Meteoros rasgam os céus do Brasil: há razões para ficarmos preocupados?

A queda de meteoros no Brasil não chega a ser uma novidade. Desde 1784 quando Bedegó – o maior e mais importante meteoro já descoberto no país, com 5.360 kg – foi descoberto, o país já testemunhou centenas desses corpos celestes errantes rasgando nossos céus.
A maioria dos meteoros e meteoritos se desintegra ao entrar na atmosfera e costuma provocar clarões de luz seguidos por fortes estrondos, alguns se transformam em bolas de fogo e não é raro provocar tremores de terra.
Eles costumam causar susto e perplexidade nos habitantes das áreas onde aparecem, como o que foi registrado em Baturité, cidade a pouco mais de 100 km da capital do Ceará, Fortaleza, no último dia 11/10.
Também causaram espanto o meteoro que explodiu bem acima da Serra Gaúcha, na região de Caxias do Sul (RS), no dia 01/10, o que caiu em Santa Filomena, sertão de Pernambuco, nos primeiros dias de agosto deste ano e o que riscou os céus de Minas e São Paulo também no mês de agosto.
Para o Brazilian Meteor Observation Network (Bramon) apesar de causarem sustos e eventuais prejuízos financeiros de pequeno porte, esses meteoros não tinham potencial destrutivo.
Mas há motivos para ficarmos preocupados?
Meteoro? Não há perigo!
Meteoro (ou meteorito) é o nome que se dá a um meteoroide – formado por fragmentos de asteroides ou cometas ou ainda restos de planetas desintegrados – que alcança a superfície da Terra.
E segundo a Agência Espacial Norte Americana (Nasa), não há meteoros ou asteroides observados capazes de impactar o Brasil e tampouco a Terra num futuro próximo.
Todos os potencialmente perigosos conhecidos, segundo a agência, têm menos de 0,01% de chance de impactar o planeta nos próximos 100 anos.
Isso porque a Nasa detecta, rastreia e caracteriza asteroides e cometas que passam por 30 milhões de milhas da Terra usando telescópios terrestres e espaciais.
Seu programa de observações de objetos próximos à Terra, chamado de “Spaceguard”, descobre esses objetos, caracteriza a natureza física de um subconjunto deles e prevê seus caminhos para determinar se algum deles pode ser potencialmente perigoso para nosso planeta.
Um cinturão de asteroides
Apesar da informação, um mapa divulgado pela própria Nasa mostra uma quantidade bastante considerável de meteoros, meteoritos e asteroides no entorno de Marte e Júpiter, formando um “cinturão”.
Este cinturão segue uma órbita ligeiramente elíptica ao redor do Sol, e move-se na mesma direção dos planetas.
Astrônomos acreditam que se não fosse pela força gravitacional que Júpiter exerce sobre os asteroides do cinturão, os planetas internos seriam constantemente bombardeados por grandes asteroides.
É que, enquanto o Sol puxa os asteroides para dentro do Sistema Solar com sua força gravitacional, a força gravitacional de Júpiter os puxa para fora.
Corpos celestes superdimensionados
Ian Carnelli, gerente de uma nova missão espacial da ESA, chamada Hera, alega que o problema é que, estatisticamente, deve chegar o dia em que a trajetória de um desses corpos celestes superdimensionados cruzará a trajetória do nosso planeta.
“Aconteceu no passado. Portanto, é melhor estarmos preparados”, diz.
“Com base no esforço da ESA, da Nasa e de outras agências para detectar asteroides, sabemos hoje que cerca de 90% dos grandes asteroides com mais de 1 km de diâmetro não devem colidir com a Terra nos próximos séculos”, diz Carnelli.
“Mas mesmo asteroides com dezenas ou centenas de metros de diâmetro causariam uma devastação na escala de um país ou continente, e sobre aqueles asteroides que conhecemos muito menos.”
Milhões de asteroides orbitando
Por exemplo, um asteroide de apenas 50 metros de diâmetro destruiria toda a área metropolitana de Londres, causando uma devastação equivalente a da explosão da bomba atômica de Hiroshima.
Carnelli estima que pode haver milhões desses asteroides menores orbitando no sistema solar, em comparação com as poucas centenas de milhares daqueles com mais de 1 km.
“O problema é que quanto menor o asteroide, menos luz ele reflete e, portanto, menor a probabilidade de ser localizado”, alerta.
“É aqui que se concentram nossos esforços – na detecção de asteroides desse porte – mas também na mitigação, para que possamos evitar, como seres humanos, esse desastre natural”, diz.
Meteoro de Chelyabinsk, Rússia
Para ser capaz de desviar um asteroide, ou mesmo avisar a população sobre um perigo iminente, primeiro é preciso que sejamos capazes de detectar o perigo.
Em fevereiro de 2013, um pequeno asteroide de apenas 18 metros de diâmetro danificou mais de 7.000 edifícios e causou 1.500 feridos na cidade de Chelyabinsk, na Rússia, perto da fronteira com o Cazaquistão.
A rocha espacial, que se desintegrou na atmosfera da Terra, veio praticamente do nada. E hoje, sete anos depois, mesmo um asteroide maior ainda pode atingir a Terra de forma inesperada.
Alan Fitzsimmons, professor de astronomia da Queen’s University Belfast, que coordena a participação britânica no projeto Hera, afirma que Chelyabinsk era bem pequeno e vinha da direção do Sol, então ninguém o previu.
“Se viesse da direção oposta, poderíamos dar um ou dois dias de aviso. Com objetos maiores, mesmo que sua abordagem final seja do Sol, podemos ser capazes de detectá-los mais cedo em sua órbita, quando estão no céu noturno. Mas com pequenos objetos como Chelyabinsk é difícil. ”
Corremos riscos, sim!
Assim que os astrônomos mapearem a órbita do asteroide, eles podem calcular sua trajetória para os próximos 200 anos e saber não apenas se ele atingirá a Terra, mas também onde exatamente.
“Se um asteroide de 50 metros ou maior estivesse em uma trajetória para atingir uma área densamente povoada, uma missão de esvaziamento seria considerada”, afirma Fitzsimmons.
Mas ele admite que os telescópios de hoje ainda não são muito bons para detectar asteroides com menos de 100 metros de diâmetro.
“Ainda podemos ser atingidos hoje ou amanhã por algo do tamanho de Chelyabinsk sem qualquer aviso”, diz ele.
“Na próxima década, no entanto, esperamos que melhores tecnologias e melhores telescópios fiquem online e dê um salto tremendo em nossa capacidade de descobrir e rastrear esses objetos”, finaliza.
FONTE: E&T