Audiência sobre UAPs no Congresso: histórica… pelo que não foi revelado

Audiência sobre UAPs no Congresso: histórica… pelo que não foi revelado
Depoentes na audiência sobre UAP no Congresso, David Grusch, ao centro, Ryan Graves, à esquerda e David Fravor, à direita, prestam juramento (Reprodução: Youtube)
Compartilhe

Você chegou até aqui através de algum buscador, depois de ser impactado por uma notícia em algum portal leigo, na TV ou por meio do buzz criado nas redes sociais pela audiência pública sobre UAPs/Óvnis/UFOs realizada pelo Congresso dos EUA nesta quarta-feira, 26 de julho de 2023? Então, de fato, esse foi um evento histórico. É isso mesmo que você, leitor eventual, ouviu dizer: um ex-oficial do Departamento de Inteligência dos EUA chamado David Grusch disse mesmo, sob juramento, que os EUA têm em seu poder naves de tecnologia “não-humana” acidentadas e material biológico “não humano” sob sua guarda. Entenda “não humano” como um termo cauteloso para tecnologias e materiais exóticos que, na melhor das hipóteses, não se sabe a procedência, e que, alguns anos atrás, facilmente seriam chamados extraterrestres ou alienígenas.

----publicidade----

Além de Grusch, como ex-representante do Escritório Nacional de Reconhecimento na extinta Força-Tarefa de Fenômenos Aéreos Não Identificados dos EUA, outros dois militares – os pilotos David Fravor e Ryan Graves – também estavam lá e falaram sob juramento sobre suas experiências pessoais de encontros com objetos voadores não identificados. Um deles, Fravor, esteve mesmo envolvido em um episódio em que o objeto, que se parecia com uma bala “tic tac” gigante, saiu do mar e disparou em direção ao céu. Atualmente, Graves é diretor executivo da associação Americanos pela Segurança Aeroespacial e Fravor ex-comandante aviador da Marinha dos Estados Unidos.

E esse foi o mérito dessa audiência. Pautou a imprensa mundial e colocou a todos, leigos, eventuais interessados, entusiastas convictos e especialistas na mesma página dos acontecimentos atuais da Ufologia nos Estados Unidos. Um feito importantíssimo já que, durante cerca de duas horas e meia, de forma inédita até hoje, os congressistas deram voz a profissionais de altas patentes e autorizações de segurança para que discorressem sobre um tema absolutamente polêmico e desacreditado ao longo dos últimos anos: os UFOs.

O que disseram, principalmente um deles, David Grusch, é realmente impactante. Expressões como “não humano”, “tecnologias que desafiam a física”, “ameaça à segurança nacional”, apareceram a todo instante em meio a questionamentos que alguns anos atrás pareceriam anedóticos. E vindos de algumas das maiores autoridades dos EUA, em sessão juramentada acompanhada presencialmente por quase 400 pessoas. Provavelmente milhões online. Isso mostrou o grau de seriedade com o qual o tema agora passou a ser encarado.

Mas a parte realmente quente da audiência ficou apenas nas entrelinhas do que não foi dito. Ou, pelo menos, não publicamente. Quem acompanha a Ufologia há mais tempo, seja com a leitura assídua aqui do Portal Vigília ou de algum outro canal especializado em objetos voadores não identificados e afins, provavelmente notou que a estrela do dia, o denunciante David Grusch, deixou claro que tinha em seu poder muitas informações que não poderia “revelar em ambiente público”. E toda sua história de conhecimento de programas secretos do governo para recuperação de naves “não humanas”, limitou-se às mesmas exatas informações que ele já transmitiu aos políticos em audiências fechadas no Senado, além das inúmeras entrevistas que já concedeu à imprensa em geral.

