Alcântara lança HANBIT-TLV e mostra capacidade de operar foguetes comerciais
O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, foi palco de um feito histórico no dia 19 de março de 2023: o lançamento do foguete sul-coreano HANBIT-TLV, que transportou uma carga útil 100% brasileira. Esse foi o primeiro lançamento experimental entre o Brasil e uma empresa privada de outro país, resultado da parceria com a empresa sul-coreana Innospace.
O HANBIT-TLV é um foguete não tripulado que utiliza uma tecnologia inovadora de propulsão híbrida, que combina oxigênio líquido e parafinas como combustíveis, num sistema de alimentação por bomba elétrica. Essa tecnologia oferece vantagens como maior estabilidade, menor custo e menor impacto ambiental. O foguete mede 16,5 metros, pesa 8,4 toneladas, atingiu uma velocidade de 4.600 km/h e uma altitude máxima de 85 km.
Além do teste da tecnologia híbrida de lançamento, a missão que ganhou o nome de Astrolábio levou também uma carga útil brasileira. Tratou-se do Sistema de Navegação Inercial (SISNAV), desenvolvido por militares e profissionais civis do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), unidade que faz parte do DCTA.
O contrato entre Brasil e Innospace contou com salvaguardas de ambos os lados. Por um lado, o conhecimento sobre a tecnologia do SISNAV não ficaria acessível aos operadores da Coreia do Sul. Todas as informações obtidas por telemetria foram encriptadas e só poderão ser decodificadas pelo pessoal técnico do IAE. Em contrapartida, a mesma proteção sobre a tecnologia do foguete e informações coletadas diretamente pela fabricante do HANBIT-TLV foi utilizada para garantir sigilo dos dados à Innospace.
O lançamento do HANBIT-TLV foi um marco para a atividade espacial brasileira, pois demonstrou a capacidade do CLA de operar lançamentos comerciais com empresas estrangeiras. O CLA possui uma localização privilegiada por estar próximo à linha do Equador, o que reduz o consumo de combustível e aumenta a capacidade de carga dos foguetes. Além disso, o lançamento contribuiu para o desenvolvimento científico e tecnológico nacional na área espacial.
A missão foi acompanhada por autoridades civis e militares dos dois países. Ao contrário do que tem se tornado bastante comum no mercado aeroespacial, público ou privado, o lançamento em Alcântara não contou com uma transmissão ao vivo. Ao invés disso, foi divulgada pouco depois nos canais da Força Aérea Brasileira e Agência Brasil.
Em nota da FAB, o chefe do Subdepartamento Técnico do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), Brigadeiro Engenheiro Luciano Valentim Rechiuti, comemorou o resultado.
“O sucesso deste lançamento binacional ratifica que o centro está totalmente apto, tanto do ponto de vista técnico-operacional, quanto do ponto de vista administrativo, para realizar lançamentos de foguetes nacionais e estrangeiros em praticamente quaisquer épocas do ano, com precisão e segurança”, disse.
O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Augusto Teixeira de Moura, reforçou que o CLA já foi concebido com a ideia de abrigar diversos operadores no campo da exploração espacial.
“Concretizamos o ideal lá dos anos 80, pois temos agora um operador privado internacional trabalhando aqui, o que abre a oportunidade de o Brasil efetivamente se inserir no mercado internacional de transporte espacial”, afirmou.
A tragédia que atrasou o Programa Espacial Brasileiro
O Centro de Lançamento de Alcântara é um centro espacial e uma instalação de lançamento da Agência Espacial Brasileira na cidade de Alcântara, localizada na costa atlântica norte do Brasil, no do Maranhão. É operada pelo Comando da Aeronáutica da Força Aérea Brasileira. Sua proximidade à linha do equador lhe confere vantagem significativa no lançamento de satélites geossíncronos.
A construção do CLA começou em 1982 e o primeiro lançamento ocorreu em 21 de fevereiro de 1990, com um foguete de sondagem Sonda 2. Desde então, a BLA se preparou para operar projetos espaciais nacionais e internacionais, entre eles o Veículo Lançador de Satélites (VLS), o Cyclone-4 e o LauncherOne.
No entanto, a história do CLA foi marcada por um trágico acidente que paralisou o programa espacial brasileiro por vários anos. Em 22 de agosto de 2003, um foguete VLS-1 explodiu na plataforma durante os preparativos finais para a missão que levaria dois satélites brasileiros ao espaço. A explosão matou 21 pessoas, entre técnicos, engenheiros e cientistas que trabalhavam no projeto.
As causas do acidente foram investigadas por uma comissão formada por especialistas brasileiros e estrangeiros. O relatório final apontou que houve uma ignição prematura em um dos propulsores do foguete, provocada por uma falha elétrica ou eletromagnética. O relatório também indicou diversas deficiências na gestão do programa espacial brasileiro, como falta de recursos financeiros e humanos, problemas organizacionais e operacionais e ausência de normas de segurança adequadas.
Após o acidente, o CLA passou por um processo de reconstrução e modernização. Foram construídas novas instalações para preparação dos foguetes e das cargas úteis, além de sistemas de controle e rastreamento mais avançados. A base também ampliou sua capacidade para receber veículos lançadores estrangeiros, mediante acordos bilaterais com outros países.
Com informações da Agência Brasil
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