Elizondo, ex-chefe de programa sobre OVNIs do Pentágono, e suas bombásticas revelações em “Imminent”
Com o lançamento, nesta semana, de seu livro de memórias Imminent: Inside the Pentagon’s Hunt for UFOs (em tradução livre: Iminente – Por dentro da caça do Pentágono aos OVNIs, ainda sem previsão de lançamento no Brasil), o ex-oficial de inteligência Luis Elizondo está no centro de uma enorme controvérsia. No livro, ele, que alega ter comandado um programa secreto do governo investigando fenômenos aéreos não identificados (UAP/FANI), faz alegações chocantes sobre a existência de um “Programa Legado” que, segundo ele, está “de posse de tecnologia avançada feita fora do mundo por inteligência não humana”.
Elizondo, de 52 anos, serviu por anos em altos cargos de inteligência militar antes de liderar o Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais (AATIP) do Pentágono de 2009 a 2017. Durante a semana, ele fez aparições e deu entrevistas a vários veículos de comunicação. Em uma das primeiras, ao Daily Mail, ele declarou de forma “chocante e inequívoca” que os Estados Unidos estão “de posse de tecnologia avançada feita fora do mundo por inteligência não humana”.
“A humanidade, de fato, não é a única vida inteligente no universo, nem a espécie alfa”, escreveu Elizondo em seu livro, segundo o New York Times.
Alguns grandes jornais já haviam recebido cópias do livro para prepararem suas entrevistas e reportagens desta semana. Mas foram cópias “sob embargo”, como se diz no jargão jornalístico. Era preciso, além da autorização do próprio autor para a divulgação, um passe livre do Pentágono, a quem o antigo funcionário e atual denunciante Elizondo teve que submeter uma cópia para aprovação. Sim, é isso mesmo, o livro só poderia sair com aval do Pentágono, um documento que o próprio Lue (como ficou conhecido na comunidade ufológica) liberou para divulgação.
Elizondo já era uma figura notória na ufologia mundial. Ganhou as manchetes dos jornais no mundo todo quando de sua saída do programa que disse coordenar. E atribui-se a ele, com a ajuda de outro alto ex-funcionário da Defesa dos EUA, Christopher Mellon, o vazamento de evidências militares que ficaram famosas, como os vídeos de objetos perseguidos durante manobras da Marinha dos EUA (“Gimbal” e “Go Fast”), além do relato da perseguição ao Tic Tac. Elizondo tornou-se ainda mais conhecido e ligado à ufologia ao protagonizar o seriado documental Unidentified (Não identificado), criado em parceria com a To The Stars Academy, de Tom DeLonge (Blink-182), exibido pelo History Channel.
Denunciando as mentiras do Pentágono
Com as alegações que faz em seu livro, Elizondo ecoa e amplia afirmações do denunciante do Pentágono David Grusch, que disse ao Congresso no ano passado que o governo está encobrindo um programa de recuperação de acidentes de FANI que envolve meia dúzia de naves espaciais e até corpos alienígenas.
Elizondo afirma ter conhecimento direto deste “Programa Legado” e de incidentes inexplicáveis que investigou durante seu trabalho no AATIP. Ele descreveu, por exemplo, um avistamento dramático de um disco voador em 2013 no campo de testes secreto de mísseis de Los Alamos, no Novo México.
“Os orbes se moveram em direção ao local do teste, pairaram sobre o dispositivo como se estivessem escaneando-o em busca de informações e então se afastaram rapidamente, voando impetuosamente sobre as cabeças dos cientistas perplexos”, relatou Elizondo ao Daily Mail.
Ele também detalhou um incidente de 1999, no qual um helicóptero da Marinha sobrevoou as águas de Porto Rico para recuperar um míssil de cruzeiro fictício sendo testado, quando “um objeto grande e circular do tamanho de uma pequena ilha começou a subir à superfície”.
“O piloto me disse que estava preto como o diabo e a água começou a se agitar e rolar como uma poção de bruxa. A tripulação entrou em pânico”, escreveu Elizondo.
Além disso, o ex-oficial de inteligência revelou que, durante sua passagem pelo Exército no Kuwait, em 2003, presenciou tanques de batalha M1 com “um pequeno furo perfurado no lado blindado” que parecia ter sido causado por uma energia “enorme” e “capaz de penetrar nas laterais de dois dos nossos melhores tanques com um furo limpo em ambos”.
“Foi como se alguém tivesse usado um cortador de biscoitos superafiado para tirar uma amostra do núcleo do veículo”, descreveu Elizondo.
Combustível para teorias da ufologia
Destoando da linha militarista e centrada em objetos que voam (ou mergulham no mar), adotada pela maioria dos denunciantes que o precederam, Elizondo envereda por alegações ainda mais bombásticas, como a de que seu programa obteve – possivelmente – implantes biológicos extraterrestres, retirados de militares que tiveram encontros com FANI/UAPs. “Esses tipos de objetos minúsculos”, garante.
Entre as revelações mais perturbadoras, Elizondo relata experiências pessoais com UAPs, como o avistamento de orbes verdes luminosos em sua própria casa, além de alegações de implantes biológicos encontrados em militares após encontros com OVNIs.
“Certa vez, eu mesmo manuseei um desses implantes, fornecido a mim por um hospital do Departamento de Assuntos de Veteranos, onde ele havia sido removido de um militar dos EUA que havia encontrado um UAP”, escreveu ele.