Quando as perguntas mais viscerais foram feitas, em especial pelo congressista republicano do Tennesse, Tim Burchett (um dos proponentes da audiência), todas as vezes Grusch esquivou-se da resposta. Admitiu que não é uma testemunha em primeira mão, ou seja, que não teve acesso direto à(s) suposta(s) nave(s) de tecnologia exótica. Com efeito, entretanto, revelou que poderia dar aos congressistas, em reunião privada, sem acesso público, detalhes sobre as pessoas com autorizações especiais que teriam lhe fornecido depoimentos e provas documentais da existência de programas de captura e recuperação de naves alienígenas. Sem provas (ao menos públicas) e limitado por NDAs (acordos de confidencialidade) inerentes ao seu antigo posto, Grusch pareceu medir cada palavra dita (e não dita) aos congressistas.

Ainda assim, confirmou – sob juramento, importante frisar – que ele próprio e até sua esposa foram ameaçados para que ele não comparecesse a entrevistas e ao Congresso. Que outras pessoas também foram ameaçadas e chegou até a relatar que houve mortes relacionadas a tentativas de trazer tais segredos à luz do dia.

----publicidade----

Diante das perguntas de Tim Burchett sobre níveis de acesso necessários e caminhos para o levantamento de informações, ficou claro que, além de darem crédito a Grusch, os políticos estão empenhados na busca por identificar formas legais para contornar o emaranhado burocrático que, segundo reclamam, impede-os sistematicamente de acessar todo tipo de informações relacionadas aos UAP, por maiores que sejam as credenciais de autorização e segurança que tenham obtido como autoridades legislativas.

Uma das principais revelações do dia, na verdade, coube o congressista republicano Matt Gaetz. Ele contou que recebeu uma denúncia de um incidente com objetos voadores não identificados na Base Aérea de Eglin e foi investigar junto com outros dois deputados, Tim Burchett e Anna Paulina Luna (republicana da Flórida). Eles tiveram dificuldade para acessar as provas, mas Gaetz teve acesso a uma foto e falou com um piloto que testemunhou o fenômeno. O piloto relatou que viu uma formação de UAPs sobre o Golfo do México, que interferiram nos sistemas da aeronave e que tinham uma aparência de orbes. Gaetz afirmou que não conhece nenhuma tecnologia humana capaz de produzir tais UAPs. O político complementou seu relato no Twitter pouco depois da audiência.

Se para o público leigo o conteúdo da audiência pode ter sido chocante, a comunidade UFO ficou dividida. Alguns comemoraram uma espécie de “oficialização” do tema, enquanto outros ficaram frustrados com as negativas de Grusch em fazer revelações para além das que já tinha tornado públicas na mídia. Na comunidade cética, a ausência de provas físicas ou qualquer outra evidência concreta gerou críticas. De fato, o delator se arrisca ao fazer as afirmações que fez sob juramento, pois se restarem não provadas pode ser acusado de perjúrio perante o Congresso, crime considerado grave nos EUA e passível de prisão. A aposta, portanto, é alta, ao menos para ele.

----publicidade----

Também ficou evidente que o processo, do ponto de vista dos parlamentares, está apenas começando. A audiência cumpriu seu papel de colocar o público a par das iniciativas dos políticos e explicar aos seus eleitores porque, de repente, estão dando tanto espaço e seriedade ao tema óvni, que até pouco tempo era apenas motivo de piada para o cidadão médio. Também mostrou que estão colhendo informações nos bastidores, em audiências reservadas, e pretendem expor o que acharem, numa guinada pela transparência em torno da problemática UAP.

Após a audiência, em entrevistas à imprensa, Tim Burchett e Anna Paulina Luna reiteraram que precisam ser autorizados a colocar David Grusch em um SKIF para que possam ter acesso ao que ele sabe e depois ver o que podem divulgar ao público. SKIF é uma instalação militar, uma espécie de container com segurança contra monitoramento sonoro e digital, único local onde é permitido acesso a documentos e informações classificados com o grau máximo de segurança e sigilo nos EUA (“Top Secret”). Não ficou claro, no entanto, se a audiência reservada com as revelações “privadas” que o ex-oficial faria realmente aconteceu. Seja como for, a impressão é de que em breve saberemos de tudo. Para o bem, ou para o mal…

A seguir, a audiência completa no Congresso dos EUA, convocada pelo Subcomitê de Segurança Nacional:

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é editor do Portal Vigília

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

×