmente será a mais intensa pesquisa SETI (Search for Extratterestrial Intelligence ou, traduzindo, Busca por Inteligência Extraterrestre) já empreendida pela humanidade.
Através do SETI@home, milhares de pessoas em todo o planeta, em seus computadores em casa, na escola ou no trabalho, na hora do café ou enquanto páram seus afazeres para relaxar alguns instantes, estão analisando ondas de rádio espaciais que foram captadas diretamente pelo Rádiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico. E ajudam os cientistas do SERENDIP (da sigla, em inglês, que significa Busca por Emissões de Rádio Extraterrestre de Populações Próximas Desenvolvidas e Inteligentes), da Universidade da Califórnia. (O software pode ser baixado gratuitamente em versões para Mac, Windows e Unix na homepage do SETI@home em http://setiathome.ssl.berkeley.edu/).
Até agora, a pesquisa SETI era basicamente feita por radioastrônomos procurando sinais de freqüência estreita. Muitos fenômenos celestes produzem sinais de rádio naturalmente e essas ondas são capazes de atravessar núvens de poeiras cósmicas viajando à velocidade da luz pela imensidão do espaço. No entanto, os sinais de freqüência estreita não são encontrados em fenômenos naturais.
Entretanto, existiam poucos projetos trabalhando nesta busca. Um dos mais conhecidos é o Projeto Phoenix, do SETI Institute (http://www.seti.org). O SETI Institute, que trabalha em parceiria com pesquisadores do SERENDIP e outros programas SETI similares, era mantido com verbas da NASA até 1993, mas cortes no orçamento quase colocaram um fim à pesquisa. Com a indisposição do Congresso norteamericano em aprovar verbas para o SETI, o instituto precisou da ajuda de patrocinadores como a Planetary Society (Sociedade Planetária), integrada por cientistas e representantes de empresas privadas, além de colaborações voluntárias provenientes de admiradores da pesquisa SETI em diversas partes do mundo.
Mesmo assim, a capacidade de análise dos dados ainda era bastante limitada. A solução foi o programa SETI@home.
Embora a idéia básica seja simples, o desenvolvimento do software e da estrutura para conectar os computadores sem prejuízo dos dados demorou cerca de 3 anos. No início deste ano começaram os testes com a versão Unix. Em todo o processo de desenvolvimento os organizadores contaram com a colaboração de voluntários que ajudaram a aperfeiçoar o funcionamento do screensaver. Não foi uma tarefa fácil, afinal, além de se tratar de uma enorme empreitada de análise de dados, é também a maior atividade computacional em grupo já desenvolvida no Planeta Terra.
Todos os projetos SETI existentes usam equipamentos específicos para processamento de sinais, que “escutam” as ondas de rádio captadas pelo telescópio em tempo real em milhões de canais de freqüência simultaneamente. Apesar de impressionante, essa análise fica apenas na superfície do que é possível fazer. Como as buscas de freqüências em tempo real são capazes de checar um número pequeno de larguras de banda, tempos de deslocamento de frequência e periodicidades de pulso, foi planejado um novo tipo de busca, que analisa uma parte pequena do espectro de freqüências de maneira mais extensiva. Essa é a missão do SETI@home.
A Revista Vigília conversou, por e-mail, com o cientista chefe do projeto SETI@home, Dan Werthimer, físico do Laboratório de Ciências Espaciais da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Werthimer revelou que os organizadores do projeto esperam a adesão de cerca de 400 mil internautas na busca (até o fechamento desta matéria as estatísticas da homepage do SETI@home indicavam a participação de cerca de 300 mil pessoas). Segundo o cientista, no atual estágio, em apenas uma semana o projeto está conseguindo o equivalente a 100 anos de análises de dados.