Elizondo afirma que, apesar dos esforços de sua equipe, um plano em 2015 para capturar um FANI em águas internacionais, chamado “Projeto Interloper”, acabou sendo negado no último minuto, frustrando suas tentativas de obter mais informações sobre o fenômeno.
A partir dessas e outras histórias, ele expressa sua preocupação com o perigo potencial à humanidade representado pela existência de uma tecnologia que, segundo ele, excede em muito o que os Estados Unidos ou outros países têm ou podem explicar.
“A nave e a inteligência não humana que a controla representam, na melhor das hipóteses, um problema de segurança nacional muito sério e, na pior das hipóteses, a possibilidade de uma ameaça existencial à humanidade”, escreveu Elizondo. Para ele, a falta de transparência governamental sobre o tema impede o avanço da compreensão do que ele acredita ser a “maior descoberta da história humana”.
A autorização do Pentágono ao livro “Imminent”
Em todas as aparições de Elizondo na imprensa, os veículos tiveram que fazer uma ressalva ao comentarem a autorização do Pentágono à publicação e divulgação da obra de seu antigo oficial de inteligência: “A autorização do Pentágono não implica endosso”.
Consultada pelo New York Post, a porta-voz do Departamento de Defesa, Susan Gough, afirmou que o programa do Pentágono que atualmente trabalha para lidar com avistamentos de OVNIs — ou UAPs, para “fenômenos anômalos não identificados”, como são chamados agora — “continua sua revisão do registro histórico dos programas UAP do governo dos EUA”.
O programa, até o momento, segundo ela, “não descobriu nenhuma informação verificável para comprovar alegações de que quaisquer programas relacionados à posse ou engenharia reversa de materiais extraterrestres tenham existido no passado ou existam atualmente”.
Claro, a resposta é apenas o eco daquilo que já vem dizendo o Escritório de Resolução de Anomalias de Todo Domínio (AARO), órgão atualmente responsável por lidar com o tema OVNI dentro do Departamento de Defesa. E seria realmente espantoso e inesperado (para dizer o mínimo) se o Pentágono dissesse oficialmente outra coisa.
Neste caso, a autorização do Pentágono à publicação teria observado “apenas” questões de ordem legal e de segurança nacional, como a revelação de pessoas e locais com classificação de segurança, a preocupação de não revelar identidades e menções a tecnologias, operações e programas que eventualmente ainda tenham a classificação de secretos.
A parte complexa (ou estranha) da história
O nível de participação de Lue Elizondo no AATIP, ou AAWSAP, sua posição na cadeia de comando e atribuições viraram motivo de acalorado debate ao longo dos últimos anos. Ele ganhou alguns perseguidores que tentam atribuir-lhe a pecha de impostor, alguém com uma função realmente menor do que aquela que alega. Outros — provavelmente não os mesmos — já teriam inclusive ameaçado o ex-oficial e sua família, conforme ele próprio já revelou em suas redes sociais.
Considerando apenas seu forte vínculo com Christopher Mellon (que assina o prefácio de Imminent) e outras figuras com uma trajetória extremamente relevante no alto escalão da comunidade de inteligência e defesa dos EUA, fica claro que, mesmo que Elizondo não tenha exercido qualquer uma das atividades que apresenta em seu currículo, ele é, notoriamente, alguém com acesso. Tanto que o Pentágono teve que autorizar a publicação de seu livro, já que ele ainda está vinculado a deveres de confidencialidade.
Portanto, ele é (e não foi) alguém com informações. O que deveria deixar a comunidade ufológica com a pulga atrás da orelha é outra coisa: por que as revelações de Lue Elizondo — e suas afirmações de que o Pentágono mente — não são consideradas assunto classificado ou secreto, e tampouco parecem preocupar o Departamento de Defesa?
Tentei obter uma resposta diretamente do autor, em sua conta no X.com (antigo Twitter), perguntando como funciona essa situação.
“Sr. Elizondo, por favor, você pode me explicar como isso funciona? Um livro onde você expõe o que claramente seriam mentiras do seu empregador, mas que você envia para aprovação desse mesmo empregador, com quem ainda tem acordos de confidencialidade… Tudo bem expor quais seriam as verdades, mas sem poder apresentar evidências documentais porque elas são secretas, mas as histórias não? Estou realmente perdido nessa parte… O contratante autoriza isso? Você pode me ajudar a entender?”
A resposta, claro, não veio diretamente dele. Um seguidor/defensor tentou explicar que é preciso entender o processo do DOPSR (Defense Office of Prepublication and Security Review) — um procedimento de revisão de segurança e política que garante que informações propostas para liberação pública estejam em conformidade com as diretrizes estabelecidas.
“O motivo pelo qual eles permitem isso é porque têm que justificar o que não permitirão no livro se uma revisão for solicitada. Eles não querem essa revisão. Este é o mesmo processo pelo qual David Grusch teve que passar antes de poder falar na NewsNation e, depois, na audiência aberta no Congresso.”
Essa explicação, ou alguma variação dela, está reverberando nas redes sociais em defesa da atitude de Elizondo. Ela tenta apenas acrescentar uma camada de heroísmo a uma suposta “pegadinha” ingênua de Lue na qual o Pentágono teria “caído”. Mas isso não responde ao cerne da questão: a quem Elizondo realmente se reporta? Você chama o seu (ex)empregador de mentiroso e revela seus segredos, e fica por isso mesmo? Por que Edward Snowden não pensou nisso antes?!
Seja como for, os próximos dias serão definitivos para sabermos o quanto a ufologia internacional vai se abalar com mais esta história!