UAPDA: nem pressão política nem apelo de celebridades salvaram a “transparência UAP”

UAPDA: nem pressão política nem apelo de celebridades salvaram a “transparência UAP”
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A Lei de Divulgação de Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPDA) sofreu um novo revés em 2024, representando o segundo ano consecutivo em que a proposta não conseguiu avançar no Congresso dos Estados Unidos. A legislação, que visava estabelecer um mecanismo transparente para a divulgação de informações governamentais sobre UAPs (Fenômenos Aéreos Não Identificados), foi introduzida como uma emenda ao National Defense Authorization Act (NDAA), a lei que rege o orçamento de defesa dos EUA.

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No entanto, nem a pressão política e midiática em torno da questão, nem sua defesa e apelo por parte de celebridades científicas como o Dr. Garry Nolan, foram capazes de manter a proposta na NDAA. Dias antes, Nolan, PhD, renomado imunologista e geneticista que passou a cobrar uma pesquisa mais rigorosa no campo científico do fenômeno UAP, havia defendido a aprovação da UAPDA para a audiência do Good Trouble Show, programa no Youtube apresentado por por Matt Ford.

Em 2023, a primeira tentativa de aprovar a UAPDA já havia sido frustrada. Na ocasião, a emenda foi incorporada ao projeto de Lei S.Amdt.797, que fazia parte do NDAA de 2023. A proposta detalhada, que abrangia da página S2953 à S2959 do registro do Congresso, buscava criar um processo abrangente para coleta, análise e divulgação pública de registros governamentais relacionados a UAPs, incluindo a formação de um conselho de revisão independente e a definição de prazos específicos para a liberação de documentos. O principal objetivo da emenda era garantir que “todos os registros do governo federal relacionados a fenômenos anômalos não identificados devam ser preservados e centralizados para fins históricos e do governo federal”.

Apesar dos esforços de senadores como Chuck Schumer, a emenda enfrentou forte oposição e acabou sendo retirada durante as negociações finais do NDAA.

Em 2024, a UAPDA, liderada por um grupo de senadores, incluindo Chuck Schumer, Kirsten Gillibrand, Marco Rubio e Mike Rounds, foi novamente incluída no NDAA como uma emenda. A proposta visava, entre outras medidas, criar um Conselho de Revisão de Registros de Fenómenos Aéreos Não Identificados, composto por nove cidadãos imparciais, para supervisionar a coleta, análise e divulgação pública de registros governamentais relacionados a UAPs, incluindo aqueles que poderiam conter informações sobre “tecnologias de origem desconhecida e evidências biológicas de inteligência não humana”.

Senadora Gillibrand Kirsten, dos EUA, propõe emenda para ampliar esforço de investigação UAP e transparência das descobertas
Senadora Gillibrand Kirsten, dos EUA, uma das defensoras de emenda para ampliar transparência nas investigações e descobertas através da UAPDA

O senador Schumer, em declarações anteriores, destacou a importância da UAPDA para ampliar a transparência governamental sobre o tema, argumentando que “fontes confiáveis” indicavam que o Congresso estava sendo privado de informações cruciais sobre UAPs, em possível violação às leis que exigem notificação completa ao poder legislativo. A emenda também contava com amplo apoio de diversos setores da sociedade, incluindo pesquisadores, cientistas e membros da comunidade de inteligência, que defendiam a necessidade de um debate público mais aberto e informado sobre a presença de objetos voadores não identificados nos espaços aéreos e marítimos do planeta.

UAPDA enfrentou forte oposição

No entanto, a UAPDA enfrentou forte resistência de diferentes frentes, culminando em sua exclusão do pacote final do NDAA de 2024 na semana passada. Um dos principais obstáculos foi a oposição dentro do próprio governo, com indivíduos e agências, como a CIA, o Departamento de Defesa e o Departamento de Energia, buscando manter o sigilo sobre o tema, alegando preocupações com a segurança nacional.

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A possível revelação de informações sensíveis, como a localização de bases militares secretas ou a existência de programas de desenvolvimento de armas avançadas, foi apontada como um risco inaceitável por aqueles que se opunham à UAPDA. De acordo com artigo do Liberation Times, essas agências “continuam a resistir à transparência e responsabilização pública e do Congresso”.

O senador Rand Paul, membro de destaque do Partido Republicano, emergiu como uma figura central na oposição à UAPDA em 2024, expressando ceticismo em relação à necessidade de uma investigação aprofundada sobre UAPs e questionando a alocação de recursos para essa finalidade. A resistência de Paul, que em 2021 havia criticado o financiamento de programas governamentais relacionados a UAPs, foi decisiva para impedir a inclusão da emenda no pacote final do NDAA.

Além da segurança nacional, “os custos associados à criação do conselho de revisão e o impacto financeiro sobre o orçamento foram citados como obstáculos” foram usados como argumento para a retirada da emenda. A complexidade da legislação, que abrangia uma ampla gama de questões, desde a coleta e análise de dados até a divulgação pública de informações, também gerou críticas por parte de alguns congressistas, que a consideravam excessivamente ambiciosa e de difícil implementação.