Embora confiante quanto aos resultados da pesquisa, Werthimer não alimenta falsas expectativas de que a detecção de um sinal aconteça a curto prazo. “O universo é certamente repleto de vida, mas a detecção de uma mensagem de rádio não é fácil de se prever. Eu acho que isto vai acontecer em 50 ou 100 anos”, poderou. O cientista garante que se a detecção de fato ocorrer, tudo vai ser divulgado ao público. “Minha expectativa é de que os cientistas ao redor do mundo tentarão decodificar o sinal”, afirma, indicando que será necessária toda a ajuda possível na interpretação de uma possível mensagem.
Perguntado se alguma vez no passado a ciência se preocupou tanto em procurar vida extraterrestre e o porquê dessa busca, Werthimer foi enfático: “todo mundo quer saber se estamos sozinhos. Há alguém lá fora? Os moradores da Terra estão começando a desenvolver a tecnologia para responder a esta pergunta. Nós podemos aprender muito com uma civilização avançada”, avaliou.
Como o programa funciona
(Onde fazer o donwload: http://setiathome.ssl.berkeley.edu/)
O software SETI@Home é pequeno o bastante para não ser necessário muito tempo de download. A versão para Windows, que é a maior, tem pouco mais de 700kb. O mínimo requerido para o equipamento rodar a aplicação é 32MB de memória RAM e capacidade de monitor para apresentação de tela com resolução de pelo menos 800×600, em 256 cores. Em versões para Windows, Macintosh e Unix, ele funciona como um protetor de tela comum: só entra em operação quando o computador deixa de ser usado. (O usuário pode optar pelo processamento em tempo integral, embora isso, para micros com menos de 64 MB de memória RAM, diminua bastante o desempenho do equipamento na realização das outras tarefas).
Uma vez instalado o software “cliente”, o usuário preenche algumas informações que serão utilizadas na abertura de uma espécie de “cota” no servidor SETI. Um mesmo usuário pode instalar o software e analisar dados em vários computadores –por exemplo no trabalho, em casa e na escola. Cada máquina, no entanto, estará verificando um novo pacote de dados do radiotelescópio de Arecibo, que é recebido quando o computador se conecta à Internet.
Dependendo da velocidade do processador, da quantidade de memória RAM e do tempo ocioso do computador, outra conexão só será necessária em uma ou duas semanas, quando os resultados serão enviados de volta ao servidor e um novo pacote de dados será baixado. O próprio programa se encarregará de informar ao usuário quando essa conexão for necessária.
Uma vez baixado o pacote, não será mais necessário conectar-se à Internet para os dados serem analisados. Quando em operação, o screensaver mostra uma tela com detalhes do usuário (quantos pacotes analisou e quanto tempo de processamento foi gasto, entre outros), um cabeçalho com informações referentes à origem dos dados (para qual região do céu o radiotelescópio estava apontado), e outro com o processamento dos sinais, mostrando informações como as freqüências pesquisadas e o sinal mais estranho encontrado. Logo abaixo, esses dados são convertidos em um gráfico onde o usuário pode acompanhar os sinais de rádio de acordo com sua intensidade, freqüência e duração. (E se você já instalou o software, entre no Time Revista Vigília de Busca SETI. Clique aqui)
Ao que tudo indica, no futuro deverão ser lançadas versões aperfeiçoadas do software cliente, uma vez que o projeto original prevê outras formas de visualização, como o “Modo de Progresso Celeste”, mostrando como o experimento está rastreando o espaço celeste, resumindo todos os resultados potencialmente interessantes achados até o momento e tendo como pano de fundo uma imagem precisa das estrelas mais brilhantes daquela região do céu. E ainda o “Modo de Progresso Terrestre”, concentrando-se nas pessoas que participam do experimento. Neste modo de visualização será mostrada uma visão da Terra, com luzes correspondendo a cada indivíduo ou organização que está participando no momento, o número total de computadores mostrado em tempo real, destacando os participantes ativos há mais tempo ou que analizaram maior quantidade de dados.
Enquanto esses modos de visualização não estão disponíveis, mais informações podem ser obtidas no site WEB do SETI@home, que mostra o estado atual da busca, disponibiliza material educativo e links sobre o SETI, astrobiologia e astronomia.