Polêmica: pesquisadores renomados questionam narrativas UAP dos EUA

Polêmica: pesquisadores renomados questionam narrativas UAP dos EUA
Imagem de kalhh-86169/Pixabay
Compartilhe

Em um artigo publicado na versão online da renomada revista científica Scientific American, intitulado “O Que Realmente Aconteceu no Antigo Escritório de OVNIs do Pentágono?”, os pesquisadores Luis Cayetano Simmari e Vicente-Juan Ballester Olmos expuseram sua visão sobre o histórico de investigações governamentais a respeito de objetos voadores não identificados, ou UAPs, nos Estados Unidos.

----publicidade----

Simmari, Ph.D., atualmente afiliado ao Gavilan College, em Gilroy, Califórnia, tem formação em ecologia evolutiva e um interesse tangencial em OVNIs. Ocupa-se especialmente na natureza psicossocial das histórias de OVNIs e nas ligações de extrema direita e extremistas com a saga. É o responsável pelo site Ufologyiscorrupt.com. Ballester Olmos é um pesquisador espanhol de renome no campo da ufologia, autor de diversos livros sobre o tema com décadas de experiência, e curador do FOTOCAT, um banco de dados mundial de eventos de OVNIs com registro em foto ou vídeo.

Juntos eles argumentam que a realidade por trás do tema, nos EUA, assemelha-se mais a “ex-funcionários da defesa promovendo sua mitologia pessoal, do que a qualquer acobertamento de alienígenas”.

Sua análise, de certa forma, reverbera opiniões expressas nos últimos meses pelo ex-chefe do Escritório de Resolução de Anomalias de Todos os Domínios (AARO), mas traz a componente de quem tem anos de experiência na Ufologia e não tem obrigações contratuais com o Pentágono ou qualquer narrativa pró ou contra uma suposta interferência “não-humana” na história da humanidade.

Os autores iniciam sua argumentação relembrando a criação do AAWSAP (Programa de Aplicações de Sistemas Avançados de Armas Aeroespaciais) em 2008, um programa da Agência de Inteligência da Defesa (DIA) que, apesar de oficialmente destinado a pesquisar futuras ameaças aeroespaciais, na prática, dedicava-se à investigação de OVNIs e fenômenos paranormais. Simmari e Olmos, entretanto, adotam uma postura bastante crítica em relação aos resultados apresentados pelo programa e seus defensores, afirmando que as alegações sobre recuperação de tecnologia alienígena e um suposto acobertamento da presença extraterrestre na Terra não passam de “fábulas inverificáveis”.

A alegação é feita diante da total ausência de rastros documentais ou registros definitivos, nos últimos anos bastante alardeados por defensores da “transparência UAP” e até mesmo denunciantes de alto escalão do governo, a exemplo de David Grusch. Os autores chegam a comparar a situação a uma narrativa religiosa, que tentaria empurrar a todo custo o conceito de alienígenas ocultos ou seres interdimensionais.

Necessidade de rigor científico nas investigações de UAPs

Para os pesquisadores, o verdadeiro valor do atual escritório responsável pelas investigações de UAPs, o AARO, está na busca pela resolução de relatos de avistamentos com o que há de mais moderno em tecnologia, e não na busca por evidências que sustentem teorias, até agora, meramente conspiratórias. Eles argumentam que o AARO deveria se concentrar em “resolver os relatórios de avistamentos de OVNIs com a mais recente tecnologia e ferramentas” e “mostrar como os OVNIs podem ser rastreados e resolvidos em tempo real usando sensores de alta tecnologia, em vez de depender de depoimentos de testemunhas abaixo do ideal que preenchem estantes de livros e especiais de notícias a cabo”.

----publicidade----

De forma bastante direta, os renomados pesquisadores europeus ressoam e amplificam uma análise já divulgada pelo ex-diretor da AARO, Sean Kirkpatrick, que disse haver um grupo de funcionários de alto escalão dentro do governo que se presta a retroalimentar teorias conspiratórias e mencionam-se uns aos outros — quase sempre os mesmos — como forma de manter acesa uma eterna expectativa em torno de uma narrativa que, em princípio, não pode ser comprovada à luz das provas existentes: a de que os UAP têm qualquer origem não terrestre ou insólita.

Contudo, esse alinhamento dos autores abre espaço para uma ressalva importante que o artigo não menciona. Algumas informações já divulgadas colocam em xeque a lisura a atuação de Kirkpatrick. O Portal Vigília já destacou contradições no discurso de Kirkpatrick. Um exemplo bastante notório ocorreu quando deu informações incorretas sobre sua participação em reunião secreta sobre o Rancho Skinwalker, conhecido por atividades supostamente paranormais. Ou ainda sua falta de iniciativa — e do AARO sob seu comando — em abrir canais seguros para ouvir denunciantes UAP, como David Grusch.

A Ufologia entre a crença e a ciência

Simmari e Ballester Olmos concluem seu artigo alertando para o perigo da “fé ufológica”, onde a crença em extraterrestres e eventos inexplicáveis se sobrepõe à análise crítica e à busca por evidências. Os autores criticam o fato de que “oficiais que abrigam crenças deficientes em evidências em relação a extraterrestres” estejam em cargos de segurança nacional, o que, em suas palavras, “deveria fazer pensar”.

----publicidade----

Apesar de sua postura crítica em relação às narrativas ufológicas sensacionalistas, os autores reconhecem a importância de se estudar o fenômeno OVNI de forma séria e metódica. Eles defendem que a ufologia, embora frequentemente vista como um tema marginal, pode oferecer insights valiosos sobre como as pessoas interpretam o desconhecido.

Para Ballester Olmos e Simmari, o estudo dos OVNIs deve se concentrar em entender “seu significado, em vez de cedê-lo a defensores sensacionalistas que empregam metodologias ruins e promovem histórias quase religiosas e sobrenaturais”. Nesse sentido, tanto o AARO quanto a academia têm um papel fundamental a desempenhar: conduzir investigações rigorosas que permitam compreender as raízes históricas e culturais do fenômeno OVNI, sem alimentar especulações infundadas.

Redação Vigília

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

×