Avião invisível não é “coisa do outro mundo”
(Parte 1)

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Balizando o terreno inóspito
Os fatos que invalidam uma hipótese são mais importantes do que as evidências que a sustentam. Ufólogos devem aplicar diligentemente este princípio fundamental da pesquisa científica por duas razões. Primeiro, a Ciência “oficial” se compraz em usar opiniões mal fundamentadas para difamar a Ufologia. É preciso evitar a difusão de informações incorretas para que a casuística autêntica não perca sua credibilidade. Segundo, sendo uma atividade que ultrapassa a fronteira do conhecimento humano, o objetivo da exploração ufológica quase nunca é antecipado. Em casos como este, conhecer “o que não é” muitas vezes é a única maneira de balizar o caminho em direção ao que “é”. Com esta nota o autor espera oferecer uma baliza, certamente modesta mas eventualmente útil, para aqueles que ousadamente se aventuram pela senda fértil, insólita e inóspita que é o estudo das inteligências exógenas e suas tecnologias.
O fantástico avião hipersônico…
Uma teoria que circula entre os ufólogos refere-se ao uso de tecnologia extraterrestre na construção de avançadas aeronaves de combate. Artigos veiculados pela revista UFO teorizam sobre tal tecnologia advir de descobertas possibilitadas pela captura de UFOs, especificamente pelas forças militares dos Estados Unidos (…). Autores estrangeiros, citados pela mesma publicação, chegam a propor que tal tecnologia seja transferida voluntariamente por extraterrestres colaborando com o governo daquele país para construir UFOs “made in USA” (…). Este controvertido assunto recebeu grande publicidade com a pela transmissão de um seriado de ficção que explora temas ufológicos para obter audiência, e pela veiculação pela imprensa televisiva brasileira de imagens de uma hipotética aeronave hipersônica secreta, que seria conhecida como “Aurora”. Apesar da imprensa fomentar opinião diferente, este foi o nome do projeto que resultou no bombardeiro B-2 (1). Assim, se houver um avião hipersônico voando por aí, quase certamente não se chamará “Aurora”. Exceto por este dado e não obstante o “saudável ceticismo” que mantém a respeito, o autor não possui conhecimentos que o credenciem para opinar sobre os Estados Unidos ou outro paíse usarem tecnologia “ET” em suas aeronaves militares. Portanto, este interessante tema não será abordado nesta nota.
“Aviões invisíveis” NÃO são objeto de estudo da Ufologia
Situação diametralmente oposta refere-se a um grupo de aeronaves de combate modernas conhecidas popularmente como “aviões invisíveis”, cuja tecnologia deriva exclusivamente da Física “terrestre”. Este assunto é aqui apresentado justamente pelo receio de que, devido ao nome sugestivo, os aviões invisíveis sejam lançados inadvertidamente no mesmo fórum especulativo do hipotético avião hipersônico, Ufos norte-americanos, etc. Teorizar sobre serem eles resultado de uma apropriação de conhecimentos de civilizações estelares teria efeito sumamente deletério sobre a credibilidade do ufólogo incauto. O oceano de desinformação que nos assola diariamente propicia muitas armadilhas deste tipo. Esta nota foi escrita justamente para evitar que tal seja cometido, esperando-se que sirva como referência segura e suficientemente abrangente para os recém-familiarizados com o assunto.
“Stealth” [stélsf]
“Avião invisível” é o “nome-de-fantasia” da tecnologia “stealth”, que no idioma inglês significa “reserva”, “discrição”, ou “furtividade”. Uma “aeronave furtiva” é um veículo aerodinamicamente sustentado projetado para locomover-se no espaço aéreo sem ser facilmente “percebido” por sistemas de detecção e defesa que lhe são hostis. A primeira aeronave assim chamada foi o caça-bombardeiro F- 117A (Figura 1), o famoso “caça invisível” da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Este avião teve seu batismo de fogo em 1989 durante a “Operação Justa Causa”, quando os Estados Unidos atacaram o Panamá (2), e ganhou fama durante a Guerra do Golfo. (O F-117A fora erroneamente designado como F-19 por especuladores, na época em que era tratado como um segredo militar.) Ao F-117A seguiu-se o já citado B-2 (Figura 2), os protótipos YF-22 (Figura 3) e YF-23 (que competiram para o programa “Advanced Tactical Fighter”/”Caça Tático Avançado”) e o F-22 (versão final do YF-22, vencedor da competição).
O conceito de minimização da probabilidade de detecção é empregado, em graus variados, no desenvolvimento de praticamente toda aeronave de combate, mas isto não siginifica que nelas seja empregada a tecnologia “stealth”. Excetuando algum projeto secreto eventualmente em andamento, somente as aeronaves citadas acima e outras mencionadas adiante podem ser corretamente chamadas de furtivas. Mas, o que caracteriza uma aeronave deste tipo?
