FBI confirma grupo secreto de investigação de óvnis, mas temores políticos ameaçam continuidade

A existência de um grupo de trabalho informal do FBI dedicado à investigação de Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs, na sigla em inglês), popularmente conhecidos como óvnis, foi confirmada pela primeira vez após relatos de agentes e colaboradores externos. Para os amantes dos eternos agentes Fox Mulder e Dana Scully, do seriado Arquivo X, esse parece ser mais um caso em que a vida imita a arte, ou o contrário. E com requintes de similaridade impressionantes!
Com mais de uma dúzia de investigadores e um gerente de programa nacional, a equipe opera há no mínimo mais de um ano em sigilo, analisando testemunhos, pistas e dados públicos para avaliar riscos à segurança aérea e nacional dos Estados Unidos. E sua informalidade lembra bastante a forma um tanto marginal e desacreditada como eram tratados os agentes no seriado ficcional, sobretudo nas relações de cobrança, pressão e soluções “alternativas” encontradas pela chefia.
A revelação, no entanto, surge em meio a um clima de apreensão: os agentes temem que uma possível demissão em massa ordenada pelo presidente Donald Trump, direcionada a funcionários ligados a investigações sobre o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, possa dissolver o grupo e comprometer o trabalho.
A colaboração entre o FBI e organizações civis ganhou destaque após Ryan Graves, ex-piloto da Marinha e diretor-executivo da Americans for Safe Aerospace (ASA), revelar que sua equipe trabalha há mais de um ano com o grupo secreto.
“Encaminhamos testemunhas, informações técnicas e dados de código aberto para ajudar o FBI a entender esses fenômenos, muitos dos quais demonstram tecnologia avançada e sobrevoam áreas sensíveis”, disse Graves ao site Politico.
O objetivo, segundo ele, é proteger a aviação civil e identificar possíveis ameaças à soberania nacional. Em comunicado, o FBI confirmou que investiga UAPs “quando há possibilidade de violação da lei federal”, especialmente atos que “afetem negativamente os interesses nacionais”.
Tecnologia desconhecida e riscos reais
Os UAPs não são mais assunto restrito a teorias da conspiração. Relatos de pilotos militares e civis, além de registros de radares, têm pressionado o governo a levar o tema a sério. Em 2023, o então senador Marco Rubio, atual Secretário de Estado, alertou em rede social que “objetos avançados, demonstrando tecnologia além de nossa capacidade atual, estão rotineiramente em nosso espaço aéreo restrito”.
Mike Waltz, conselheiro de segurança nacional, reforçou a necessidade de tratar o assunto com rigor, sugerindo que os fenômenos poderiam ser “tecnologia adversária não identificada ou algo além de nossa compreensão”.

O Congresso americano, diante do aumento de relatos, aprovou medidas para formalizar investigações interagências. Entre 2023 e 2024, audiências no Comitê de Segurança Nacional da Câmara ouviram militares que descreveram encontros inexplicáveis com UAPs, incluindo objetos que desafiam as leis da física. “Este Grupo de Trabalho do FBI está em uma posição única para investigar o UAP devido às suas autoridades conjuntas de aplicação da lei e inteligência”, afirmou Graves ao Politico.
A espada de Damocles política
Apesar do avanço nas investigações, o futuro do grupo está sob ameaça. Fontes do FBI revelaram que todos os agentes receberam ordens para preencher um questionário detalhando seu envolvimento nas investigações sobre o ataque ao Capitólio — medida vista como um prenúncio de demissões em massa . Como muitos integrantes do grupo de UAPs também atuaram nesses casos, há temores de que sejam alvos de um “expurgo” para remover funcionários considerados “desleais” a Trump.
Graves expressou preocupação com a possível perda de expertise: “Esses agentes têm autoridade única, combinando inteligência e aplicação da lei. Se forem removidos, o trabalho pode regredir anos”. O temor é compartilhado por Caison Best, ex-oficial de forças especiais do Exército, que colaborou com o grupo após testemunhar um UAP. “Eles fazem um trabalho crítico. Desmantelar isso seria um erro estratégico”, disse Best.
O paradoxo Trump: interesse em óvnis vs. lealdade política
Curiosamente, o governo Trump já demonstrou interesse no tema. Em 2023, Don Trump Jr., filho do presidente, afirmou em podcast que a Casa Branca estava “trabalhando” em investigações sobre vida extraterrestre. Além disso, o próprio Trump, em entrevista à Fox News no ano passado, brincou que “saber a verdade sobre óvnis seria a única maneira de unir democratas e republicanos”.

No entanto, a prioridade política parece sobrepor-se à segurança nacional. Relatórios do The Atlantic e da AFP indicam que a administração Trump busca reter no FBI apenas agentes “absolutamente leais”, o que incluiria desligar até 3 mil funcionários. Promotores que atuaram em casos contra o presidente já foram demitidos, como Jack Smith, que renunciou após acusar Trump de crimes federais.
O legado das luzes misteriosas
O trabalho do grupo ganhou urgência após a série de avistamentos recentes, relacionada aos supostos “drones misteriosos”. Entre novembro e dezembro de 2024, objetos não identificados do tamanho de SUVs foram registrados próximos a bases militares e até à propriedade de Trump em Nova Jersey, levando a restrições de voo temporárias . A FAA (Administração Federal de Aviação) e posteriormente a Casa Branca descartaram espionagem estrangeira, mas o FBI, que atuou em conjunto com o DHS (Departamento de Segurança Interna) segue sem explicações conclusivas.
Para Graves, a solução está na transparência: “Precisamos identificar o que está em nossos céus e permitir que o público acesse os arquivos”. Enquanto isso, o destino do grupo secreto permanece incerto — uma encruzilhada entre o desconhecido e a política, onde até mesmo fenômenos anômalos podem sucumbir ao cálculo eleitoral.