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Reunião secreta sobre UAP no Congresso com David Grusch (por enquanto, afirmações sem provas)
Desde o depoimento do denunciante David Grusch a busca por transparência na questão UAP e proteção aos denunciantes está estagnada no Congresso dos EUA

A comunidade ufológica e defensores da transparência governamental manifestaram profunda decepção com o segundo fracasso consecutivo da UAPDA, argumentando que a decisão do Congresso representa um retrocesso no debate público sobre UAPs e reforça a cultura de segredo em torno do tema. A falta de acesso a informações confiáveis, segundo esses grupos, impede que a sociedade compreenda a natureza e as implicações da presença de objetos voadores não identificados nos espaços aéreos e marítimos, além de alimentar especulações e teorias conspiratórias. O próprio Lester Nare, fundador do UAP Caucus, descreveu a situação como “decepcionante, mas não totalmente inesperada”.

Apesar dos reveses, a luta pela transparência governamental sobre UAPs continua. Grupos de defesa, como o UAP Disclosure Fund, liderado por Yuan Fung, e o UAP Caucus, fundado por Lester Nare, prometeram manter a pressão sobre o governo e buscar alternativas para garantir a divulgação de informações. A expectativa é que o tema continue a ganhar relevância no cenário político e social, impulsionado pelo crescente interesse público e pela proliferação de relatos de avistamentos de UAPs em todo o mundo.

Dr. Garry Nolan defendeu divulgação UAP no Good Trouble Show

O balde de água fria na expectativa em torno da UAPDA veio apenas alguns dias após uma defesa veemente da emenda no Good Trouble Show, apresentado por Matt Ford, pelo Dr. Garry Nolan, renomado imunologista e defensor da transparência em relação aos Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAPs).

Durante a entrevista, Dr. Nolan destacou a importância de não apenas assegurar a transparência governamental, mas também criar um ambiente onde a pesquisa científica sobre UAPs possa prosperar sem ser estigmatizada. Ele argumentou que a terminologia atual, frequentemente associada a ideias de “alienígenas”, impede o avanço do debate sério sobre o tema. “É irresponsável e perigoso negar a possibilidade da existência dos UAPs e censurar o debate científico”, disse Nolan, que acredita que a probabilidade de os UAPs serem reais é superior a 95%, com base em sua experiência e em informações de fontes confiáveis.

Garry Nolan - www.youtube.com
Garry Nolan – www.youtube.com

A discussão com Ford também explorou os programas secretos de recuperação e engenharia reversa de UAPs acidentados. Nolan mencionou que esses programas são mantidos sob sigilo, sendo que as empresas envolvidas, como a Lockheed Martin, estariam escondendo o real valor de suas operações e tecnologias, o que pode constituir fraude contra acionistas. “Se a Lockheed Martin não está avaliando sua empresa com precisão, escondendo o verdadeiro valor, as ramificações legais são profundas”, afirmou.

Além disso, Dr. Nolan destacou a importância de o Congresso ter acesso a essas informações, principalmente em relação a casos de interferência dos UAPs em instalações nucleares, que representam um risco potencial à segurança nacional. “É uma questão que transcende a ufologia e envolve a segurança do país”, afirmou.

Críticas à AARO, apelo à imunidade para colaboradores e impostos

Nolan foi severo ao criticar o desempenho do Escritório de Resolução de Anomalias de Todos os Domínios (AARO), que, segundo ele, demonstrou falta de competência e profissionalismo na investigação de UAPs. Ele defendeu a dissolução do órgão, afirmando que a transparência poderia ser melhor promovida por meio de outras organizações como a Sol Foundation e o UAP Disclosure Fund, que buscam proteger denunciantes e pressionar por políticas públicas claras.

No entanto, o imunologista reconheceu que, para que as empresas envolvidas em programas secretos colaborem, é necessário oferecer algum tipo de proteção legal. “Como protegemos essas corporações de forma que seja um incentivo para que elas venham a público?”, questionou Nolan, sugerindo que a imunidade poderia ser uma solução. Ele também mencionou rumores de que algumas empresas estariam procurando se desvencilhar de materiais associados a UAPs por medo da crescente pressão pública.

Ao longo da entrevista, Dr. Nolan reiterou que a luta pela divulgação dos UAPs não é apenas uma questão de curiosidade científica, mas de garantir que o governo dos EUA seja transparente com seus cidadãos. “Se eles podem deturpar informações nesse nível sobre algo tão importante, imagine como é fácil manipular o modo como estão gastando seus outros impostos”, alertou.

 

Jeferson Martinho

Jornalista, o autor é empresário de comunicação, dono de agência de marketing digital e assessoria de imprensa, publisher de um portal de notícias regionais na Grande São Paulo, fundador e editor do Portal Vigília.

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