Ficando “na moita”
Existem sete maneiras, ou “assinaturas”, pelas quais a presença e a identidade de uma aeronave pode ser revelada: assinatura radar; assinatura infravermelha; fumaça do escapamento; assinatura visual; trilha de condensação; emissões eletromagnéticas; e emissões sonoras. Uma aeronave furtiva é uma aeronave construída especificamente para que suas assinatura radar e, evnetualmente, infravermelha, sejam minímas. Os métodos de minimização de cada uma destas assinaturas são apresentados a seguir, enfatizando-se, naturalmente, o processo de minimização das duas primeiras, visto que a minimização das demais é buscada na construção e operação de qualquer avião militar, seja ou não furtivo.
Assinatura radar
Desde a Segunda Guerra Mundial, o radar é o principal componente dos sistemas de defesa aérea. Nenhuma bateria de canhões ou mísseis anti-aéreos abrirá fogo e nenhum caça interceptador decolará se os radares de um sistema deste tipo não puderem detectar o incursor e identificá-lo como inimigo. O principal requisito de projeto de uma aeronave furtiva é precisamente a minimização de sua assinatura radar, para que ela possa manobrar livremente sobre território hostil sem ser vista nas telas dos radares inimigos. Desta capacidade deriva a virtual impossibilidade de se abater um alvo deste tipo com um míssil guiado por radar. É a impossibilidade de ser “enxergada” por um radar que deu origem à expressão “avião invisível”.
A assinatura radar é conhecida pelo termo “radar cross section”, traduzido para nosso idioma como “seção transversal radar”. A seção transversal radar é a área que um alvo parece ter quando “medido” por meio de um radar. Esta área varia com a direção segundo a qual o feixe radar “ilumina” o alvo, podendo ser muito diferente da área física do alvo. Por exemplo, um pequeno avião com motor a hélice pode ter uma seção transversal radar muito maior que a de um caça a jato de maior tamanho, porque o disco da hélice é um excelente refletor radar. Outro exemplo é um pequeno papagaio (pipa, pandorga) de alumínio, integrante dos “kits” de sobrevivência usados em aeronaves de gerações passadas, destinado a facilitar a localização dos sobreviventes através do radar de bordo da aeronave de busca. Devido à sua forma e seu revestimento metálico, possui uma seção transversal radar que muito favorece sua detecção.
(Uma observação paralela: estas considerações talvez possam ajudar a compreender porque muitas vezes as autoridades aeronáuticas informam que nenhum UFO foi captado nas telas dos radares de vigilância aérea durante uma onda de avistamentos. Os surpreendentes ufonautas parecem ser mestres em técnicas “stealth”, e a razão das negativas oficiais retrata a realidade: eles não são detectados mesmo! Observação adicional: outro fator que faz com que os UFOs passem desapercebidos pelos sistemas de defesa aérea é que, mesmo sendo detectados, muitas vezes eles não são reconhecidos como objetos voadores. Explica-se: o rastro de um veículo aéreo que aparece na tela do radar é composto por uma seqüência de pontos luminosos. Os pontos mais antigos vão sendo apagados e substituídos pelos mais recentes, e assim o deslocamento do objeto vai se delineando. Se um UFO se deslocar a uma velocidade muito elevada e/ou fizer manobras que alterem radicalmente sua direção de vôo, o operador do radar – ou, na maioria dos casos, o computador que processa a informação que lhe é apresentada – não é capaz de interpretar um conjunto de pontos dispersos como pertencentes ao mesmo objeto! Mas… este não é o tema desta nota, sendo conveniente retornar ao assunto que a originou…)
A minimização da seção transversal radar é conseguida pela aplicação simultânea de duas técnicas. Primeiro, a aeronave é construída com formas geométricas que reduzem a probabilidade do feixe radar ser refletido na direção da antena que o emitiu. Segundo, ela é revestida e partes de sua estrutura são construídas com materiais que absorvem a radiação eletromagnética na faixa de freqüências utilizada pelo radar (microondas). Estes materiais são conhecidos pela sigla RAM, que significa “radar absorbent material”, “material absorvedor de radar”. A geometria da aeronave contribui com aproximadamente 65% do efeito de minimização da seção transversal radar da aeronave, cabendo ao revestimento e estruturas RAM os 35% restantes do total de atenuação obtido (1).

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Redação Vigília

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